Arma de Walmor Chagas era para proteção, diz advogada da família

Do UOL, em São Paulo*

  • Fernando Donasci/Folha Imagem

    O ator Walmor Chagas, em foto de entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" de 2006

    O ator Walmor Chagas, em foto de entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" de 2006

Advogada da família do ator Walmor Chagas, 82, Maria Dalva Copola afirmou em entrevista por telefone ao UOL que a arma calibre 38 encontrada no colo do ator era usada para sua proteção. Chagas foi encontrado pelo caseiro José Arteiro de Almeida sentado em uma cadeira, morto com um tiro na cabeça na cozinha de sua casa em Guaratinguetá nesta sexta (18).

"Descobrimos que ele tinha uma arma agora, mas não é tão estranho pensar que ele guardava uma. Ele morava em um lugar muito longe, em hotel fazenda, com pouco movimento. Ela era para proteção", disse Maria Dalva. 

Na tarde deste sábado a advogada acompanhou a família no velório do ator, que aconteceu no cemitério Parque das Flores, em São José dos Campos. Sua função foi ajudar a liberar o corpo do IML para o velório e a cremação. "A perícia necessária para descobrir a causa da morte já foi realizada, um laudo necroscópico deve ser emitido nesta terça", afirmou.

Ele já estava com a mobilidade reduzida, diabetes, hipertensão... De um ano para cá piorou por causa da catarata. Ele era um leitor nato, adorava livros. A impossibilidade de ler deixou ele muito triste

Maria Dalva Copola, advogada da família

De acordo com a advogada, a família acredita na hipótese de suicídio, uma vez que o ator estava deprimido por causa de "fragilidades da idade", já que estava com 82 anos. "Ele já estava com a mobilidade reduzida, diabetes, hipertensão. Ele sempre teve essas coisas, mas de um ano para cá piorou por causa da catarata. Ele era um leitor nato, adorava livros. A impossibilidade de ler deixou ele muito triste", comentou.

Arteiro contou que Walmor morreu com um tiro entre a orelha e o olho e que a arma estava em seu colo.

Amigos há 30 anos, em vida, Walmor transferiu para José Arteiro a posse de seu sítio, onde funciona a pousada "Sete Nascentes". "Eu não perdi um amigo, perdi um pai", afirmou Arteiro.

Velório acontece com portas fechadas em São José dos Campos

Única atriz a representar a classe artística, Lucélia Santos, e o político José Genoino compareceram para cerimônia de cremação do corpo do ator Walmor Chagas, que iniciou 16h30, 30 minutos antes do horário previsto, e terminou às 17h20.

Relembre a carreira de Walmor Chagas
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Muito abalada e chorando, Lucélia lamentou a perda do amigo. "Ele era um ator perfeito, um intelectual, uma referência para todos nós. Era como se ele estivesse em cima de um poste e a gente olhasse, desejando estar lá. O Brasil perdeu um mestre", afirmou a atriz, que foi embora com Clara Becker, fruto do relacionamento com a atriz Cacilda Becker.  A filha do ator não falou com a imprensa.

Genoino chegou ao local 17h15, acompanhado do jornalista Roberto Benevides, conhecido como Benê. Eles erraram o caminho e chegaram atrasados. Cumprimentaram Maria Clara rapidamente por meio do vidro do carro que ela estava.

O suicídio foi resultado da teimosia dele, que sempre dizia que não queria ser um peso para ninguém

disse Antônio Carlos, amigo de Walmor Chagas há 19 anos

"Conhecia o Walmor há 40 anos. Éramos muito amigos. Visitei seu sítio duas vezes e em dezembro [2012] ele esteve na minha casa", contou Genoino. "É um perda muito grande", disse Benê.

O velório do ator aconteceu a portas fechadas. Com seguranças protegendo a entrada da capela, quatro pessoas da família chegaram para o velório que começou por volta das 11h30 e terminou às 17h20. A filha Maria Clara Becker acompanhada de amigos por volta das 15h. 

Uma das poucas declarações da família foi da irmã Jussara Chagas, que mora em Porto Alegre. "Ele foi muito importante para a cultura do país", comentou ao deixar a capela onde foi feita a cremação do corpo.

LEMBRE NOVELAS EM QUE WALMOR CHAGAS ATUOU

"A Outra" (1965)

"Teresa" (1965)

"O Amor Tem Cara de Mulher" (1966)

"Presídio de Mulheres" (1967)

"Nenhum Homem É Deus" (1969)

"As Bruxas" (1970)

"Corrida do Ouro" (1974)

"O Grito" (1975)

"Locomotivas" <1977)

"Como Salvar Meu Casamento" (1979)

"Coração Alado" (1980)

"O Amor É Nosso" (1981)

"Avenida Paulista" (1982)

"Final Feliz" (1982)

"Eu Prometo" (1983)

"Caso Verdade, Esperança" (1984)

"Vereda Tropical" (1984)

"Selva de Pedra" (1986)

"Mandala" (1987)

"O Pagador de Promessas" (1988)

"Sex Appeal" (1993)

"Sonho Meu" (1993)

"Salsa e Merengue" (1996)

"Malhação" (1997)

"Marcas da Paixão" (2000)

"Os Maias" (2001)

"Esperança" (2002)

"Mad Maria" (2005)

"Pé na Jaca" (2006)

"Caminhos do Coração" (2007)

"A Favorita" (2008)

"Os Mutantes" (2009)
 

Amigo de Walmor há 19 anos, Antônio Carlos Cardoso, 81, contou que o ator esteve em São Paulo na última quinta-feira para fazer uns exames e acredita que ele não tenha recebido uma boa notícia dos médicos, já que fumava e bebia muito.

"Ele estava praticamente cego e isso foi tirando o prazer dele de viver, já que gostava de ler e assistir televisão e não podia mais. Walmor vivia a vida da forma que achava que era bom para ele, bebia, fumava e não se alimentava corretamente. O suicídio foi resultado da teimosia dele, que sempre dizia que não queria ser um peso para ninguém", afirmou Cardoso, dono de um restaurante em Guaratinguetá, no interior de São Paulo. 

Sobrinha de Chagas, Adriane Chagas Bianchi disse que a família ainda não tem "nenhuma informação a mais sobre o que aconteceu". "Sabemos o que a mídia já sabe. O caseiro ligou para a gente dizendo que tinham encontrado o corpo", comentou a advogada.

Adriane contou que a família ainda mantinha contato com o ator.  "Estamos todos muito tristes com o que aconteceu", completou.

Repercussão

Para o ator José Wilker, que trabalhou com ele no filme "Xica da Silva", Chagas foi "um dos maiores atores que este país já produziu". "Tive a oportunidade de trabalhar com ele em 'Xica da Silva', acompanhar como ele criava os personagens, um senso de humor muito dele. Uma pessoa sensacional."

O último trabalho do ator foi no cinema, no papel de um general aposentado, em "Cara ou Coroa", de Ugo Giorgetti.

A carreira

Gaúcho da cidade de Alegrete, Walmor Chagas nasceu no dia 28 de agosto de 1930. Ele se mudou para São Paulo nos anos de 1950 para apostar no cinema. Seu primeiro filme foi "São Paulo S.A." (1965), de Luís Sérgio Person, ao lado de Eva Wilma.

Além de  "Cara ou Coroa", no ano passado, Walmor pôde ser visto também em "A Coleção Invisível", de Bernard Attal. No cinema, deixou como legado os longas "Valsa para Bruno Stein" (2007), "Asa Branca - Um Sonho Brasileiro" (1980) e "Beto Rockfeller" (1970), entre outros.

Na TV, ele começou com uma participação no programa "Grande Teatro Tupi", da TV Tupi, em 1953. Mas sua estreia como ator foi na Globo, em 1974, na novela "Corrida do Ouro".

Entre os folhetins da Globo em seu currículo estão "A Favorita" (2008), "Pé na Jaca" (2006), "Esperança" (2002), "Selva de Pedra" (1986) e "Vereda Tropical" (1984). Na Record, ele fez "Os Mutantes: Caminhos do Coração" (2007). Em 1992, ele também foi apresentador do programa "Você Decide".

Walmor Chagas fundou, em 1952, o Teatro das Segundas-Feiras, com Ítalo Rossi. A primeira peça foi "Luta Até o Amanhecer", de Ugo Betti. Entre as principais peças estão "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?" (1965), "Esperando Godot" (1969) e "Um Equilíbrio Delicado" (1999).

Com mais de 60 anos de carreira, ele atuou em cerca de 40 peças, 20 filmes e 30 novelas. Walmor era viúvo da atriz Cacilda Becker, com quem teve uma filha, Maria Clara Becker Chagas.

*(Reportagem de Elaine Rodrigues e informações da Agência Estado)

 
 
 
 

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