Direção do "Pânico" avalia permanência do Africano após críticas de racismo
Do UOL, em São Paulo
O programa "Pânico na Band" foi acusado de incitar o racismo no último domingo (9), ao exibir o personagem Africano no quadro "Pânico's Chef", o qual satiriza o programa "MasterChef".
O humorista Eduardo Sterblitch aparece com o rosto pintado de preto e uma malha da mesma cor. Para se comunicar, o intérprete emite sons, apresenta danças características de países da África, além de aparecer bebendo água direto de uma torneira e andando descalço. Os movimentos UneAfro Brasil e RUA - Juventude Anticapitalista criticaram o humorístico.
Procurando pelo UOL, o diretor Alan Rapp afirmou que só se pronunciaria por meio de sua assessoria de imprensa. Diante dos posts negativos, a equipe do humorístico disse que "a permanência do personagem está sendo avaliada pela direção do programa". Em nota, a atração se desculpou:
O 'Africano' é uma das caracterizações presentes no quadro 'Pânico's Chef'. Neste mesmo quadro há caracterizações de mexicanos, chineses, árabes, entre outros.
O Programa Pânico está no ar há 12 anos na televisão brasileira e jamais teve a intenção de ofender seus telespectadores com nenhuma de suas atrações, mas sim, levar entretenimento com seu humor característico. O Programa Pânico pede desculpas ao público que se ofendeu com o personagem.
Para estudante negra, Simone Nascimento, 23 anos, membro do "Rua - Juventude Anticapitalista", o quadro incita o ódio e o racismo, além de satirizar o negro.
"Não é a primeira vez que o 'Pânico' exibe um quadro opressor. Muitos canais já vêm tentando mudar esse tipo de temática. Como, por exemplo, o 'Zorra Total' que reformulou o programa. A religião afro aparece como piada, exibem o personagem com rosas e bebidas preparando um 'prato', trata-se de um 'blackface', já que é um ator branco com o rosto pintado. Além disso, eles promovem uma campanha que incita o ódio. Eles pedem para as pessoas enviarem fotos representando africanos com a hashtag 'o africano'. É puramente racista, principalmente, no momento em que discutimos o assassinato de seis haitianos em São Paulo e a questão da imigração. É um programa fadado ao fim", opina a militante.
O "blackface" é considerado racista, pois representa a proibição de atores negros atuarem no teatro. No século 19, artistas brancos pintavam os rostos com carvão para interpretar papéis de negros de maneira estereotipada. A prática teatral ficou conhecida mundialmente e nacionalmente.
Ronald Rios, ex-repórter do "CQC", também se manifestou contra o personagem em seu perfil no Twitter. No Facebook, o evento "Repúdio ao racismo do personagem 'O Africano' do programa 'Pânico na Band'" reúne até o momento 1700 mil pessoas. A ideia é promover um boicote à atração.
O jornal senegalês "SeneWeb" fez a seguinte pergunta "O Brasil é um país racista?" e exibiu a seguinte resposta na mesma nota com a foto do Sterblitch caracterizado: "Muito racista e negrofóbico".
O Edu já veio tirar satisfação comigo sobre as críticas que faço ao blackface que ele faz há anos na tv. Respondi: "Mas Edu, isso é racismo"
— RONALD RIOS (@ronaldrios) 10 agosto 2015
aprendam uma coisa: racismo não é só "você não pode namorar minha filha" ou "vamos colocar uns capuzes brancos e incendiar casas de negros".
— RONALD RIOS (@ronaldrios) 10 agosto 2015
e eu digo isso com amor e respeito pelos meus amigos do pânico e da jp. devo muito ao emílio, foi um dos (poucos) caras que já me deu a mão.
— RONALD RIOS (@ronaldrios) 10 agosto 2015
mas não é de hoje que o edu já perdeu a linha. aquela paródia do esquenta era racismo puro. era retratar negros como idiotas desdentados.
— RONALD RIOS (@ronaldrios) 10 agosto 2015