Para chefs, pressão do "Masterchef" não se compara com realidade da cozinha

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

Um reality show que avalia apenas comidas e um trio divertido e sarcástico de jurados dão tom à edição brasileira do "MasterChef", que vem chamando a atenção desde sua estreia na Band por conta do modo pouco amistoso com que os jurados avaliam os pratos dos candidatos. O brasileiro Henrique Fogaça (Sal Gastronomia), o francês Erick Jacquin (Tartar&Co) e a argentina Paola Carosella (Arturito) têm como missão avaliar e criticar cada prato, além de fazer os aspirantes a cozinheiros merecerem o prêmio que inclui R$ 150 mil, um carro e uma bolsa de estudos de três meses na Le Cordon Bleu, renomada escola de gastronomia de Paris, na França.

Em conversa com o UOL, Paola defendeu sua postura no programa e afirmou que sua missão é formar um chef de cozinha gabaritado. "Em nenhum momento fui grosseira. Poderia convidar quem acha que somos grosseiros a entrar em uma cozinha na França, em Londres e poderíamos ver quem destrata e quem não destrata. Além de um excelente cozinheiro, é preciso ser rápido, higiênico. A pressão do programa é igual no dia a dia da cozinha. Não interpreto nenhum personagem, sou assim, crítica", afirmou.

Reinaldo Canato/UOL
"Ninguém foca em um prato simples e bem feito. Poderia ser uma batata fervida, mas bem feita. Aliás, isso seria genial. Muitos estão focados em surpreender com ideias mirabolantes e esquecem-se da técnica e da qualidade dos ingredientes", critica Paola

Em uma enquete realizada pelo UOL, 58,15% dos internautas consideraram os comentários feitos pelos técnicos como rudes. Já para Fogaça, a rispidez faz parte do critério e não é aumentada pelo fato dos cozinheiros estarem participando de um programa na televisão.

"Nós três [jurados] sabemos que é um programa de amadores, mas quem ganhar vai ganhar porque realmente merece. Não podemos premiar alguém mais ou menos. A pressão que os participantes recebem no programa não é nada se comparada ao nosso dia a dia. Por isso, não acho que tenha sido injusto e nem que tenha exagerado com ninguém. É fundamental termos um critério definido".

Por trás das câmeras

A reportagem acompanhou os bastidores da atração e pôde ver que antes do preparo de cada prato, os cozinheiros recebem 'aulas' dos chefs - no dia em questão, eles aprenderam técnicas de carne com Paola - e a todo o momento são questionados sobre o que estão fazendo. A argentina costuma ser a mais ativa neste quesito. Ela pergunta sobre a escolha dos produtos, dá palpites, alerta sobre o desperdício de alimentos, questiona a qualidade da água usada, se é potável ou da torneira. A maioria dos comentários sobre os pratos acontece na frente de cada participante. Além das competições, os aspirantes também têm cursos específicos com consultores gastronômicos. 

Reinaldo Canato/UOL
"A pressão que os participantes recebem no programa não é nada se comparada ao nosso dia a dia. Por isso, não acho que tenha sido injusto e nem que tenha exagerado com ninguém", afirma Fogaça

Questionados se a agilidade e a competitividade definem um bom cozinheiro, Henrique chamou atenção para o clima de um restaurante, muitas vezes deixado de lado pelo telespectador de reality ou esquecido.  "Tempo é fundamental na cozinha, não posso deixar um cliente esperando, sendo que muitas vezes ele só tem 1 hora para almoçar. Nós levamos em conta a qualidade, não a velocidade. Claro, se uma pessoa faz um prato com a metade do tempo e a mesma qualidade que uma outra, é justo que ela deva ser premiada por isso", completou Henrique sobre sua avaliação na competição.

Outro ponto levantado por Paola são as inovações dos candidatos dentro da cozinha. "Ninguém foca em um prato simples e bem feito. Poderia ser uma batata fervida, mas bem feita. Aliás, isso seria genial. Muitos estão focados em surpreender com ideias mirabolantes e esquecem-se da técnica e da qualidade dos ingredientes", criticou a argentina.

Fora dos estúdios, os participantes lamentam, comemoram, procuram receitas na internet e também reclamam de algumas notas publicadas na imprensa. A produtora executiva Elisa Fernandes, de 24 anos, por exemplo, não gostou de ler em um blog que é do tipo bonita, mas que não inspira confiança. "Sou confiável sim", disse ela. Tentamos falar com a engenheira química Helena Manosso, uma das que mais se saiu mal na prova do dia, mas ela se recusou - "Não posso te dar meu número, fale com a produção".

Para os jurados, a experiência no "Masterchef" tem sido como uma extensão de suas vidas profissionais, além de poderem exercitar um lado mais criterioso. "Sou na TV quem sou no meu restaurante. Não preciso encenar, não preciso inventar nada. Isso me deu tranquilidade para aceitar o desafio. Desenvolvi meu senso crítico e também o de justiça. De forma alguma posso pender um pouco mais para esse ou para aquele participante", contou Fogaça.

"Tinha certo preconceito com o 'Masterchef' porque muita coisa que aparece faz parte de uma realidade de TV [por exemplo, a exposição do lado mai humano dos candidatos]. Mas vi que muitas outras fazem parte da nossa realidade. O mais interessante para mim é a linguagem culinária, poder falar para um grupo maior de pessoas sobre a importância de cozinhar e comer, mostrar o valor do cozinheiro", contou Paola, responsável por formar 90% dos seus cozinheiros. "Muitos que trabalham comigo começaram lavando pratos". 

Por conta da repercussão e do retorno comercial positivo, o programa que está exibindo o quarto episódio [em um total de 17] terá uma segunda temporada na Band. A informação foi divulgada pelo colunista do UOL, Flávio Ricco.

Até o fechamento desta matéria, a reportagem não tinha conseguido falar com o chef Erick Jacquin.


"Masterchef" 

Quando: Terça-feira, às 22h45

Onde: Band

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