Não foi apenas a passagem de tempo dos personagens que teria que ser feita no seriado "Suburbia" que levou o diretor Luiz Fernando Carvalho a não gravar uma segunda temporada da história. Em conversa com o UOL, na noite desta terça-feira (8), durante o lançamento de sua nova série, "Correio Feminino", Luiz Fernando explicou sua fraqueza para avançar na trama.

"A história era muito próxima da minha história pessoal. A figura da Suburbia (personagem de Conceição, vivida pela atriz Erika Januza) era inspirada numa mãe preta que eu tive durante 25 anos da minha vida. E a segunda parte da história ia contar o final trágico que ela teve. Foi pura incapacidade minha de lidar com um assunto muito próximo de mim e não saber me afastar. Comecei a escrever e vi que não ia conseguir fazer", confessa o diretor.

Segundo Luiz Fernando, a sua mãe preta, Betânia Gomes, morreu aos 60 anos vítima de uma operação para remoção de varizes.

"Foi um acidente comum a todas as classes mais baixas da sociedade quando recorrem ao apoio de emergência de um hospital e acabam ficando por lá mesmo. Ela foi fazer uma operação de varizes, aparentemente boba, e não voltou mais", lamenta.

Mesmo sem dar continuidade à história, Luiz Fernando Carvalho ficou com a certeza de ter cumprido a sua missão na dramaturgia. "Achei que já tinha apresentado com "Suburbia" questões relevantes, como uma dramaturgia para negros, com um elenco formado por atores negros. Ali eu disse o que penso a respeito do modelo de dramaturgia atual, que me parece excludente demais. Não representando a verdadeira face do país, que possui uma multiplicidade racial. Tudo isso já tinha sido colocado em "Suburbia", então, eu me dei por satisfeito nesta questão. Na parte da história, eu preferi que terminasse incompleta mesmo. Achei que já foi muita exposição de minha parte", pondera o sempre discreto diretor.

Em "Suburbia", Conceição é de uma família humilde de Minas Gerais e para escapar da pobreza, ela viaja para o Rio ainda menina e chega a ser presa numa instituição para menores infratores antes de encontrar um abrigo no abraço de Seu Aloysio e uma paixão no sorriso de Cleiton, funcionário de um posto de gasolina vivido por Fabrício Boliveira.