Bastidores de "Amores Roubados" têm vinho, forró e boatos sobre romance
Carlos Minuano
Do UOL, de Juazeiro (BA)
Manga, vinho e forró da melhor qualidade embalaram a minissérie da Globo "Amores Roubados", sobretudo em seus bastidores. A trama gravada no sertão nordestino, que termina nesta sexta (17), conseguiu elevar ainda mais a temperatura do lugar. Foram três meses de filmagens, a maior parte das locações aconteceram nas cidades de Juazeiro e Paulo Afonso (Bahia) e em Petrolina (PE), envolvendo centenas de figurantes locais.
O arrasta-pé ficou a cargo do sanfoneiro pernambucano Targino Gondim. Além de atuar na trama tocando sanfona, o músico dirigiu as crianças da orquestra musical de Isabel, personagem de Patrícia Pillar. "A criançada ficou muito feliz com o convívio com os atores e queriam tocar o tempo todo", diz.
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Cena da noite do forró entre Leandro e Antonia em "Amores Roubados"
A valorização da cultura local é um dos aspectos da minissérie mais festejados na região. "Mostra a força das expressões nordestinas", comenta o músico Targino Gondim. Foi ele o forrozeiro responsável por comandar o legitimo cancioneiro pé-de-serra que embalou o início do romance de Antônia (Isis Valverde) e Leandro (Cauã Raymond) à beira do rio São Francisco.
"Toquei canções minhas, além de clássicos de Dominguinhos e Luiz Gonzaga", conta o músico, que já é conhecido pelo sucesso "Esperando na Janela", interpretado por Gilberto Gil em "Eu, Tu, Eles", gravado também no sertão de Pernambuco.
Corre por lá o boato de que foi durante a dança, gravada em um bar na orla de Juazeiro, que teve início o suposto envolvimento do casal Cauã e Isis na vida real. Na cena, a personagem Antônia pede ao pé do ouvido do músico para tocar "Eu Só Quero um Xodó", de Dominguinhos.
O hotel onde aconteceu a primeira noite de amor dos personagens fica exatamente em frente ao bar do comentado forró. Muitas das cenas românticas de Antônia e Leandro foram feitas no terraço do prédio, com vista para o rio São Francisco e as orlas de Juazeiro e Petrolina.
Apesar da proximidade, a gerente do hotel, Manuela Siqueira, afirma não ter conseguido ver muita coisa. O único detalhe que fez questão de ressaltar é sobre o assédio, que ela jura ter sido bem maior em torno do global Cauã Reymond. "É um deus grego", comenta. O alvoroço por causa do elenco global foi tanto que as áreas da orla, bar e hotel tiveram que ser isoladas para conter o avanço de fãs. "Foi um dia frenético", recorda.
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Teogenes Teles e Rilândia Feitosa, que fizeram figuração em "Amores Roubados"
O entrosamento de Cauã e Isis chamou a atenção também de figurantes que participaram das gravações. "O clima estava quentíssimo", garante o estudante de teatro Teogenes Telles, que esteve com o elenco durante três dias em algumas das cenas da festa de São Pedro, em Junco do Salitre, há 13 quilômetros de Juazeiro.
A figurante Rilândia Feitosa também desconfia que o romance do casal de atores tenha extrapolado a ficção. Ela aparece dançando entre Cauã e Isis na tal cena do forró no bar da orla de Juazeiro. Segundo ela, as filmagens levaram cerca de quatro horas. "Percebi que estavam bem afinados", diz.
Poucos atores locais
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O ator local Hertz Felix em "Amores Roubados"
Além de usar muitos figurantes, a minissérie global também abriu espaço para alguns poucos atores locais, como Hertz Felix, de 51 anos. "Fui o último entre uns 200 concorrentes. Fui embora sem a menor expectativa, dias depois me telefonaram informando que eu havia sido selecionado", conta.
Felix interpreta o sertanejo que indica a Fortunato (personagem vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa) a localização das terras de Jaime Favais (Murilo Benício). Apesar do texto curto, e da situação dramática, a caracterização fiel ao jeito sertanejo, garantiram o ar tragicômico: "O lugar tá agitado, homens tão num alvoroço pior do que muriçoca em beira de penico", diz o personagem na cena.
Ator Irandhir Santos volta à cidade para receber homenagem
Com intensa, versátil e premiada atuação no cinema, o pernambucano Irandhir Santos ("Tropa de Elite 2" e "Quincas Berro D'Água") começa agora a conquistar as telinhas. Ele interpreta João, um dos personagens centrais da minissérie.
"Amores Roubados"
Veja Álbum de fotosNesta quinta, 16, o ator retorna às cidades de Juazeiro e Petrolina para acompanhar uma mostra de filmes em que atuou nos últimos anos, dentro da programação do festival Vale Curtas, que acontece no Vale do São Francisco. Irandhir também receberá uma homenagem no próximo sábado,18, na noite de encerramento da mostra.
O diretor do festival, Chico Egídio, conta que ficou amigo de Irandhir durante as filmagens de "Amores Roubados" na região, em agosto de 2103. "Ele circulava muito pelo cinema nas folgas de gravação", diz. Ele destaca a fotografia de Walter Carvalho, que ressaltou as belezas do sertão. "Está atraindo muitos olhares, muita gente está querendo vir conhecer".
Circuito turístico comemora sucesso da minissérie
A história de amor, paixões, ciúme e muitas traições, de "Amores Roubados" tem como cenário, vinhedos, belos parreirais e o rio São Francisco. Não é a toa que o circuito enoturístico comemora o sucesso da minissérie. Durante as duas semanas de exibição, de acordo com empresários do setor, o roteiro de passeios pelas vinícolas da região registraram crescimento de até 40%.
Mas especialistas apontam erros na trama. Autoridade em vinhos, Ana Paula Barros, critica a omissão do profissional enólogo na minissérie da Globo. "Respeitamos o profissional 'sommelier', personagem de Cauã Reymond, mas uma vinícola não existe sem o enólogo, que não foi citado na trama", reclamou a professora de enologia do Instituto Federal do Sertão Pernambucano.
Baiana, nascida em Juazeiro (BA), filha do sertão e profissional da vitivinicultura do Vale do São Francisco, a enóloga conta que alguns cenários da minissérie são bem familiares a ela. "Meu primeiro estágio, na época de graduação, foi na vinícola onde se passa a trama, e ainda hoje é local de muitas aulas práticas que leciono".
Polêmica em redes sociais
A elevada audiência da minissérie na região pode ser medida pelas redes sociais. Não faltam elogios à fotografia, a trilha e a ousadia das cenas. Seja pelo tratamento de cinema ou pela apimentada dose de sexo. Mas também tem polêmica circulando na rede nordestina.
Uma delas foi provocada pelo texto machista do personagem de Cauã Raymond, que logo no início da minissérie disse que teria voltado de São Paulo, porque a fictícia "Sertão" seria 'terra de mulher fácil e marido corno'. "Público feminino principalmente se sentiu ofendido, outros já se identificaram", comenta Rafael Moraes, ator e produtor da cidade de Petrolina.