Mirla diz que "BBB" estragou sua vida e revela: "Boninho me odiava"
Felipe PinheiroDo UOL, em São Paulo
Há seis anos, a advogada Mirla Prado sonha em apagar da memória do público a sua participação do "Big Brother Brasil", desejo que se intensificou na estreia da segunda temporada do "Tá no Ar", na quinta-feira (12). Emendado ao "BBB15", o programa de Marcelo Adnet e Marcius Melhem que propõe parodiar atrações de TV retratou em tom de chacota o drama de ex-participantes do reality show aficionados pela fama. Em um Top 5, foram destacados ex-BBBs dos quais, segundo a atração, "ninguém se lembra". São eles: Samantha ("BBB3"), Lucival ("BBB11"), Analice ("BBB12), Ralf e Mirla ("BBB9").
Sem ter visto ao "Tá no Ar", Mirla recebeu inúmeras mensagens alertando-a sobre a sua aparição inesperada no humorístico. Depois de conversar com o ex-BBB Ralf, que também desaprovou a brincadeira da qual também foi uma das vítimas, a advogada considera entrar com um processo contra a TV Globo por uso indevido de sua imagem.
"Preciso rever o contrato, mas, pelo que me lembro, só o 'Big Brother' tem o direito da nossa imagem, e não outros programas da Globo. O Ralf está pensando em processar e se eu embarcar nessa também não será pelo programa ['Tá no Ar'], mas por usarem minha imagem sendo que eu não quero aparecer. Não quero mais ser lembrada pelo 'BBB'. Quero levar a minha vida e ser esquecida de uma vez por todas", explica.
Segundo Mirla, a responsabilidade pela lembrança nada honrosa do "Tá no Ar" atende pelo nome de J. B. Oliveira, ou simplesmente Boninho. Ela afirma que o diretor do "BBB" a detesta e por isso não tem dúvida quando diz: "Tem totalmente o dedo do chefe nisso, por causa do desafeto que tivemos".
"Quando sai, vi o estrago que tinha feito na minha vida"
Sem conhecer muito sobre a dinâmica do jogo, Mirla aceitou participar do programa após ser inscrita por um amigo. Com o único objetivo de ganhar o prêmio de R$ 1 milhão, conta ter levado um choque quando pisou na casa instalada no Projac – complexo de estúdios da emissora.
"Não sabia como lidar e agir, por isso foi um choque muito grande quando vi que tudo era muito fake. Eu não podia ser eu mesma, tinha que chorar, fazer um casal e cumprir um script. Existe script? Não existe. Mas é algo que cada participante bola na própria cabeça. Na minha edição tinham muitos personagens e o Boninho me colocou no 'Big Brother' para ser a vilã. Lá dentro matei o jogo e vi quem deveria ser a minha algoz. Na entrevista [para seleção dos participantes], falei que odiava meninas tipo patricinhas, e vi nitidamente que colocaram uma pessoa assim. Mas quebraram a cara porque eu passei a adorá-la", declara.
Mirla diz que ficou introspectiva e não agiu conforme o que se esperava dela: "O 'Big Brother' é muito bom para quem cai nas graças da direção, mas muito ruim para quem se rebela. Me neguei a prestar o papel que era para seu meu e por isso até hoje pago um preço, pois ninguém gosta de ser tachado por aquilo que não é".
"Me arrependo porque cometi o erro de mergulhar em um universo que eu não conhecia. Se conhecesse, e soubesse o que ele [Boninho] poderia fazer comigo, me sacanear por eu ter me fechado no casulo, não agiria como eu agi. Quando sai, vi o estrago que tinha feito na minha vida. Me mostrava sempre calada, uma mosca morta, foi como ele me nomeou", conta.
A advogada se lembra com detalhes de situações nas quais esteve frente a frente com o diretor. Uma delas aconteceu quando Mirla ganhou uma viagem para curtir o Carnaval em Salvador (Bahia), depois de atender o Big Fone: "No jatinho, a cara do Boninho de raiva para mim era muito nítida, aí comecei a perceber que o negócio estava feio", lembra
No confinamento, a ex-sister também teve contato com o diretor. Ela narra que estava muito abalada depois de ficar sem dormir por dois dias em virtude do Castigo do Monstro, quando solicitou ajuda de um psicólogo. "Depois de ver o dia clarear, me chamaram no confessionário e quem veio falar comigo não foi o psicólogo, mas o Boninho. Em vez de me acalmar, me ferrou ainda mais. Ele me odiava e fez questão de me deixar pior", se recorda. Ela diz que apenas não pediu para deixar o programa porque não achava justo perder os direitos que tinha no contrato.
A experiência traumática no "BBB" fez com que Mirla desenvolvesse problemas de saúde, como depressão e síndrome do pânico. Sem almejar a fama, diz ainda ter lidado com o preconceito na profissão por carregar o rótulo de ex-BBB. "Tem gente que vê e acha o máximo, mas há outros que te veem como uma inútil. Isso me incomoda extremamente, pois o que mais me orgulho é de ser uma mulher inteligente. Minha única burrice foi ter entrado no programa", lamenta.
"O que tiro de bom é que descobri o que é a Globo. Ou você se junta a eles ou vão te queimar. Hoje só quero viver a minha vida e não quero mais saber de 'Big Brother'. Todo ano é a mesma coisa, jornalistas me ligam para perguntar sobre o programa e as pessoas comentam. O meu sonho é que um dia o 'Big Brother' acabe", afirma.