Em alta nas novelas globais, favela é protagonista de "I Love Paraisópolis"
Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio
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Zé Paulo Cardeal/TV Globo
Danda (Tatá Werneck) e Mari (Bruna Marquezine) pelas ruas da comunidade em "I Love Paraisópolis"
Nem só de asfalto vivem as novelas brasileiras, que já descobriram que morro acima há muita história para contar. "I Love Paraisópolis", que estreia nesta segunda-feira (11) no horário das sete, é o segundo folhetim global do ano a ter uma comunidade pra chamar de sua: antes veio "Babilônia", e, no fim do ano, chega sua substituta, "A Regra do Jogo" (até recentemente chamada de "Favela Chique"). Mais do que uma coincidência, a sequência de histórias tendo uma favela como cenário é sinal dos tempos, segundo os autores Alcides Nogueira e Mário Teixeira.
"Nossa novela tem todo o caldeirão que forma São Paulo, e acho natural ter uma comunidade. Ignorar isso hoje em dia é ignorar uma parte significativa do estrato social e desconhecer a realidade do nosso país. Essas comunidades são muito presentes. Temos que ficar atentos ao que vem delas e promover essa troca", afirma Nogueira, que já frequentou várias vezes o local. "Tenho um grande amigo que tem um lanchonete lá, já conhecia bem antes de ter pensado na novela", explica.
Nas palavras de Teixeira, a favela, que fica encravada no coração do bairro nobre do Morumbi, foi escolhida, na verdade, por funcionar como um microcosmos do Brasil. "Os dois mundos não se separaram, daqui a pouco não vai haver mais divisão. A grande luta da associação de moradores de Paraisópolis é transformá-la em bairro, com esgoto, luz elétrica. O que existe é integração duas comunidades, que são uma só", afirma.
E é desse microcosmos que saem as protagonistas da trama, Mari (Bruna Marquezine) e Danda (Tatá Werneck), as irmãs de criação que lutam por uma vida melhor, seja ralando como garçonetes ou correndo atrás do sonho em uma viagem um tanto complicada para Nova York.
Palco para o romance
Só o fato de se passar na capital paulista já é um diferencial das outras novelas, garante o diretor de núcleo Wolf Maya. Mas ele vê Paraisópolis como uma espécie de Verona para Shakespeare - é na cidade italiana que se passa "Romeu e Julieta", uma das peças mais famosas do dramaturgo inglês.
No caso, o amor nem tão impossível assim acontece entre Mari e Benjamin (Maurício Destri) um arquiteto comprometido com Margot (Maria Casadevall) no começo da trama. Morador do Morumbi, o rapaz tem um grande projeto: reurbanizar a favela, que é chefiada por Grego (Caio Castro), ex-namorado da jovem.
"Na nossa história, a comunidade perde um pouco o sentido antropológico e ganha sentido dramático. Não vamos discutir comunidade, criticar comportamento, organização social. O meu ponto de vista é o do ser humano e o que esse encontro provoca em todo mundo que está em volta. É a locação pra gente universalizar esse amor", diz.
Se a interação entre Morumbi e Paraisópolis é o que mais importa na ficção, na vida real a novela também promoveu o encontro de dois mundos. Em fevereiro, parte do elenco gravou cenas em São Paulo, em locações como a Rua 25 de Março, além da própria comunidade, durante duas semanas.
No Projac, no Rio, uma cidade cenográfica de dez mil metros quadrados inspirada na favela de verdade abriga cenários como a padaria de Fradique (José Rubens Chachá) e a escola de balé de Isolda (Françoise Forton).
"A padaria é frequentada pelo pessoal do Morumbi, que sabe que o melhor pão fica do outro lado da 'faixa de Gaza'. Isso acontece mesmo. Na trama, a Soraya (Letícia Spiller) quer jogar uma bomba em Paraisópolis, mas todas as pessoas ao redor dela são de lá: a chef de cozinha, a governanta. A Izabelita (Nicette Bruno), que é uma mulher que tem muito dinheiro, passeia pela comunidade como se estivesse no universo dela e chega a ter uma relação de amizade com o Grego. A gente não quer falar de luta de classes, mas ver como elas interagem", conta Nogueira.