A segunda temporada de Boardwalk Empire, a premiada série da HBO criada por Terence Winter e produzida por Martin Scorsese, terminou com um sangrento rito de passagem para seu anti-herói, Nucky Thompson (Steve Buscemi). 

(SPOILER: se você não quer saber detalhes inéditos da trama, não siga adiante)

Ao assassinar, a sangue frio, a pessoa com quem tinha o mais poderoso vínculo emocional, seu protegido Jimmy Darmondy (Michael Pitt), Nucky assumiu plenamente seu lado bandido. A máscara que ele mantinha para si mesmo, do homem astuto que jogava com sua influência para acumular poder e fortuna, caiu completamente.

Na América da lei seca, onde o gangsterismo dominava a demanda cada vez maior pelo produto proibido, a indefinição não era mais possível ser uma figura invisível, um manipulador de fantoches. “Eu tenho uma arma, ele tem uma arma, ele tem outra arma, todo mundo tem armas!”, brada Gyp Rosetti (Bobby Cannavale), o novo candidato a chefão da região de Atlantic City. É um resumo bastante exato do clima desta terceira temporada. 

Rosetti é o responsável pela poderosa e terrível sequencia de abertura de "Resolutions", primeiro capítulo da terceira temporada. Fica absolutamente claro que se trata de um  psicopata com um tremendo complexo de inferioridade, que se considera sempre o alvo das chacotas alheias, mesmo as inexistentes. E reage a toda elas com completa brutalidade.

Dois episódios adiante, Rosetti se estabeleceu com toda tranquilidade no meio do caminho entre Atlantic City e Nova York, controlando o tráfico do precioso uísque contrabandeado por Nucky para Nova York e Filadelfia.  Nucky negocia uma frágil trégua, quebrada rapidamente quando sua tentativa de desejar ao gangster “buona fortuna” transforma-se num bilhete desajeitadamente transcrito por seu capanga como “bone for tuna” (osso para atum). As consequências são medonhas.

Em Atlantic City, o novo ano de 1923 encontra Nucky e Margaret (Kelly McDonald) vivendo um casamento por conveniência. Nucky acabou de descobrir grandes interesses no ambiente do vaudeville, e Margaret foi mordida pela possibilidade da emancipação feminina, inspirada pelos feitos de pioneiras da aviação como Carrie Duncan.

Gillian, mãe de Jimmy (Gretchen Mol) transformou a mansão do falecido Comodoro em um bordel de luxo, e o veterano de guerra Richard Harrow (Jack Huston) é seu fiel cão de guarda; ambos ainda estão convencidos de que Jimmy apenas sumiu da cidade por uns tempos, e aguardam sua volta para qualquer momento.

Quem voltou foi Eli, o irmão pródigo (Shea Whigham), reduzido agora ao posto de capanga do braço direito de Nucky, Owen (Charlie Cox). A medida em que a terceira temporada avança, Owen se torna um personagem cada vez mais complexo. Estaria ele armando um golpe silencioso para derrubar Nucky, assumir controle sobre toda a sua operação, da bebida ao tráfico de influência? No sensacional quarto episódio Blue Bell Boy, um silencioso e terrível jogo de poder ocupa a maior parte da trama, tendo como espoleta um jovem e astuto candidato a gangster.

Em Nova York e Chicago, as gangues  de AL Capone (Stephen Graham), Lucky Luciano (Vicent Piazza), Rothstein (Michael Stuhlbarg) e O’Banion (Arron Shiver) se organizam e estabelecem seus territórios, agora com a introdução de um novo produto, a heroína, enquanto  Van Alden (Michael Shannon), o ex-agente federal caído em desgraça, vende outra novidade – ferros de passar elétricos—de porta a porta.

O universo da série tornou-se maior e mais complicado, incorporando os elementos que formaram a América do século 20 – e gerariam outro grande momento da TV – Familia Soprano,  da qual Winter, não por acaso,  foi roteirista.