Bijuterias usadas por Morena em "Salve Jorge" são customizadas no Complexo do Alemão; veja

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

  • Leonardo Soares/UOL

    Responsável por produzir as peças das atrizes do núcleo do Complexo do Alemão, Andréa Carvalho apresenta as bijuterias para reportagem do UOL (30/10/12)

    Responsável por produzir as peças das atrizes do núcleo do Complexo do Alemão, Andréa Carvalho apresenta as bijuterias para reportagem do UOL (30/10/12)

Há dois anos produzindo bijuterias, a moradora do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Andréa Carvalho, 32, começou a colher os frutos do seu trabalho por meio da novela das nove "Salve Jorge", da Globo. “Sempre fui muito perua. Durante os seis anos em que trabalhei em shoppings, comecei a reproduzir os acessórios que via nas revistas, nas joalherias e passei a vender. Quando percebi estava vendendo mais minhas peças, do que as roupas da loja”, lembra a designer responsável por customizar as pulseiras usadas por Morena (Nanda Costa).

Mesmo com o sol quente que fazia na última terça-feira (30) em São Paulo, e de uma manhã de compras no centro comercial 25 de Março, Andréa estava com o cabelo arrumado, as unhas feitas, munida de algumas peças brilhantes e com um sorriso no rosto quando encontrou com a reportagem do UOL para apresentar seu trabalho. "Venho a São Paulo a cada 15 dias para comprar material", contou. 

Com a ajuda da Associação de Moradores da Grota, a dona da Queen Bijux conseguiu um espaço para expor seus produtos em uma feira de artesanato da comunidade e ficou conhecida por suas pulseiras, relógios, cintos, colares; que custam de R$ 15 a R$ 50.

Por causa da trama de Glória Perez, que retrata a pacificação do Complexo do Alemão, a carioca foi descoberta pela produção do folhetim, que adquiriu cerca de 200 bijuterias suas. As peças são utilizadas pelas personagens Morena (Nanda Costa), Sheila (Lucy Ramos), Nilceia (Paula Pereira) e Vanúbia (Roberta Rodrigues).

Com os R$ 7 mil que recebeu da Rede Globo, Andréa irá colocar silicone nos seios na próxima terça-feira (6). "A venda já valeu. Vou colocar os meus peitões, 375 mililitros", brinca Andréa.

Vaidosa, a artesã preferiu realizar um sonho antigo com sua "grande" venda. "Falei para o marido que não compraria um automóvel, porque quem precisa de carro é ele, eu preciso de peitos [risos]. Me viro bem de van ou a pé para ir pra minha feirinha”.

Inspirações
Além de revistas e grifes, Andréa tem como principal inspiração o estilo das mulheres da comunidade do Alemão. “As meninas da comunidade gostam de brilho, de coisas  chamativas, e eu também. Gosto de brilhar de noite e de dia”, afirma.

  • Divulgação/TV Globo

    Morena (Nanda Costa) e Vanúbia (Roberta Rodrigues - centro) usam pulseiras feitas por Andréa Carvalho na novela "Salve Jorge" (2012)

Consumista assumida, a designer ainda não sabe quanto lucra com suas peças. “Gasto R$ 1 mil por semana com matéria-prima, pago aluguel, colégio para minha filha, ajudo nas contas de casa... e não fico no vermelho. Mas ainda não sei meu lucro exato”, conta.

Durante três dias da semana, ela expõe suas peças en feiras de artesanato no Rio: na Grota (Complexo do Alemão), às sextas-feiras; no Complexo da Penha, aos sábado; e no bairro de Bonsucesso, às quintas-feiras. Em média, ela vende 600 acessórios por dia trabalhado.

Jefferson Felismino e Amanda Brandão, funcionários do ateliê Queen Bijux, faturam em média quase um salário mínimo (R$ 650). “Ganho uns R$ 400 por mês, fora as peças que produzo – R$ 140 por semana. Às vezes, ganho mais, às vezes, menos”, conta Felismino.

Apesar de a novela estar no ar somente há duas semanas, Andréa e seus colaboradores estão com três pedidos para entregar. “Fiquei toda arrepiada quando vi as minhas peças na TV. Liguei para todo mundo”, revela a designer.

Acessórios de "Avenida Brasil" ainda são procurados no Rio

  • TV Globo/Divulgação

    “Salve Jorge” já está no ar há mais de uma semana, mas na Saara, comércio popular do Rio, os acessórios de “Avenida Brasil” continuam sendo os mais procurados pelos consumidores. Esta semana, a reportagem do UOL visitou o centro comercial e apurou que entre os itens que mais agradam ao público estão: o colar com pingente em forma de chuteira do Tufão (Murilo Benício); o cinto de strass da Suelen (Isis Valverde); o colar com pingente de escumadeira e colher da Nina (Débora Falabella) e o colar com pingente em forma de aranha da Muricy (Eliane Giardini).

Os lojistas do centro comercial popular do Rio de Janeiro, Saara, já estão encomendando as pulseiras de couro com strass usadas por Morena e os colares das personagens Érica (Flávia Alessandra) e Heloísa (Giovanna Antonelli). A tendência no local continua sendo os acessórios do folhetim "Avenida Brasil", que chegou ao fim em 19 de outubro.

Novela x Vida real
Apesar de não aparecer na TV, Andréa é uma das mulheres inspiradoras da trajetória e do jeito explosivo de Morena. A atriz passou uma tarde com a designer, além dos períodos de workshops realizados com ela, para aprender gírias, passos de funk e detalhes do cotidiano de uma das maiores favelas do Brasil.

“A Nanda [Costa] comprou perfumes, algumas bijuterias e conversamos bastante. Ensinei algumas gírias que usamos na comunidade, como: ‘E aí filé, qual vá ser tá de carro ou até a pé? Vai chupar ou morder?’, ‘Fala gatinha do bole bole do peitinho duro, e da  bundinha mole’, ‘E aí, tranquilão?’, ‘Tudão’, 'xerifa' (mulher de traficante) e ’E aí Mona’ – papo entre mulheres. Contei histórias da minha vida, do meu jeito esquentado”, conta Andréa.

Criada na favela do Kelson's, a empresária conta que sempre resolveu seus problemas sozinha. "Se tenho que quebrar o barraco, quebro mesmo. Sempre falei gíria, dancei funk, sou assim."

Sobre a realidade apresentada na novela e o dia a dia da favela, Andréa afirma que a trama está fugindo do real. “Não acho que eles estão retratando a comunidade como ela é de fato. Exemplo: meninas que moram no morro ‘não podem namorar’ com homens do exército, ainda mais ele ir buscar de carro. Os brilhos estão sendo pouco explorados, além da dança ser mais de passinhos e não funk batidão. Além das gírias serem pouco exploradas”, aponta.

Ela também acrescenta que o modo de se vestir de algumas garotas é diferente do apresentado na trama. “Algumas meninas usam short bem curto, fazem do sutiã um top, além de usarem saltos”.

Filha de um traficante falecido, Andréa não tem grandes ambições. “Sinto-me realizada. Meu sonho é o de qualquer brasileiro - comprar uma casa, onde moro hoje, ter um carro e reformar a casa da minha mãe”, afirma a designer.

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