Ator de tipos populares, Flávio Migliaccio diz não se ver de smoking na TV

Mariane Zendron

Do UOL, em Gramado (RS)

  • Divulgação/Edison Vara/PressPhoto

    Flávio Migliaccio se emociona ao ser homenageado no Festival de Gramado

    Flávio Migliaccio se emociona ao ser homenageado no Festival de Gramado

Flávio Migliaccio foi o Vitinho em "A Próxima Vítima", Seu Moreira em "Rainha da Sucata" e agora pode ser visto semanalmente como Seu Chalita no seriado "Tapas e Beijos", todos queridos pelo público e personagens da televisão. Na noite desta terça-feira (12), no entanto, o ator foi homenageado no Festival de Gramado, um dos mais importantes eventos de cinema do país, onde também foi lembrado pelos seus mais de 20 trabalhos nas telonas.

O ator – que completa 80 anos no próximo dia 26 – foi recebido no Palácio dos Festivais por vários fotógrafos, que o acompanharam por todo o tapete vermelho. Já dentro do Palácio, recebeu o troféu Oscarito pelo conjunto da obra, das mãos de Nelson Xavier. Migliaccio não é fã de muita pompa. "Não gosto desse endeusamento do artista. A profissão de ator é a mesma coisa de um pedreiro, de um marceneiro", disse ao UOL, nesta quarta (13).  Por isso, subir ao palco e receber tanta atenção não foi das tarefas mais fáceis para o ator que já tem mais de 60 anos de carreira. Mesmo assim, ele se surpreendeu com a homenagem. "Não esperava que fosse tão bonito".

Durante a homenagem, Nelson Xavier salientou a importância de Migliaccio na criação de um novo estilo de interpretação, em seu trabalho no Teatro Arena, no final dos anos 1950. À reportagem, Flávio contou que na época, as artes cênicas e plásticas e até a arquitetura procuravam o homem brasileiro, que se escondia sob a forte influência dos Estados Unidos na música e na interpretação.

O paulistano do Brás, criado no Tucuruvi, começou a atuar em um grupo da igreja, meio na brincadeira. "Minha mãe teve 17 filhos, então, para driblar a fome, a gente procurava se divertir. Meu pai animava muito a gente, mesmo na hora que só tinha banana para comer", contou ele.

Divulgação/Globo Vou lá na contrarregra e procuro uma roupa que combine comigo. Sou bastante criticado por isso. Alguns diretores acham que eu me intrometo demais. Flávio Micliaccio, ao dizer que gosta de criar seu próprio figurino

Sem saber nada de teatro ou cinema, o ator começou a levar para aos palcos o jeito divertido de sua família com ascendência italiana, marca pela qual é conhecido até hoje. "Enquanto meus colegas iam assistir aos filmes cabeça da época, como Antonioni, Godard, eu ia ver Totó (ator cômico italiano), Oscarito, Mazzaropi. Eu me identificava muito mais com estes artistas populares."

Estes tipos populares são interpretados por Migliaccio até hoje. "Você já me imaginou de smoking numa festa grã-fina, contracenando com a Torloni? Fica meio estranho", diz ele, bem ao estilo Tio Vitinho. O figurino, com ternos amarrotados, suspensórios e cabelo despenteado, muitas vezes é criado por ele mesmo. "Vou lá na contrarregra e procuro uma roupa que combine comigo. Sou bastante criticado por isso. Alguns diretores acham que eu me intrometo demais. Estou tentando evitar esse tipo de coisa."

Tanta intromissão não é para ficar a cara do personagem e, sim, para deixar o personagem a cara dele. "Tem ator que se transforma no personagem e tem personagem que se transforma no ator. O meu é o segundo caso. Eu não tenho esse talento de me transformar em um personagem, então faço com que o personagem se aproxime de mim". Ele diz ainda que essa é a maneira que encontrou de "se safar" na carreira artística. O que o personagem traz de bom fica com Migliaccio, o resto ele descarta.

Depois da homenagem, o ator voltará para o sítio onde mora, em Rio Bonito, a 50 quilômetros da capital fluminense. Lá, ele se sente bem, em contato com a natureza, longe dos holofotes e com o lado bom de seus personagens populares.

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