Para Graça Lago, premiação foi um ato político: "Bonner não é um artista"
Do UOL, no Rio
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Paulo Belote/Globo
William Bonner se ajoelha para receber o troféu das mãos de Fernanda Montenegro
A filha de Mário Lago voltou a se manifestar a respeito da premiação que a rede Globo faz anualmente e que leva o nome de seu pai. No domingo, ela já tinha se dito "enojada e revoltada" ao ver que o vencedor do Troféu Mário Lago foi o jornalista William Bonner. Nesta quarta (24), ela voltou a usar seu perfil no Facebook para esclarecer alguns pontos.
Graça explica que achava o Troféu Mário Lago, criado em 2002, ano que o ator morreu, uma homenagem bacana. "Nada grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas, principalmente atores... Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso."
De 2002 até 2013, todos os premiados foram artistas. Depois de Laura Cardoso vieram: Paulo José, Glória Menezes, Tarcísio Meira, Tony Ramos, Lima Duarte, Glória Pires, Gilberto Gil, Antônio Fagundes, Hebe Camargo, Regina Duarte, Roberto Carlos e Fernanda Montenegro.
William Bonner, âncora e editor-chefe do "Jornal Nacional" foi o primeiro jornalista a levar o troféu. "Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e instrumentalizado (como quer o Bonner) para fazer da premiação um ato político, de defesa das orientações facciosas da Globo e de seu principal (embora decadente) telejornal. Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo," escreveu Graça referindo-se à cobertura do telejornal durante o período eleitoral.
Ao criticar, ela deixa claro que tem 50 de militância política e 46 de jornalismo. "Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. A começar, o Bonner não é um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os fatos", cutuca, ao mencionar as entrevistas feitas com os presidenciáveis no "Jornal Nacional".
"Ouvir o Bonner criticar as redes sociais revirou o meu estômago. Ouvir o Bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia. Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger com a respeitabilidade e memória de Mário Lago o que não tem respeito, nem nunca terá. Se a intenção foi política, politicamente me manifestei."
Ao final, Graça Lago lembra que seu pai, homem de esquerda, sempre teve o respeito e a admiração de Roberto Marinho. "No final dos anos 60, o Exército informou à Globo que queria papai como apresentador das Olimpíadas do Exército. Seria uma maneira de humilhá-lo, de jogar no lixo a sua biografia. Roberto Marinho recusou o pedido, justificando da seguinte forma: 'se o Mário recusar, terei que demiti-lo; se o Mário aceitar, perderei o respeito por ele'. Meio século depois, a Globo tentou jogar no lixo a biografia do meu pai."
Morto aos 90 anos, em 2002, o ator e poeta Mário Lago defendia idéias comunistas e era militante político, o que levou sete vezes à prisão. Ele foi casado com Zeli, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, e teve cinco filhos. Em 1989 filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e em 1998 participou como âncora dos programas eleitorais Lula à presidência da República.
O UOL procurou a Rede Globo para saber porque este ano o prêmio foi dado a um jornalista, em vez de um artista, se houve alguma mudança recente no critério de escolha e quem elege os vencedores. A Comunicação da emissora disse que "desde a primeira edição a equipe do 'Domingão do Faustão' escolhe uma personalidade que se destacou pelo conjunto da obra e pela trajetória profissional, e que não houve mudança" no critério.