Pecado Mortal

Autor de "Pecado Mortal" diz que Globo está asfixiando sua novela

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/Record

    Picasso (Vitor Hugo), o policial corrupto que leva drogas para o morro, ameaça Veludo (Guilherme Winter) com arma

    Picasso (Vitor Hugo), o policial corrupto que leva drogas para o morro, ameaça Veludo (Guilherme Winter) com arma

A novela "Pecado Mortal", da Record, está amargando índices baixíssimos de audiência no Ibope. A trama, escrita por Carlos Lombardi, autor de sucessos como "Vereda Tropical" e "Quatro por Quatro" na Globo, tem alcançado médias de no máximo sete pontos.

Há dias em que a história, que mostra a transição do jogo do bicho para o tráfico de drogas nos morros do Rio, chega a meros cinco pontos, bem menos que outras tramas anteriores da emissora como "Ribeirão do Tempo" (média de 11); "Vidas em Jogo" (média de 12); "Máscaras" (média de 6); "Balacobaco" (média de 7) e "Dona Xepa" (idem). Cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande São Paulo.

Diferentemente de outras produções da Record, no entanto, "Pecado Mortal" é uma novela que em nada deixa a dever para as da concorrente. Tem um roteiro bem estruturado, bons atores, produção impecável, história interessante e original e, na falta disso tudo, a marca registrada do autor: bonitões e bonitonas em trajes sumários. Por que então a novela não decola?

UOL
A manobra da Globo de transformar a novela das 21h num programa de hora e meia têm asfixiado nossas chances. Com a nossa virando quase uma novela das 11 não dá pra fazer milagre

Carlos Lombardi, autor de "Pecado Mortal"

Em entrevista por e-mail ao UOL, o autor Carlos Lombardi deu uma explicação: "A manobra da Globo de transformar a novela das 21h num programa de hora e meia tem asfixiado nossas chances. Com a nossa virando quase uma novela das 11 não dá pra fazer milagre."

O autor também falou da nova fase da novela, em que o morro começa a ficar sob o domínio do tráfico graças à ação de policiais corruptos. "A história não é verdadeira. É uma ficção a partir de vários pequenos 'causos' pesquisados." Leia a entrevista:

UOL – Na sua novela, quem está levando o tráfico para o morro é o policial corrupto Picasso (Vitor Hugo). Você quer mesmo mostrar que quem levou as drogas para o morro foi a polícia?

Carlos Lombardi – Quem leva o tráfico é uma mistura de policiais corruptos (representados por Picasso) unidos a uma nova geração de bicheiros – dissidentes dos bicheiros tradicionais que eram contra os Vêneto. Além deles, haverá atravessadores de classe média como os primos Paulo (Claudio Heinrich) e Pedro Noronha (Iran Malfitano). Não é uma categoria, é uma junção de vários interesses. Paulo e Pedro, por exemplo, vão abrir a discoteca "The Stars Like Dust" [As Estrelas Gostam de Pó], que será um ponto de venda de varejo.

Essa história de policiais levando drogas para o morro para criar guerra entre os bicheiros é verdadeira? De onde você tirou essa ideia?

A história não é verdadeira. É uma ficção a partir de vários pequenos "causos" pesquisados. O que é verdade ou não, não tenho ideia. Não faço uma reportagem, faço uma novela que tenta mostrar um momento – mas de maneira simplificada e adaptada aos interesses de alguns personagens.

E o que aconteceu na vida real? Os bicheiros se associaram ao tráfico ou foram suplantados pelos traficantes?

Alguns se associaram. Muitos foram suplantados, se aposentando e se retirando pacificamente ou forçados a se retirar dos morros.

O que vai acontecer na novela a partir disso? Como ficam os bicheiros? Eles entram em guerra também?

Vai ser uma guerra dos que querem o tráfico contra os Vêneto, a família dominante.

O Marco Antônio, personagem do Fernando Pavão, sempre renegou a condição criminosa do pai. Ele vai ser forçado a tomar a frente dos negócios da família?

Ele será obrigado a defender a família do pai, principalmente seus irmãos. Se isso vai implicar em ele assumir os negócios dos Vêneto, deixo para a novela contar.

Percebi que, nessa fase, não se veem muitos negros no contexto do morro. Isso muda com a entrada do tráfico?

Com certeza.  A novela se passa em 1977. Tem um elenco negro significativo, mas nos empregos mais humildes, tanto da estrutura do bicho como em trabalhos domésticos. A personagem negra de classe média que ainda vai entrar é uma policial.

A gente sabe que sua novela não anda tendo índices muito satisfatórios de audiência. Você espera que a partir dessa entrada do tráfico na trama o público se interesse mais?

Sabemos que a audiência ainda não chegou onde devia. Sabemos também que a manobra da programação da Globo de transformar a novela das 21h num programa de hora e meia tem asfixiado nossas chances, já que o público que tradicionalmente vai para novela da Record, vem da Globo. Com a nossa história virando quase uma novela das 23h não dá para fazer milagre. Fico satisfeito com a boa repercussão, com certeza.

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