Atrizes que interpretam duronas em séries questionam pressão por aparência

Natalia Engler

Do UOL, em San Diego

  • Chris Pizzello/AP, Tonya Wise/AP,

    Maisie Williams ("Game of Thrones"), Tatiana Maslany ("Orphan Black"), Katey Sagal ("Sons of Anarchy"), Natalie Dormer ("Game of Thromes"), Nicole Beharie ("Sleep Hollow") e Sarah Paulson ("American Horror Story")

    Maisie Williams ("Game of Thrones"), Tatiana Maslany ("Orphan Black"), Katey Sagal ("Sons of Anarchy"), Natalie Dormer ("Game of Thromes"), Nicole Beharie ("Sleep Hollow") e Sarah Paulson ("American Horror Story")

O papel da mulheres na indústria do entretenimento e as dificuldades que elas enfrentam foi tema discutido na Comic-Con neste sábado (26) por atrizes de algumas das séries mais populares da TV hoje. Maisie Williams ("Game of Thrones"), Tatiana Maslany ("Orphan Black"), Katey Sagal ("Sons of Anarchy"), Natalie Dormer ("Game of Thromes"), Nicole Beharie ("Sleep Hollow") e Sarah Paulson ("American Horror Story") se reuniram no painel "Women Who Kick Ass" (em português, mulheres que arrebentam).

Em uma indústria predominantemente masculina na frente e por trás das câmeras, em que a representatividade e a maneira como as mulheres são mostradas levanta muitas questões, estas seis mulheres têm em comum o fato de interpretarem mulheres duronas, cada um dentro de suas peculiaridades.

"Meu teste para 'Game of Thrones' foi a cena em que minha personagem oferecia o irmão para Renly Baratheon depois do casamento", conta Natalie Dormer, 32, que interpreta a ardilosa Margaery Tyrell. "Eu tinha visto a primeira temporada e achei que 'Game of Thrones' era uma série que tinha mulheres em papéis fortes e complexos, foi isso que me atraiu", diz ela.

A mais enfática entre as participantes, Natalie também reclamou da falta de variedade nos papéis femininos. "O bom da TV é que eles não sentem a necessidade de diminuir as mulheres. Com todo o respeito, mas os roteiristas homens tendem a achar que as mulheres têm que ser todas putas ou santas. Metade dessa sala é de mulheres, e todas sabemos que é muito mais complexo. E é bom não precisar ser colocada em uma caixinha".

A complexidade dos papéis também foi o que atraiu Tatiana Maslany, 28, para "Orphan Black". "Quando li a primeira cena da primeira temporada, a apresentação de Sarah, achei que seria muito interessante interpretar o lado bandido dela. Ela não tinha nada com o que simpatizar, e achei isso muito excitante".

Tatiana também se disse contente por poder interpretar alguém de sua idade e que é mãe. "Nunca tinha interpretado uma mãe. Sempre interpretei personagens dez anos mais novas. E foi muito bom assumir toda a minha feminilidade e interpretar essa nova gama de emoções", diz a atriz, que também revelou que a próxima temporada da série trará um clone transgênero.

Pressão por aparência

Além da questão da falta de papéis complexos, outro assunto debatido pelas atrizes foi a pressão que existe na indústria em relação à aparência das mulheres.

Sarah Paulson, 39, que já interpretou diferentes papéis em "American Horror Story", contou que ainda nos bastidores comentava com Nicole Beharie as dificuldades que as mulheres enfrentam em relação à imagem. "Estávamos falando sobre ser mulher nessa indústria e estar sempre conscientes da nossa aparência, do tamanho da nossa bunda, e das cobranças por que passamos com a nossa imagem".

Nicole, 29, concorda e conta que foi esse um dos aspectos que a atraiu para o papel da tenente Abbie Mills em "Sleepy Hollow". "Uma das coisas que me atraiu para o papel foi que Abbie não é definida por nenhum homem. E também por ser toda desarrumada. Isso me da a oportunidade de não me preocupar com a minha aparência e realmente focar na atuação".

Entrando na discussão, Natalie concordou que é libertador ter um papel onde a aparência não é importante e mostrou preocupação com a imagem que a mídia passa para as garotas e mulheres mais jovens. "Quando vocês nos vêm bonitas na TV e em fotos, não têm ideia da quantidade de maquiagem e iluminação necessárias, não têm ideia de todo o outro inferno pelo o qual passamos. E quando nos vêm não tão bonitas, é aquilo que somos".

"Não acho saudável as garotas verem essas revistas e se espelharem em mulheres impossíveis. Talvez fosse bom abraçarmos mais o padrão europeu. Veja o cinema francês, é menos preocupado com a simetria, mas sim com luzes e sombras. E Katniss Everdeen [interpretada por Jennifer Lawrence em 'Jogos Vorazes'] é tão popular porque é uma anomalia", acredita Natalie.

"Também queria dizer que tudo bem envelhecer", completou Katey Sagal, 60, que interpreta a matriarca da família disfuncional de "Sons of Anarchy" e ficou conhecida pela mãe da comédia "Married with Children". "Isso é um approach europeu, parece que la é permitido envelhecer", concluiu ela, com ironia.

No caso de Maisie Williams, 17, a Arya Stark de "Game of Thrones", a questão da imagem é exatamente oposta a de Katey: crescer sob os holofotes. "Nós temos que ser telas vazias. E, quando pegamos um papel, temos que nos tornar aquela pessoa. E fazer isso na minha adolescência, quando estou tentando me expressar e me encontrar, e querendo fazer coisas loucas com meu cabelo para me expressar, é muito complicado".

"É difícil não poder fazer nada disso e ainda passar por essas coisas sob os holofotes. Quando coloquei um piercing no nariz, todo mundo começou a dizer que eu não podia, que Arya não tinha um piercing", conta.

Felizmente para a indústria e para as jovens espectadoras, parece que, ao menos na TV, continuaremos vendo mulheres como essas, de diferentes gerações, preocupadas em passar uma imagem positiva e em escolher papéis que mostrem a complexidade das personagens femininas.
 

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