Gigantes no cinema, Marvel e DC disputam espaço no crescente mercado da TV
Natalia Engler
Do UOL, em San Diego
Desde que a Marvel iniciou seu universo cinematográfico, as grandes estrelas da Comic-Con de San Diego têm sido, a cada ano, os filmes de super-heróis. Mas nesta edição, que chegou ao fim no domingo (27), um outro grupo de vigilantes conseguiu roubar a atenção de seus colegas da telona: os heróis das séries de TV.
Além de "Agents of S.H.I.E.L.D.", protagonizada pelo agente Coulson (Clark Gregg) e sua equipe na agência secreta que recrutou os heróis de "Os Vingadores", a Marvel também trouxe ao evento seu novo produto televisivo. A série"Agent Carter" é centrada em Peggy Carter (Hayley Atwell), interesse romântico do Capitão América nos anos 1940, antes dele ser congelado por mais de 60 anos.
Por outro lado, a DC contra-atacou com duas novas séries e um retorno: "Arrow", que vai para a terceira temporada, e os lançamentos dos primeiros episódios de "The Flash" e "Gotham".
A TV é o novo cinema
As incursões das duas gigantes dos quadrinhos e do cinema, em formatos televisivos, também vem na onda de um crescimento dos investimentos e da qualidade das séries, que têm orçamentos cada vez maiores, audiências crescentes e elencos dignos de blockbusters.
"Game of Thrones", por exemplo, tem um orçamento estimado em US$ 60 milhões por temporada, equivalente a um filme de médio porte, e teve audiência de quase 70 milhões de pessoas na última temporada apenas na TV americana --sem contar outras mídias e exibições em outros países.
A própria Comic-Con também é um bom demonstrativo da crescente relevância da TV: se antes a Marvel reinava soberana, com os painéis mais disputados do evento, este ano fãs enfrentaram uma fila de 16 horas para ver as apresentações de "The Walking Dead" e "Game of Thrones", séries que também fazem parte do universo dos quadrinhos e da literatura pop, e um painel de "American Horror Story" deixou mais de mil pessoas de fora.
Ainda assim, os filmes da Marvel e da Warner/DC se mantiveram no topo do amor dos fãs, que esperaram 20 horas para ocupar os quase 7.000 lugares do principal espaço da Comic-Con. Mas a vantagem está cada vez menor, e os executivos das duas companhias parecem ter percebido, trazendo também para o evento grandes lançamentos televisivos.
Segredos da Marvel
Se é para pegar carona no sucesso da TV, a Casa de Ideias obviamente vai fazer isso com o "Marvel way" (à maneira da Marvel). Séries de heróis não são novidades --basta lembrar que personagens como Batman, Superman e The Flash já tiveram suas encarnações na TV. O que há de novo nessa onda de seriados baseados em personagens dos quadrinhos é uma vontade de mantê-los interligados com o universo dos heróis também no cinema.
Em seu painel, a Marvel Television deixou clara essa vontade com o anúncio de que Joe e Anthony Russo, diretores de "Capitão América 2: O Soldado Invernal", vão dirigir o segundo e terceiro episódios de "Agent Carter", enquanto Joe Johnson ("Capitão América: O Primeiro Vingador") será responsável pelo quarto capítulo.
A série, que estreia em 2015 nos Estados Unidos, inicia em 1946, pouco depois do desaparecimento de Steve Rodgers, dado como morto, e mostra a agente Carter tentando lidar com a perda enquanto participa da criação do que virá a ser a S.H.I.E.L.D.
Já em "Agents of S.H.I.E.L.D.", cuja segunda temporada estreia em setembro no Brasil, o público pode esperar mais interligações com o universo cinematográfico da Marvel, especialmente depois dos acontecimentos de "Soldado Invernal" (diretamente abordados em um episódio da primeira temporada), que culminaram na destruição da S.H.I.E.L.D., e que, em frangalhos, agora tem o agente Coulson como diretor.
Mais que isso, como é de se esperar, a Marvel não revela. Em entrevista ao site Deadline.com, Jeph Loeb, chefe de TV do estúdio, explicou a necessidade de tanto segredo. "Eu acho incrível o fato de termos tantos fãs que querem saber o que estamos fazendo, mas, da mesma maneira, nós realmente acreditamos que uma das coisas que faz da Marvel tão especial é que contamos histórias que o público não estava esperando, e nada pode ser melhor do que isso".
Com esse espírito, não houve nenhuma palavra sobre as séries que a Marvel anunciou para o Netflix, que incluem produções com personagens como o Demolidor, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage, além de uma minissérie dos Defensores.
Warner/DC
Com um filme que vai unir Batman e Superman programado para 2016 e expectativas de uma produção com a Liga da Justiça, a DC e a Warner ainda não deixaram claro como e se vão unificar seus universos do cinema e da TV.
O que ficou claro com a exibição do piloto de "The Flash", que estreia nos Estados Unidos em outubro, é que o herói vai existir no mesmo universo de "Arrow": depois de ser atingido por um raio criado na explosão de um acelerador de partículas e adquirir seus poderes, Barry Allen (Grant Gustin) faz uma visita a Oliver Queen (Stephen Amell) procurando por conselhos sobre se deve se tornar ou não um vigilante. A resposta do Arqueiro é sim, "e use uma máscara".
Durante o painel das séries da Warner/DC, o produtor Greg Berlanti revelou que o oitavo episódio de "The Flash" terá o título de "Flash vs. Arrow". O primeiro episódio já faz também referências ao universo de outro herói, ao mostrar um jornal do futuro, onde aparece, entre as chamadas menores, a notícia: "Completada a fusão das empresas Wayne/Queen".
Ainda assim, isso ainda não deve ser um sinal de um possível cruzamento com outra nova série: "Gotham", que estreia em setembro, centrada no policial James Gordon (Ben McKenzie) antes de ele se tornar o comissário da cidade e da transformação de Bruce Wayne em Batman.
Ainda que o elenco das três séries tenha subido junto ao palco da Comic-Con, e apesar das três produções focarem nos anos de juventude dos personagens e no surgimento dos heróis, o que poderia sugerir uma contemporaneidade, é pouco provável que Batman venha habitar o mesmo universo do Flash e do Arqueiro antes de sua nova versão cinematográfica ser apresentada ao público.
Se isso já não fosse suficiente, há uma grande diferença de idade entre os heróis no cinema e na TV: lembrem-se que o Bruce Wayne de "Batman v Superman" foi anunciado como um homem de meia-idade, enquanto Flash e o Arqueiro --e mesmo o comissário Gordon-- ainda são muito jovens nas séries que protagonizam. Bruce Wayne, que é apenas coadjuvante em "Gotham", é interpretado por David Mazouz, de 13 anos.
Mais uma vez, a Marvel saiu na frente na criação de um universo televisivo-cinematográfico, e a Warner/DC ainda precisa mostrar a que veio.