Mil e Uma Noites

Dubladores de "Mil e Uma Noites" ganham fãs por tabela e pedidos inusitados

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

  • Montagem UOL/divulgação

    Nestor Chiesse dubla Onur (Halit Ergenç) na novela "Mil e Uma Noites"

    Nestor Chiesse dubla Onur (Halit Ergenç) na novela "Mil e Uma Noites"

Versão turca para o príncipe encantado na visão das telespectadoras mais românticas, o Onur de "Mil e Uma Noites" ganhou um harém de admiradoras Brasil afora. Mas se é com o rosto do ator Halit Ergenç que elas sonham, é pela voz do brasileiro Nestor Chiesse que elas acabam suspirando. Desde a estreia da novela na Band, em março, o dublador viu seu número de seguidores no Twitter subir e recebeu, além de várias solicitações de amizade no Facebook, algumas mensagens bem inusitadas.

"Já me pediram pra mandar áudio pelo WhatsApp, que eu gravasse 'Feliz aniversário' com a voz do Onur. Teve gente até que pediu pra mandar foto pelado! O povo é doido", diverte-se. 

Em quase 20 anos de dublagem, ele conta, este é o trabalho que mais lhe rendeu uma resposta carinhosa do público. "Falam muito da poesia que ele lê para a Sherazade, já sugeriram que eu gravasse um CD de poemas. É engraçado. E cismaram que sou parecido com ele, porque sou careca e tenho barba. Elas piram (risos). Mas é bacana. É legal saber que nosso trabalho também contribui para o sucesso da novela", conta ele, que tem pelo umas 50 fãs que lhe escrevem mensagens constantemente.

Montagem UOL/divulgação
Fernanda Buralla empresta sua voz para Sherazade (Bergüzar Korel)

Fernanda Bullara, que interpreta Sherazade na versão brasileira, também é assediada pelos telespectadores nas redes sociais com pedidos impossíveis de serem cumpridos. "Muita gente escreve: 'Mas ela tem que ficar com ele!', como se eu pudesse mudar a história. E, como eu só tenho Facebook, pedem pro Nestor: 'Fala pra Sherazade fazer um Twitter', porque elas querem me seguir. Mas eu nem tenho tempo direito pra isso", conta ela, que costuma dublar, entre outros trabalhos, novelas transmitidas só na Angola, e agora curte a repercussão local.

Cássia Biceglia, que faz a Bennu, diz que é a primeira vez que sente tamanha empolgação dos fãs com uma novela. "Quando um trabalho vai ao ar, é comum ter mais convites de amizade, mas essa novela tem sido diferente. As pessoas elogiam o trabalho, perguntam o que vai acontecer, torcem para a Bennu ficar com o Kerem, sempre com carinho. Geralmente os trabalhos que mais repercutem são os voltados para o público teen, mangás, desenhos da Disney. Agora eu tenho recebido muitos comentários de adultos, em especial do público feminino", analisa.

Mais reservado nas redes sociais, Alexandre Marconato, que interpreta o antagonista Kerem, conta que mantém um perfil pessoal e uma página para os fãs. No entanto, ele, que dublou a colombiana "Betty, a Feia" - exibida pela RedeTV! em 2002 e fenômeno no Brasil e outros países latinos -, diz que "Mil e Uma Noites" ainda não atingiu o mesmo patamar. "Foi um boom, um achado. Ainda não dá pra comparar, mas esta novela ainda está no começo, a audiência tem crescido. Cada vez mais as pessoas conversam sobre ela", diz.

Assim como os colegas, ele também não escapa das perguntas sobre o que vem por aí na trama. Mas aí vai um aviso: os dubladores também não sabem o desfecho da história, porque gravam as cenas em pequenos blocos, com cerca de cinco capítulos por vez. E geralmente só sabem o que acontece nos núcleos de seus personagens.

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Na versão brasileira, Cássia Biceglia é Bennu (Ceyda Düvenci)

Razões para o sucesso

O fato de a novela estar no horário nobre num canal de TV aberta é um dos fatores que contribuíram para a popularidade da trama, dizem os dubladores. "Ela já veio com o estigma de novela mais assistida do mundo, antes mesmo de estrear. Aqui em São Paulo também tem uma campanha de marketing forte, a gente vê cartazes no metrô. Mas, independentemente disso, faz sucesso pela leveza, tema mais romântico. Além disso, as cenas externas despertam curiosidade", afirma Cássia.
 
Acostumados às novelas latinas, os profissionais (que tem referência de áudio em espanhol) são unânimes ao apontar a sobriedade das atuações turcas, ao contrário das interpretações exageradas dos dramalhões mexicanos. Os nomes diferentes causaram certa estranheza apenas no início, mas em alguns casos pedem atenção especial, para não gerarem trocadilhos involuntários: a pronúncia de Buket, por exemplo, precisa ser feita com cuidado. Além disso, as diferenças culturais, como a formalidade nas relações e a ausência de contatos físicos, chamam a atenção.
 
Montagem UOL/divulgação
Alexandre Marconato interpreta Kerem (Tardu Flordun)
No entanto, os elementos clássicos dos folhetins estão todos lá. Chiesse diz se tratar de um melodrama tradicional, sem nada de inovador. Ele acha curioso, inclusive, que as telespectadoras se esqueçam de que Onur ofereceu dinheiro para passar uma noite com Sherazade no início da novela e enxerguem apenas qualidades nele. "Ele dizia que mulher não vale nada, era quase misógino. Aí veio essa história de que o amor transforma, mas ele é ciumento, machista, possessivo, não deixa a Sherazade respirar", diz.
 
Por ser tão diferente da realidade brasileira, Marconato não acreditava que a atração fosse fazer sucesso. Pelo contrário.  "Eu achava que ia ser um fracasso. Mas é um debate bacana, a gente acaba entendendo que talvez não sejamos tão 'pra frentex' assim, tão moderninhos. É uma novela extremamente careta. Não tem beijo, a cada 20 capítulos tem um selinho, um beijo no rosto ou na testa. É uma coisa de louco, eles só se sentam à mesa depois que o pai senta. Existe uma parcela da sociedade que quer resgatar isso", analisa.

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