Com cenas gravadas no Rio, terceiro ano de "Lilyhammer" estreia na Netflix

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

As estradas constantemente cobertas de neve da Noruega continuam lá, mas vão dividir espaço com as ladeiras de Santa Teresa na terceira temporada de "Lilyhammer", que estreia nesta sexta-feira (21) na Netflix. As cenas gravadas no Rio de Janeiro e com atores brasileiros prometem fazer subir a temperatura da série protagonizada por Steven Van Zandt, que interpreta o mafioso ítalo-americano Frank Tagliano, escondido na cidadezinha de Lillehammer sob o codinome Johnny Henriksen, graças ao programa de proteção à testemunha.

Um dos roteiristas e produtores da atração, o ator explica que a decisão de trazer os personagens para os trópicos foi feita em conjunto com os dois criadores, Anne Bjørnstad & Eilif Skodvin. "Somos uma série internacional, ocupamos essa posição única e estranha, e a ideia é tentar expandir sempre. Achamos que seria divertido ter uma aventura no Brasil, queríamos criar diferentes texturas, uma outra dinâmica, e funcionou muito bem. Espero poder fazer isso novamente, foi uma experiência ótima", afirma ele, durante teleconferência com jornalistas da América Latina.

Na trama, Roar (Steinar Sagen), motorista e um dos capangas de Frank, vem ao Brasil atrás de uma namorada que conheceu pela internet, Alex (Maria Joana Chiapetta). Mas a viagem romântica se complica quando ele cai de paraquedas numa armação do irmão dela, que é traficante de drogas. Assim, o norueguês vai conhecer o lado menos turístico do Rio e vai parar na prisão. Para resolver a situação, o gângster cruza o Atlântico com Torgeir (Trond Fausa), seu fiel escudeiro, a tiracolo e chama a atenção da economista, que se envolve com o criminoso por interesse, mas acaba se apaixonando.  

A respeito das cenas que retratam a violência carioca, Steven não teme uma possível polêmica. "Não acho que vá gerar controvérsia, não há muita violência. Tem uma cena de perseguição pela polícia, o Roar se envolve numa briga no presídio, mas nada muito grande", contemporiza o ator, que elogia a equipe brasileira. "Filmar no Rio não foi diferente de filmar em outros lugares, todos são muito profissionais, eles estão acostumados. Não tivemos problema, e as atrizes foram fantásticas", afirma.

No ar como a Nat de "Malhação", a brasileira Maria Joana conta que os estrangeiros são mais reservados, mas se sentiu à vontade. "Fui tão bem tratada que brincava que estavam me acostumando mal. Quando estávamos terminando as filmagens lá em Lillehammer,  o Steven convidou toda a equipe para um jantar e foi delicioso.  Conheci um pouco mais sobre eles e fiz grandes amigos", conta a atriz, feliz por atuar em inglês e conhecer também a Noruega.  

Já a baiana Ildi Silva tirou de letra seu papel na série: uma atriz de novela brasileira! A trama de época, que gira em torno de um romance proibido, ganhou ares de comédia nos bastidores quando o norueguês Roar se torna um dos nomes do elenco. "A novela tem algumas cenas com falas em português, então a gente tentava ensinar a sonoridade das palavras para o Steiner, foi muito divertido. Tinha umas palavras como cafajeste, que ele tinha mais dificuldade", conta a atriz, que gravou em Petrópolis. "Acho que essa disparidade de climas mexeu com o humor deles, estavam todos muito felizes, ninguém achava ruim o calor", lembra ela, que há quatro meses mora em Nova York atrás de uma carreira internacional.
 
Divulgação
Bruce Springsteen faz sua estreia como ator na pele do agente funerário Giuseppe

Participação de Bruce Springsteen

Antes das gravações no Rio, em março, Van Zandt já havia visitado o país na turnê como guitarrista da E Street Band, banda que acompanha Bruce Springsteen, em 2013. Mas pelo visto ele não se cansa de visitar estas terras. "Talvez eu tire férias no Brasil", brinca ele, ao comentar sobre seus planos para o próximo ano. Ainda sem saber se a série terá uma quarta temporada e se vai cair na estrada com sua banda novamente, ele faz graça ao dizer que está "desempregado".

Mas não é bem assim: atualmente ele produz o novo álbum da cantora Darlene Love e planeja lançar um CD com a trilha sonora de "Lilyhammer", da qual ele também é compositor. O samba que abre o primeiro episódio foi feito por ele e gravado com percussionistas da Mocidade Independente de Padre Miguel e da Estação Primeira de Mangueira. "Na série, as músicas são sempre pano de fundo, você ouve dez segundos aqui e ali. Quero lançar o disco para que as pessoas possam ouvir tudo. Vai ter samba, um toque de salsa cubana, sons que se ouve na rua. Acho que vai oferecer um gosto diferente do Brasil", declara.

A terceira temporada da atração marca a estreia de Van Zandt como diretor no último episódio, com direito a convidado especialíssimo: Bruce Springsteen, na pele do agente funerário Giuseppe Tagliano, irmão do meio de Frank. "Falamos disso há muitos anos, desde a época de 'Sopranos', que ele faria meu irmão italiano. Ele se saiu muito bem! É um papel pequeno, mas muito significante para a história. Bruce sempre fez aparições como ele mesmo em alguns programas, mas nunca havia interpretado. Fiquei muito orgulhoso de dirigir o primeiro trabalho dele como ator", afirma.

Sempre lembrado pelos fãs de "Sopranos" como o também mafioso Silvio Dante, conselheiro de Tony Soprano (James Gandolfini), o ator diz que repetir a "função" em outra série não foi uma preocupação. "A ideia de 'Lilyhammer' é fantástica, e quando você ouve uma boa ideia nesse ramo, é bom reconhecê-la. Estou fazendo um gângster depois de interpretar outro por dez anos, mas as circunstâncias são bem diferentes. Hoje o importante para mim é encontrar um bom papel. Se as pessoas acharem que eu só consigo fazer uma coisa, tudo bem. Não me importo tanto com isso", afirma o ator, bem-humorado. 

Atuando numa série que abriu as portas para produções originais da Netflix, como as bem-sucedidas "House of Cards" e "Orange is the New Black", Van Zandt se orgulha de ter participado de dois marcos na dramaturgia americana. "Fico feliz de participar dessa chamada era de ouro da TV com 'Sopranos', no início, e agora com a Netflix, em outro estágio. Acho que o futuro da televisão é ser cada vez mais internacional. E é bom contar histórias com conteúdo adulto, com personagens e histórias mais complexos, com mais tons de cinza, em vez de branco e preto", analisa.

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