Diretor explica metodologia de trabalho que levou ao corte de Fiuk
Sabrina Grimberg
Do UOL, no Rio
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Divulgação
Fiuk perdeu o papel para Thiago Rodrigues em "Além do Horizonte"
Diretor de núcleo da TV Globo, Ricardo Waddington tenta há alguns anos adotar em seus trabalhos uma rotina que já é comum no cinema americano. Todos os atores, sejam eles medalhões ou não, precisam fazer testes para entrarem em suas produções. Segundo o diretor - atualmente responsável por "Joia Rara", "Além do Horizonte", "Amor & Sexo" e "Vídeo Show" – a intenção é minimizar o erro.
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Ricardo Waddington, diretor de núcleo da Globo, é responsável pela escalação dos atores
"É apenas uma adequação ao personagem. É uma cultura comum lá fora. Todo ator faz testes porque é a chance que você tem de reafirmar aquele ator no personagem e minimiza erros. Nunca julgando se o ator é bom ou ruim. Mas julgando se a sua escolha para aquele personagem está correta ou não. Adequando talentos a personagens", explica Waddington.
O diretor detalhou o que levou a troca de Fiuk por Thiago Rodrigues na próxima novela das sete, que estreia dia 4 de novembro. Na trama, o personagem se chama William e é irmão mais velho de Marlon, papel de Rodrigo Simas.
"O Fiuk veio aqui (no Projac), fez uma semana de workshop e eu disse a ele: "Eu penso em você, mas penso em outros atores". Tinha uma ideia, mas não tinha certeza se ele poderia fazer ou não. Não por incapacidade, mas por perfil. Ele teve um ótimo desempenho nos testes, mas não tinha a ver com o personagem", justificou Waddington.
O diretor acrescentou que também não quis escalar Fiuk em outro núcleo da novela. "Tinha pensado nele para aquele personagem. Ele ficou tranquilo, porque tem maturidade para isso. Colocar um bom ator num personagem que não tem a ver com ele é um grande passo para você derrubar o ator, mesmo que ele seja ótimo. Minha intenção é que ele se dê bem. O brilho dele é o meu sucesso", ponderou.
Ricardo Waddington lembrou que quando começou a pré-produção da novela das seis também fez com que os atores passassem pelo mesmo processo. "Em "Joia Rara" todo o elenco fez teste. Letícia Spiller, Mariana Ximenes...", exemplificou o diretor, rechaçando que o procedimento possa gerar um mal-estar no elenco. No caso de "Além do Horizonte", Thiago Rodrigues, Mariana Rios, Juliana Paiva e Rodrigo Simas, entre muitos outros, também foram avaliados.
Waddington tem a certeza que se medalhões da emissora como Tarcisio Meira e Antonio Fagundes tivessem que ser submetidos aos testes, não causariam o menor empecilho. "Não teria problema nenhum. Eles seriam os primeiros a entender. Eu conheço o Fagundes há trinta anos. Se eu falasse para ele: "Eu preciso ver você dentro desse personagem". Duvido que ele não faria (o teste). Ele seria o primeiro a entender a minha dúvida em relação ao personagem que eu estou criando", diz.
"Uma novela é muito cara. Então, você tem que minimizar riscos. Temos que acertar. Somos pagos para acertar", completou o diretor, que já viu caso de o próprio ator pedir para não fazer o personagem.
Giovanna Antonelli: destino traçado
Para encerrar o assunto, Ricardo Waddington relembrou rapidamente um caso em "Laços de Família" (2000), quando estava escalando a personagem para viver Capitu, que lançou Giovanna Antonelli.
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Giovanna Antonelli no papel de Capitu em "Laços de Família" (2000)
"Eu tinha a Giovanna Antonelli e a Vanessa Mesquita, que no fim ficou como a amiga da Capitu. Pelo físico - eu fiz vários testes, a Giovanna inclusive ficou nua porque eu achei que tinha que ter uma entrega - eu tinha certeza que a Vanessa ia fazer a Capitu e a Giovanna ia fazer a amiga. Na leitura, eu vi que tinha errado, quebrado a cara. Chamei as duas e disse que tinha errado e que a Giovanna tinha que fazer a Capitu e a Vanessa, a amiga. E eu estava certo e só vi isso depois de uma leitura. A Giovanna explodiu na carreira e hoje ela virou uma estrela", orgulha-se o diretor.
Questionado sobre esse "poder" que tem em suas mãos, no qual é capaz de mudar a trajetória de um ator, Ricardo Waddington se diz muito consciente. "Penso na responsabilidade que tenho em relação à vida de muita gente. Como um médico quando acorda e diz que vai operar dez pessoas e que a vida dessas pessoas está na mão dele. Não que estejam na minha mão, mas eu posso dar uma grande mão para que a vida delas seja melhor ou pior. A escolha é minha, mas o que conta é o talento", aposta.