Ex-BBBs "abrem o jogo" e revelam o que acontece da hora que são selecionados até o dia da estreia do reality

CARLA NEVES

No Rio

  • André Durão/UOL

    Fernando Mesquita e Natália Castro posam para foto no Rio de Janeiro (22/12/11)

    Fernando Mesquita e Natália Castro posam para foto no Rio de Janeiro (22/12/11)

Exatamente quando e como os candidatos ao "Big Brother Brasil" são avisados que foram selecionados para o reality? Eles são confinados na mesma hora? O que rola no hotel em que eles ficam hospedados esperando a estreia do programa? E a mala, como é feita? Os ex-BBBs Fernando Mesquita, do “BBB 8”, e Natália Castro, do “BBB 11” “abriram o jogo” e contaram ao UOL tudo o que aconteceu com eles desde a hora em que souberam que disputariam o prêmio milionário.

Ao contrário de outros candidatos, como o médico Wesley – um dos finalistas da última edição do “BBB 11” –, tanto Fernando quanto Natália inscreveram-se para conseguir uma vaga na casa através do site do programa. O carioca, de 28 anos, ficou conhecido no “BBB 8” depois que se envolveu com a gaúcha Casassola. Apesar de ter tido diversas discussões de relacionamento, o casal não se desgrudou até o dia em que Fernando foi eliminado, com 62% dos votos. Durante o reality, o carioca também discutiu com o psiquiatra Marcelo, que certa vez o chamou de “pitboy”.

Já a mineira Natália não quis saber de envolvimentos amorosos dentro da casa. Extremamente focada no jogo, a ex-analista criminal mostrou-se uma mulher bem competitiva e venceu a primeira prova de resistência do “BBB 11”. Embora tenha tido uma relação intensa de amizade com a declaradamente homossexual Diana, Natália manteve-se calada e distante das panelinhas. E declarou, quando foi eliminada da casa com 54% dos votos, que sentiu atração mesmo por Cristiano. Desde o início do jogo, ela não escondeu sua antipatia pelo músico Maurício, que, segundo ela, não soube aproveitar a chance que teve ao voltar para o reality.

Leia a entrevista completa a seguir:

UOL – Como e quando vocês sabem que foram escolhidos para entrar no programa?
Fernando – Fiquei sabendo que tinha sido selecionado no dia 1º de janeiro de 2008, quando a produção foi me buscar na minha casa. Antes, eles fizeram uma especulação de que estaria pré-selecionado, me ligaram no dia 20 e pouco de dezembro e falaram: “ó, se você for viajar no Réveillon, deixa o celular ligado 24 horas e não viaja para muito longe, nem para fora do país”. Aí no dia 1º de janeiro, quando foi meio-dia, eu estava bêbado em casa, dormindo [risos], me ligaram e perguntaram: “você tá em casa? A gente vai passar aí para você assinar um contrato”. Só que essa foi uma história que eles arrumaram para ir lá em casa. Quando chegaram, vi duas meninas da produção do programa com mala e tudo. Elas falaram: “faz sua mala que você foi selecionado para entrar no programa”. Aí perguntei: “e o contrato?”. Elas responderam: “isso foi só uma desculpa” [risos]
Natália – Comigo foi um pouco diferente, porque morava nos Estados Unidos. Fiz as seletivas do programa morando lá. Vinha para as seletivas e voltava. Trabalhava na época, enfim, só fiquei sabendo que tinha sido selecionada um pouco antes de ir para o hotel. Eles me disseram que a última etapa da seleção seria um vídeo, que iriam gravar dentro do meu ambiente, na minha casa, com meus amigos. Antes do Réveillon, eles agendaram comigo quando iriam lá em casa. Eles me ligaram no dia 28 ou 29 de dezembro e perguntaram se podia fazer o vídeo na segunda-feira [dia 3]. Passei o Réveillon no Rio e depois fui para Minas, porque minha família é de lá. E lá achei a chave: “você está no Big Brother!”. É um vídeo que todo mundo pode ver na internet até hoje. Depois que encontrei a chave, o pessoal da produção voou junto comigo para o Rio.

UOL – Vocês podem avisar à família que vão entrar no “BBB”?
Fernando– Só meu pai ficou sabendo porque na época só tinha ele dentro de casa. Minha mãe morava em Orlando. Então perguntei para a menina da produção se podia entrar na webcam para falar com ela e contei: “mãe, tô indo para a casa do ‘BBB’” [risos]. Você não pode falar praticamente para ninguém. Você é excluído do mundo meio que instantaneamente. Se sair uma notinha dizendo que você foi escolhido para entrar no programa num jornalzinho de bairro que seja, antes do programa começar você já está eliminado.
Natália– Na hora que eles anunciaram que eu estava no programa, eles tiraram todos os meus meios de comunicação: telefone, notebook. Falei com a minha família, cheguei no Rio, na casa da minha amiga, fiz a mala – já sabia mais ou menos o que levaria porque já estava pré-selecionada – e fui para o hotel. Fiquei uma semana lá.

UOL – O que vocês podem levar na mala?
Fernando – Você pode levar tudo. Vai ter uma triagem. Roupas de marca não entram. Só se fosse um cavalinho da Polo Ralph Lauren, que é imperceptível. Eu, por exemplo, recebi um monte de roupa da produção. Eles tiraram tudo meu, até cueca! Cueca, sunga... [risos]. Eles tiraram e me deram roupas que não têm marca exposta, como Hering. Depois eles devolvem a sua roupa.

André Durão/UOL
Você tem meia hora para arrumar a sua mala. Aí você vai no armário e começa a pegar tudo rápido. Parece gincana do Faustão [risos]

Fernando Mesquita, do "BBB 8"

UOL – Esse processo de sair da casa para ficar confinado no hotel é rápido?
Fernando– Você tem meia hora para arrumar a sua mala. Aí você vai no armário e começa a pegar tudo rápido. Parece gincana do Faustão [risos]. Saí de casa e fui direto para o hotel.
Natália– É muito rápido. É arrumar a mala correndo e ir para o hotel.

UOL – No hotel vocês têm contato com os outros participantes?
Fernando– Zero.
Natália– Nenhum.

UOL – E como é o dia a dia no hotel?
Fernando
– É como se fosse um presídio de luxo [risos]. Sem televisão, sem rádio, sem relógio, sem MP3. Para você já entrar no esquema da casa, já ir ficando maluco [risos]. Fiquei no hotel de 1º a 7 de janeiro. No dia 8 começou o programa. Na minha época, a gente tinha aquela carreata até a casa. No ano seguinte já não teve mais. Então a gente mudava de hotel para a mídia não ficar sabendo das coisas. Mudamos de hotel duas vezes. Ficava no quarto do hotel o dia inteirinho. De manhã, um cara levava uma bandeja com o café. Aí na hora do almoço perguntavam: ‘você quer comer o quê? Peixe, frango ou carne?’. Igual avião, sabe? [risos]. O objetivo é mexer com o seu psicológico.
Natália – Ficar confinado no hotel é a pior parte do programa. Mas eu era muito disciplinada. Não dormia porque sabia que se dormisse durante o dia, não conseguiria dormir à noite. Então acordava com o sol, com o café da manhã. Durante o dia lia um livro, malhava no quarto e depois ia dormir.

UOL – Vocês podem levar quantos livros?
Fernando –
Para o hotel podemos quantos quisermos. Mas para a casa só um. Só levei um para o hotel e me arrependi. No segundo dia já tinha lido tudo. Aí comecei a ler um Novo Testamento que encontrei no quarto. Tomava cinco banhos por dia para passar o tempo. Fazia flexão, abdominal. Ficava cantando igual a um maluco [risos].

Natália – Podemos. A mesma coisa: vários para o hotel e só um para a casa.

Tomava cinco banhos por dia para passar o tempo

Fernando Mesquita, do "BBB 8"

UOL – Existe restrição em relação ao tema dos livros?
Fernando – Só não pode levar livro religioso. Bíblia, por exemplo, não pode.
Natália – Na minha edição pôde. Lembro que levaram dois livros espíritas.

UOL – Vocês têm contato com o Boninho quando estão confinados no hotel?
Fernando – O Boninho e o LP [Luís Paulo Simonetti, o outro diretor] foram uma vez no meu quarto para me explicar como é que funcionava o microfone. Foi um contato muito rápido e bem dinâmico, tipo: “oi? Tudo bom? Esse aqui é o microfone, pá, pá, pá, tchau, beijo”.
Natália – Tinha conhecido o Boninho antes de ir para o hotel, até porque ele participou das entrevistas seletivas. E depois ele foi ao hotel para me apresentar as regras do jogo, me explicou tudo. Porque como é um jogo você precisa saber as regras. Então eles vão lá e explicam como são os grupos, a comida, tudo. É como se você pegasse os tabuleiros e lesse as regras. É isso que eles fazem.

UOL – E quais são essas regras?
Fernando – As regras mais importantes, na minha época, eram as de agressão física. É a única que me lembro mais ou menos. Acho que tinha uma regra também que você não pode falar nada sobre pessoas públicas lá dentro. Na minha edição tinha. Porque deu a maior m***. O pessoal começou a falar demais. E aí não tem prova do que está falando... Coisa de política, tudo é proibido. “Ah, Fulano é gay.” E se o cara não é gay? Você falou do cara... No meu foi sinistro. Na primeira semana, ou no primeiro dia, as meninas começaram a falar do Bial, que achavam ele bonito e tudo mais, aí o Boninho disse: “para de falar!” [risos].
Natália – No meu não tinha isso não. Você podia falar o que quisesse. Ninguém ia te chamar atenção por isso.

UOL – De que valor é a multa que vocês têm que pagar, caso deem entrevista para outras emissoras ou veículos que não são da Globo?
Fernando – A gente não pode falar durante três meses ou um ano, dependendo de cada contrato. Por isso que às vezes acham que a gente é metido, mal-humorado. Por exemplo, quando a Rede TV! e a Record vêm entrevistar, a gente fica mudo. Porque se a gente falar alguma coisa... Nunca ninguém tomou multa, pelo menos que eu saiba. Mas a multa é 1/3 do valor do prêmio.
Natália – Independente se você ganhou ou não [risos].

Já tive oportunidade de entrar no programa 'A Fazenda', da Record, mas não rolou

Fernando Mesquita, do "BBB 8"

UOL – Se existisse a oportunidade, vocês voltariam a participar do “BBB”?
Fernando –
Depende da minha situação de vida no momento. Se eu estiver num momento da minha vida em que as coisas estão acontecendo bem, eu acho que não. Mas se eu estivesse num momento em que, de repente, entrando no programa eu conseguiria ganhar mais dinheiro, talvez sim. Já tive oportunidade de entrar no programa “A Fazenda”, da Record, mas não rolou. E eu também não vou ficar insistindo, sabe? Quando você entra de novo, você já tem a manha do negócio. Eu, como participante e telespectador, vejo que nem sempre ser você mesmo te faz ganhar. Você tem que ter a visão do público, dentro do jogo. Tem que pensar fora da caixa, que foi o que o Dourado fez. Ele via "o quê que o público deve achar disso?”. É politicagem total e estratégia.
Natália – Voltaria. Eu sempre falei que, uma vez dentro de um reality, você sabe as manhas do jogo. Até porque você já se assistiu e sabe o que fez de errado. Você sabe o que pode te levar ou não a ganhar. Então eu tenho uma teoria que todo participante de reality que volta tem muito mais chance de ganhar... E isso é comprovado com todos... Dourado, Monique Evans... Existe só um que não vou falar o nome, que voltou e foi falido, mas acho que é burrice.

UOL – Qual foi o maior erro que vocês cometeram no “BBB”?
Fernando – Eu tenho plena consciência de que eu saí por causa do romance na casa. Posso estar errado, mas pelo que a minha família me falou, eu estava cotado para ser o campeão até a terceira semana do programa. Só que aí eu comecei a me envolver muito no relacionamento –e começou a me dar dor de cabeça para cacete– e me desliguei do jogo. Hoje, se eu entrasse num programa desses de novo, nunca que eu iria me relacionar com ninguém. Você perde o foco.
Natália – Meu erro maior foi não ter criado aliados, não ter falado sobre o jogo. O público brasileiro mudou. Agora ele vê que é um jogo. Na época do Fernando, as pessoas notavam a convivência, o bonzinho e o mauzinho. A coisa que mais lembro de quando fui capturada para entrar na casa foram meus sobrinhos falando: ‘tia, não faz panelinha, não faz panelinha’. Fiquei com aquilo na minha cabeça. Então o quê que aconteceu? Eu joguei sozinha. Hoje, se eu entrasse de novo, a primeira coisa que eu faria seria me juntar em grupinhos. Como a Talula fez e deu muito certo. Ela convencia um de votar no outro. Na época do “BBB” do Fernando isso nunca poderia acontecer, a pessoa seria eliminada na primeira semana. O público brasileiro está mudando, está vendo o programa realmente como um jogo, não mais como uma novela, com o mocinho e o bandido.

André Durão/UOL
Existe só um que não vou falar o nome, que voltou e foi falido, mas acho que é burrice

Natália Castro, do "BBB 11"

UOL – A vida de vocês mudou depois do programa?
Fernando –
Na verdade, eu entrei no “BBB” pelo dinheiro. Trabalhava numa multinacional, eu era gerente de contas da IBM, onde eu tinha uma p*** responsabilidade, mas em termos financeiros não era tão bom. Vi que a minha carreira estava engessada. Em termos de projeção de carreira, para chegar onde eu queria precisaria ter pelo menos uns 15, 20 anos dentro da empresa. Então vi o programa como uma oportunidade. Vai que eu entro? Vai que eu ganho um R$ 1 milhão? R$ 1 milhão não é nada. Você compra um apartamento aqui na Barra [zona oeste do Rio] e acabou o dinheiro, só dá um respiro na sua vida. Ninguém fica rico por causa de R$ 1 milhão. Em termos financeiros, o pós-programa para a mulher é infinitamente melhor. Sai numa revista e ganha R$ 300 mil, mais o ano inteiro fazendo evento já valeu a pena. O homem tem que fazer evento para cacete para conseguir algum dinheiro e rezar para ter evento [risos].
Natália – Minha vida mudou 100%. Sou analista criminal, trabalhava 12 horas por dia com a minha mente e agora trabalho com a minha imagem. Mudou da água para o vinho. Hoje em dia estou tendo oportunidade de fazer o que gosto e o que quero, que é o esporte. Eu vou para o Ironman ano que vem, estou treinando e dedicando 100% do meu tempo a isso. Esse é o meu maior projeto agora. Continuo procurando patrocínio [risos]. Treino de duas a quatro horas por dia. Em janeiro vai aumentar para oito. Ainda faço evento, propaganda, revista. Mas é o que o Fernando falou: para a mulher, o “BBB” é muito melhor. Para mim mudou porque corri atrás e batalhei. Todo mundo acha que vai aparecer na televisão e ficar rico. Mentira! Não é assim.

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