Após queixa de enfermeiros, Walcyr Carrasco defende 'liberdade para criar'
Do UOL, no Rio
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Divulgação/Globo
Ordália trabalha como auxiliar de enfermagem no hospital San Magno, de "Amor À Vida"
Depois de corretores de imóveis e ex-chacretes reclamarem, os enfermeiros estão queixando-se de como estão sendo representados na trama das nove da Globo.
De acordo com a assessoria de imprensa do Coren-RJ (Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro), enfermeiros têm cobrado diariamente do órgão uma posição contra os erros de procedimento exibidos na novela e a postura – que consideram caricata – de Ordália, personagem interpretada por Eliane Giardini. As queixas são feitas por e-mail, telefone e, principalmente, pelas redes sociais.
Pedro de Jesus, presidente do Coren, quer se encontrar com Walcyr Carrasco, autor da trama, para sugerir mudanças. Para Pedro, "o diálogo é salutar para estreitar os laços entre ficção e realidade". Ele defende que, por ser exercida em situações-limite de vida e morte, a enfermagem propicia a criação de dramas e dilemas humanos "que merecem ser retratados de forma correta".
Procurado pelo UOL, Walcyr Carrasco argumentou que o autor tem que ter liberdade para criar. "Dizer que um enfermeiro errou (aliás, a novela nem falou isso) não quer dizer que todos erram, mas que os enfermeiros são humanos. Da mesma forma corretores (aliás nem sei por que estão reclamando)", disse.
Walcyr afirmou que os personagens têm que ter profissão e o papel do folhetim não é exaltar categorias profissionais, mas contar uma história.
"Se eu fosse buscar história reais, poderia ter retratado a dos enfermeiros que matavam propositalmente pacientes no Uruguai. Basta procurar no Google", opinou.
Defesa da ficção
Ricardo Linhares, autor de "Saramandaia" – nova trama das onze da Globo, que estreia dia 24 de junho – também é um defensor da liberdade de criação. Para Linhares, essa patrulha na ficção acontece muito no Brasil.
"Porque, em outros lugares, os escritores e diretores têm mais liberdade de criar, utilizando o imaginário. Eles fazem uma enfermeira assassina, por exemplo. Aqui, se você fizer isso, vão te processar. E toda hora, as pessoas buscam essas brechas. Eu sou contra isso, acho que é quase uma ditadura", disse.
Linhares defendeu que não é o fato de criar um personagem mau caráter em determinada profissão que vai denegrir a imagem daquela classe inteira.
"Tanto que na novela, existe um político bom caráter, como contraponto do mau caráter. Tem que ter um equilíbrio quando se escreve", afirmou.