Geração Brasil

Ator que vive Dorothy de "Geração Brasil" diz que mercado é pior para negro

Carla Neves

Do UOL, no Rio

  • Divulgação/TV Globo

    Na trama, Dorothy é mãe do guru pop Brian, interpretado por Lázaro Ramos

    Na trama, Dorothy é mãe do guru pop Brian, interpretado por Lázaro Ramos

Aos 44 anos de idade e 30 de carreira, Luis Miranda vive um momento especial. Pela primeira vez, o ator integra o elenco de uma novela como o transgênero Dorothy Benson, mãe do guru pop Brian (Lázaro Ramos)  de "Geração Brasil". Conhecido por seu intenso trabalho no teatro e no cinema, ele explicou por que demorou tanto para atuar em folhetins.

"O ator negro tem pouco mercado. Ou é famoso e tem um papel legal ou está sempre fazendo o papel do entregador de pizza. Os convites que tinham me feito antes eram muito ruins. Nunca tinha aparecido um convite bacana. Você pode ser bom ator em filme, mas a panela televisiva é muito difícil de penetrar", contou ao UOL.

Luis disse que além de o convite ser interessante, o que também contou foi o fato de Filipe Miguez [autor da trama ao lado de Izabel de Oliveira] ter escrito Dorothy inspirado na milionária Sheila, personagem que interpreta no espetáculo "Terça Insana".

"A Sheila é uma madame viciada em coisas geneticamente modificadas, que já tem aquele perfil de mulher rica e que é um sucesso no mundo inteiro, não só no Brasil. Junto a isso, tinha o desejo do Filipe de me ver trabalhando com o Lázaro Ramos. Ele já escreveu o personagem com esse fim", afirmou.

Veja abaixo a personagem Sheila no espetáculo "Terça Insana":


Para encarnar a personagem, que é fina e elegante, o ator se inspirou na classe de mulheres como a atriz Fernanda Montenegro e a primeira dama norte-americana Michelle Obama.

"Pensei na Fernanda Montenegro no dia em que fui fazer a prova de figurino com a Gogoia Sampaio [figurinista] e ela me contou que a Dorothy usaria tudo o que a Fernanda Montenegro usou em 'Belíssima', quando interpretava a milionária Bia Falcão. Falei: 'nossa!'. E comecei a pensar no comportamento das grandes damas. São mulheres educadas, mas que também dão chilique. Por isso criei a Sheila, que é  um pouco o perfil da minha relação com a riqueza. Você pode ser rico, milionário e falar que frequenta lugares chiques, mas quando você bebe, você sempre desce para o samba", contou, aos risos.

Reprodução/Divulgação/Montagem
Em "Geração Brasil", Dorothy Benson, de Luis Miranda (à esq.), tem figurino tão elegante quanto o de Bia Falcão (Fernanda Montenegro) em "Belíssima"

Luis argumentou que os ricos também "perdem a linha" quando bebem demais. "Você sempre vai sair da valsa para o samba. Quando bebe a mais, já dá uma risada um pouco mais alta. Porque, na verdade, a educação, a finesse só serve para impressionar os outros. Na real, ninguém fica em casa fazendo biquinho nem dizendo bonjour. Essa é a grande real", opinou.

Já a referência à Michelle Obama tem a ver com a sofisticação da primeira dama dos Estados Unidos. "A gente queria uma referência de mulher sofisticada, inteligente e elegante, mas sem exageros. A gente não queria a Catherine Deneuve, não queria se inspirar em outras mulheres mais espalhafatosas. A gente queria o comportamento ético de uma primeira dama. Porque a Dorothy só funcionaria se fosse nesse estilo", explicou.

O ator contou que nos primeiros dias de gravação da trama, na Califórnia, recebeu um conselho de Denise Saraceni, diretora de núcleo da novela, que foi fundamental na composição da personagem. "A gente conversou e ela falou: 'Luís, a perna tem que estar sempre fechada'. Aquilo ali foi um ponto de partida muito grande. A questão da perna fechada é a questão da mulher elegante, do sexo da mulher que é diferente. Tive que começar descobrindo que esse homem que quer ser mulher se pensa com o sexo feminino. Então se pensa com comportamento feminino, se pensa mulher. Eu faço a Dorothy não para ser um transgênero. Eu faço uma mulher", afirmou.

Reprodução Descobrimos que a mulher sofisticada hoje não tem mais unha de Alcione Luis Miranda, que não usa unhas postiças

Outro ponto positivo, segundo Luis, foi a caracterização do transgênero. O ator disse que leva aproximadamente uma hora e meia para se maquiar e colocar a peruca, que foi feita sob medida para ele. "A peruca é perfeita, é muito bem colada. Também tem os cílios e a maquiagem, que é extremamente discreta. Deixei minhas unhas crescerem um pouco mais porque a gente descobriu que não queria usar porcelana. Descobrimos que a mulher sofisticada hoje não tem mais unha de Alcione (risos). Hoje a mulher sofisticada tem unha curta, quadrada. A mulher sofisticada hoje busca mais discrição. Essa coisa da mulher espalhafatosa está muito ligada à juventude, a essas BBB's, essas artistas emergentes. Mulher sofisticada usa roupa clássica", explicou.

De Dorival a Dorothy
Luis contou que Dorothy nasceu Dorival, foi para os Estados Unidos e se casou com a jogadora de basquete Wilhemina Benson, com quem teve Brian. Após o nascimento do filho, marido e mulher trocaram de sexo. "Brian é filho legítimo. O grande sonho da Dorothy é ver o filho casado e ter netos. Só que o Brian a culpa pela superproteção e pelo mimo e ao mesmo tempo tem um bloqueio porque todas as vezes que está partindo para o sexo com uma mulher, vê a figura da mãe.  A Dorothy tem medo que o filho seja gay. Ela não quer isso para ele. Ela quer ter uma família normal, é conservadora", disse.

O ator contou que está muito feliz com a repercussão do personagem com o público, que o reconhece "de norte a sul do país". "As donas de casa e mulheres mais maduras, que poderiam ser mais conservadoras, estão encantadas com um ator mulher. Quando me veem falam: 'é uma mulher, é impressionante o que esse menino faz'. Estou muito feliz com esse resultado. As pessoas estão se empolgando com a história", disse, acrescentando que o sucesso do papel não é só mérito dele. "Estou cercado de atores ótimos e de uma trama muito bacana. O entorno possibilita muito o sucesso da Dorothy".

Cenas de "Geração Brasil"
Cenas de "Geração Brasil"

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