'Já estive na situação de Norma', dizem telespectadores

Apesar de muitos telespectadores da novela das 21h da Globo, "Insensato Coração", estarem indignados com o fato de Norma (Glória Pires) ter caído novamente nas graças do vilão Léo (Gabriel Braga Nunes), mulheres entrevistadas pelo UOL dizem entender as razões do “insensato coração” da protagonista da trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares.

O UOL foi às ruas perguntar a opinião das mulheres sobre o fato de Norma ter abandonado sua vingança contra o vilão por amor. Algumas delas dizem já ter passado pela mesma situação da personagem.

Ricardo Linhares, um dos autores da trama, justifica a trajetória de sua protagonista dizendo que ela nunca foi uma heroína vingadora, tampouco uma vilã e que, apesar de tudo, é uma vitoriosa. Além disso, dá pistas sobre a morte do vilão Léo.

UOL - Quando Norma surgiu na trama, havia a impressão de que ela seria uma heroína vingadora que acabaria com o Léo. Agora, que ela caiu no papo do vilão, uma grande parte da audiência a acusa de ter “traído movimento”. O que ocorre com a personagem?

Ricardo Linhares - Em novela, é impossível agradar a todo mundo. A história de Norma e Léo é polêmica e desperta paixões. Não há unanimidade entre os espectadores. A torcida está dividida. Há quem queira que Norma seja punida pelos crimes que cometeu (entre eles, a morte de Teodoro); há quem a perdoe por achar que seu objetivo é nobre, afinal, ela foi presa injustamente por causa de Léo e teria o direito de se vingar; há quem queira que ela mande Léo para a cadeia e encontre um novo amor; há até quem deseje que Léo descubra que está apaixonado de verdade por ela e que o casal tenha final feliz. Outro dia, levei uma bronca no elevador do meu prédio. Uma vizinha me acusou de transformar uma moça tão boa numa vilã. Os vários crimes que Norma cometeu foram esquecidos. Isso costuma acontecer nas novelas. Quando as pessoas se identificam e simpatizam com um personagem, ele pode aprontar as maiores barbaridades que seus deslizes são perdoados. 

UOL – Mesmo Marina sendo a mocinha da trama, a verdadeira protagonista da história parece ser a Norma. Por quê?

Ricardo Linhares - Desde o início, Norma gerou forte identificação no espectador. Era uma mulher comum, vítima de um golpe que poderia acontecer a qualquer pessoa mais carente e vulnerável emocionalmente. Norma nunca foi heroína nem vilã. É uma personagem complexa, que não se enquadra nesses rótulos. Se ela quisesse apenas se vingar de Léo, teria contratado um matador de aluguel para executá-lo, assim que descobriu sua verdadeira identidade. Esta é uma leitura simplista e superficial da vingança. O que complica a situação é que a vingança de Norma envolve paixão. Mesmo que, no início, ela negasse até para si mesma, Norma nunca deixou de ser apaixonada por aquele homem. O que Norma queria era subjugá-lo, ter Léo sob seu poder. Ela alcançou seu objetivo. Destruiu Léo. Além de ainda deter o poder de mandá-lo para a cadeia quando quiser, já que possui provas de seus crimes. Ou seja, Norma é vitoriosa.

UOL – A questão da vingança de Norma foi discutida entre ela e Raul dia desses. Há quem justifique uma vingança como a dela, afinal, foi prejudicada, mesmo passando por cima de outras pessoas. Como você pretende resolver esse conflito moral da personagem, já que, como você mesmo disse, o público se identificou com ela?

Ricardo Linhares -Vingança não é um sentimento nobre. O que Raul disse a Norma é que a vingança equipara a vítima e o algoz. O grande confronto moral da história é entre Norma versus Raul e Pedro. Os dois querem Justiça, que Léo seja preso e pague por seus crimes. Norma quer fazer justiça com as próprias mãos. Acha-se no direito de agir assim, a partir do que sofreu. O argumento de Raul, de que fazer justiça com as próprias mãos torna a vítima igual ao criminoso, calou fundo em Norma. Ela é uma mulher inteligente e sabe que o processo de se vingar despertou um lado sombrio da sua personalidade. Os personagens de telenovela não costumam ter esse tipo de nuança. Norma foge a qualquer estereótipo e maniqueísmo. Quem idealiza Norma como "heroína vingadora" não aceita seu lado sombrio nem que ela seja apaixonada por Léo, depois de todo mal que ele lhe causou. Seria mais simples, ou melhor, mais simplista, mais fácil, fazer com que Norma matasse Léo ou o entregasse para a polícia e fosse viver sua vida. O tipo de conflito psicológico que apresentamos não é típico de novela.

UOL - As vilãs ofuscam as mocinhas. Em geral, o público acha as mocinhas chatas. Com Norma vocês acreditam ter conseguido resolver esse dilema, ao fazer uma heroína com ares de vilã, que embora faça maldades, sejam maldades “justificáveis”?

Ricardo Linhares - Não existe motivação justificável na maldade. Infelizmente, nestes tempos de moral elástica e de falta de ética em que vivemos, para grande parte do público os fins justificam os meios. Mas a novela não pode compactuar com isso. Tem uma importância social enorme. Não pode tratar desvios de conduta ética como algo natural e perdoável. Não pode minimizar o mau-caratismo. No final do folhetim, os personagens positivos têm que ser premiados e os vilões, castigados. Durante a novela, é natural que o público torça pelos vilões. Mas, no final, o espectador sempre quer que o bem vença e que os bandidos sejam punidos. Claro que há uma ou outra exceção, mas, de modo geral, é assim que acontece. Quem quer que Vinícius fique impune? Ou que Cortez viva tranquilamente na Europa com o dinheiro que roubou dos seus clientes? Ou que Eunice continue levando vida dupla, enganando o marido e curtindo seu amante, à tarde? Na outra ponta, quem quer que Pedro e Marina terminem separados ou que Raul fique sozinho?

UOL - Afinal, Norma vai dar um tão esperado golpe fatal no vilão?

Ricardo Linhares - Que golpe fatal no vilão seria esse? Enfiar uma faca no peito de Léo?

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