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06/06/2009 - 06h57

"Parece que brasileiros adoram piadas de português", dizem os criadores de Bruno Aleixo

ANTONIO FARINACI
Colaboração para o UOL
Primeiro fenômeno cult da Internet portuguesa a atravessar o Atlântico e conquistar fãs no Brasil, o personagem de animação Bruno Aleixo foi concebido em conversas pela Internet por João Moreira, 29; Pedro Santo, 29, e João Pombeiro, 30, auto-entitulados Guionistas e Argumentistas Não-Alinhados, ou, simplesmente, GANA. Em entrevista ao UOL, o grupo falou sobre a repercussão do personagem e sobre seu inesperado alcance. "Parece que os brasileiros adoram piadas de português", contaram os integrantes do GANA, "e parece que que gostam do sotaque".

Após uma temporada na TV portuguesa, como "apresentador" de um talk show, o personagem ganha agora uma temporada na internet, "Aleixo no Brasil". No programa, a entidade com corpo de "ewok" (monstrinho de "Guerra nas Estrelas" semelhante a um urso) e cara de cachorro vive aventuras no Rio de Janeiro, cidade onde mora sua avó.

  • Helena Fagundes/Blog Viva Lisboa/ http://mtv.uol.com.br/vivalisboa/blog

    João Moreira, Pedro Santo e o João Pombeiro, criadores do GANA

Por e-mail, o grupo falou sobre televisão, humor e contou dos planos para o personagem na nova série. Veja abaixo os melhores momentos dessa entrevista.

UOL - Vocês imaginavam que o programa do Aleixo teria tanto alcance e chegaria ao outro lado do Atlântico? A que vocês atribuem o sucesso dele?

GANA - Nunca imaginamos ser possível. Sempre achamos que o sotaque de Portugal fosse uma barreira intransponível. Mas parece que os brasileiros adoram piadas de português e parece que gostam dos sotaques. Talvez isso tenha ajudado...

Vocês chegaram mesmo a ser interpelados por representantes do George Lucas por ter usado inicialmente um "ewok" como personagem? Foi por isso que a cara do Bruno mudou?

Não, foi imposição do canal de TV. Internet ainda é um bocado terra-de-ninguém, mas na TV a lei não é tão cinzenta assim. Houve receio da parte deles, e nós tivemos que compreender.

Na série mais recente, "Aleixo no Brasil", o Bruno vem para o Rio de Janeiro. Mas esta não é a primeira vez que o Bruno vem ao país. Nos primeiros vídeos dele (da série "Os Conselhos Que Vos Deixo"), Bruno aparece passando uma temporada no Brasil. Afinal, que ligação ele tem por aqui?

Como ele próprio refere num dos episódios do talk show, existe uma vovó Aleixo no Brasil. Há, portanto, uma ala da família brasileira. É natural que ele tenha tios e primos lá. Mas deixamos isso para um dos próximos episódios...

Em episódios anteriores de outras séries, ele foi ameaçado de morte por um ninja. Ele está fugindo?

O Ninja não passa de um capacho, de um mercenário contratado para dar cabo de Aleixo. Está só a fazer o trabalho dele. Quanto ao homem que o contratou, ninguém sabe ao certo que é, nem porque o fez. Aleixo tem muitos inimigos. Pode ter sido qualquer um. Mas Aleixo já percebeu que basta um porta bem trancada para estar protegido desse Ninja. Aleixo foi ao Brasil para tratar de uns assuntos, daqueles que ninguém sabe bem o que são, mas geram sempre dinheiro a curto/médio prazo.

Vocês costumam fazer diversas citações a programas e artistas de TV brasileiros (novelas, Silvio Santos, Fábio Jr etc). O quanto a TV do Brasil faz parte do ideário dos portugueses em geral?

Convém traçar aqui uma fronteira entre novela e o resto. Ao passo que as novelas fazem completamente parte do ideário português, sobretudo da nossa geração e das anteriores (que somos do tempo em que só havia dois canais), os programas não novelescos fazem pouca ou nenhuma parte. Tirando alguns programas humorísticos de relativo sucesso, como Jô Soares e "Sai de Baixo", é muito pouca a TV que chega cá. Fábio Jr é um caso especial por ser ator-cantor romântico, daí que seja referido algumas vezes. Já o Silvio Santos, é por ter 100 anos de carreira e não envelhecer: descobrimos vídeos dele no YouTube, em preto e branco, com a mesma cara que tem agora, a apresentar o "Show do Milhão". Fantástico! A mãe do (João) Moreira, que é brasileira, de São Paulo, veio para Portugal em 1972, e nessa altura ele já era famoso aí.

Há algum programa da TV brasileira de que vocês gostem?

A gente não tem como assistir. Aqui só dá a Record, e é no cabo. Só tem pastores a falar. (Pedro) Santo ainda via o "Debate Bola", com o Milton Santos, mas nunca mais deu.

Quantas pessoas trabalham atualmente na equipe de criação dos programas? É a mesma equipe desde o início?

O núcleo, sim. Somos os mesmo três que fizeram os primeiros vídeos e a maior parte do talk show. Há um grupo vasto de colaboradores esporádicos, que colaboram nas ideias, nas vozes, na música, nos textos, mas não fazem parte da equipa fixa. Desde março, começou a colaborar conosco um animador gaúcho, o Marcelo Barbosa (torce pelo Inter) que conhecemos pelo Orkut. Começou pelos "Plágios Uruguaios", mas deve colaborar em mais séries, tanto na animação como nas ideias.

Como surgiu a idéia de fazer um programa em que vocês simulam plágios de vocês mesmos? (A série "Plágios Uruguaios" é uma "cópia" do "Programa do Aleixo", falada em espanhol, e ambientada num circo)

Ocorreu quando nos passou pela ideia que alguém poderia copiar alguma coisa nossa (ou que nós pudéssemos ter copiado coisas). E pensamos: por que não explorarmos nós mesmos essa possibilidade? Tratamos de modificar o perfil das personagens e os adaptamos a outra realidade. Além disso, (João) Moreira já teve uma banda fajuta de tango e bolero uruguaia. O Uruguai é recorrente na cabeça dele.

Vocês se autodenominam GANA (guionistas e argumentistas não-alinhados). Com o que vocês não se alinham?

Basicamente, a gente não se identificava com nenhuma corrente criativa vigente. Aqui vigorava (e ainda vigora) o humor baseado em atualidades, que se esgota muito depressa, e houve um boom de stand-up comedians. Isso era o que dava dinheiro, mas nós não queríamos ir por aí. Além disso, a gente trabalhava em casa, por conta própria e com muito poucos meios. Acabou por ser um misto de várias razões.

As novas séries produzidas por vocês com o Bruno e o Busto estão sendo veiculadas exclusivamente na Internet. Há planos para uma volta do Bruno à TV?

O contrato que tínhamos com a SIC apenas previa uma temporada de sete episódios. A produção dos episódios de TV, maiores em duração, não permite uma periodicidade semanal, como a dos vídeos pequenos. Planejamos voltar ainda este ano com uma segunda temporada de TV, com mais sete episódios, mas ainda não sabemos ao certo em que canal e em que data isso acontecerá.

Vocês já receberam algum convite de emissora, site ou outro meio de comunicação brasileiro para veicular os programas do Aleixo no Brasil?

Não, mas estamos a trabalhar nesse sentido. (risos)

*****

Quem é o GANA (Guionistas* e Argumentistas Não-Alinhados):

João Pombeiro, 30, é artista plástico e já realizou exposições de seus trabalhos gráficos e em vídeo. Faz a arte e edição dos programas, além de colaborar com os roteiros.

O roteirista Pedro Santo, 29, é sociólogo de formação, já traduziu para o português "All the Words", compilação de scripts do grupo inglês Monty Python. Faz a voz do Busto.

Formado em Artes Plásticas, João Moreira, 29, é locutor, roteirista e ator e já atuou em "O Sonho", de Strindberg. Faz a voz de Bruno Aleixo.

("Guionista" é a palavra usada em Portugal para "roteirista")

Programas que produzem:
"Aleixo no Brasil"
"Aleixo no Hospital"
"Busto no Emprego"
"Plágio Uruguaio"
"El Luchador"
"O Cidadão"
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