Veja como o noticiário policial contaria o final de "Breaking Bad"
James CiminoGabriel Mestieri
Do UOL, em São Paulo
Foi ao ar neste domingo (29) o episódio final da série "Breaking Bad", que narra a saga do professor de química Walter White pelo submundo do tráfico da metanfetamina no meio-oeste americano. Estrelada por Bryan Cranston, Aaron Paul e Anna Gunn, a série chega a seu fim após cinco temporadas sendo um sucesso de crítica e público e tendo, finalmente, levado o Emmy de melhor série dramática em 2013. No Brasil, a série está disponível até o episodio oito da quinta temporada no Netflix. Na TV paga, a série vai ao ar pelo canal AXN
Os repórteres James Cimino e Gabriel Mestieri, viciados na série, elaboraram o texto abaixo contando os fatos ocorridos no último capítulo sob a forma de reportagem policial. Se você ainda não assistiu ao episódio 16 da 5ª temporada, não leia, pois o texto contém alguns spoilers.
E não estranhe se fatos importantes da história não estiverem relatados, como o destino de Jesse Pinkman (Aaron Paul), por exemplo. O texto foi escrito sob a suposta ótica de um jornalista fictício que chegasse à cena do crime e que contassem apenas com relatos e especulações de policias envolvidos na investigação.
Produtor de metanfetamina mais procurado pelo FBI é encontrado morto
Hélio Molibdênio
Do UOL, em Albuquerque (EUA)
Walter White, o fabricante de metanfetamina mais procurado pelo FBI (a polícia federal norte-americana), foi encontrado morto com um tiro no abdome no que parecia ser seu laboratório de produção da droga localizado no deserto do Novo México, a cerca de 200 km de Albuquerque, cidade onde ele viveu com sua família.
Além de White, foram encontrados outros seis corpos no interior de uma casa, na mesma propriedade, que parecia ser o local de lazer dos funcionários do laboratório. Segundo o FBI, há evidências de que pelo menos cinco deles tenham sido alvejados por uma metralhadora instalada no porta-malas de um carro que estava estacionado em frente ao local. O sexto corpo apresenta sinais de estrangulamento. Os agentes federais acreditam que o equipamento tenha sido elaborado pelo próprio White, para executar uma vingança contra o grupo.
A polícia de Albuquerque também investiga a morte da executiva Lydia Rodarte-Quayle, ocorrida em circunstâncias ainda indefinidas. Há possibilidade de que ela estivesse envolvida com o tráfico da droga produzida por White. Ela chegou a ser investigada pelo agente da DEA, (agência federal antidrogas dos EUA) Hank Schrader, pouco antes de ele ser morto pela quadrilha do cunhado. Outro indício forte da ligação de Lydia com o cartel de Heisenberg, como White era conhecido no submundo do tráfico, é o fato de sua última ligação, na noite de sua morte, ter sido direcionada a um telefone celular encontrado no local da chacina.
Ainda na propriedade onde se encontrava o laboratório, a polícia encontrou uma cela onde aparentemente a quadrilha mantinha alguém como refém. No laboratório também havia correntes e, próximo ao corpo estrangulado, foi encontrado um conjunto de correntes e algemas cujas impressões digitais ainda serão analisadas.
"Eu fiz por mim"
O FBI informou à reportagem que Skyler White, mulher de Walter e mãe de seus dois filhos, procurou o departamento antidrogas para relatar que o marido invadira sua casa poucas horas antes da chacina. Ele entregou a ela um cartão de loteria com coordenadas geográficas que indicam a localização dos corpos do agente Schrader e de seu parceiro Steven Gomez.
De acordo com o depoimento de Skyler, ao qual a reportagem teve acesso, White disse que os dois policiais foram mortos por uma quadrilha de inclinações neonazistas que acabou roubando os cerca de US$ 80 milhões que ele conseguiu acumular durante os dois anos em que esteve envolvido com o tráfico de metanfetamina.
"Ele disse que Hank e Gomez foram enterrados na mesma cova onde ele havia escondido o dinheiro", disse a contadora. A descrição da quadrilha feita pela mulher de White bate com os corpos encontrados na chacina. Alguns deles tinham tatuagens da suástica nazista.
Além de informar o paradeiro do cunhado, White pediu para se despedir da filha, a pequena Holly, e teve uma conversa franca com a mulher. "Ele começou com isso há dois anos, quando descobriu ter um câncer terminal de pulmão. Sempre me dizia que tinha feito isso para deixar um pé de meia para a família, para pagar os estudos dos filhos e a hipoteca da casa. Dessa vez, no entanto, o discurso foi diferente. Eu falei para ele que depois de tudo o que tinha acontecido, da morte do Hank, da decepção que ele causou para nosso filho mais velho, da dor que ele causou em minha irmã, que eu não ia tolerar que ele dissesse novamente que fez isso pela família. Ele então teve um dos poucos momentos de honestidade de que posso me lembrar nos últimos tempos e falou: 'Eu fiz por mim. Eu gostava daquilo. E eu era bom pra c... naquilo'", contou, em lágrimas, a agora viúva do traficante.
Ovos e bacon
Walter White era professor de química em uma escola de ensino médio em Albuquerque quando foi diagnosticado com câncer, poucos dias após seu aniversário de 50 anos. Sua situação econômica na época era péssima e, segundo sua mulher, ele jamais teria podido pagar pelo tratamento que o libertou do câncer meses depois. Skyler White disse ainda que seu marido havia dito que a doença voltara, mas que não sabia se era verdade. A necropsia do corpo do professor de química irá comprovar ou não se ele estava novamente com câncer.
Segundo especialistas do departamento antidrogas, Heisenberg (o codinome era em homenagem ao físico Werner Heisenberg, criador da física quântica) destacou-se como produtor de um tipo de metanfetamina de cor azul cuja pureza chegava a quase 100%. A droga se tornou muito popular na costa oeste americana e chegou a ser exportada para a Europa. Ele morreu no dia em que completou 52 anos e, segundo Skyler, pediu, antes de partir, para comer o prato de ovos com bacon que ela lhe servia nas manhãs de seus aniversários.