Gabriela

"Não gosto que a mulher pague a conta. Sou um pouco machista", diz vilão de "Gabriela"

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

  • TV Globo/Divulgação

    Rodrigo Andrade como Berto de "Gabriela" (2012)

    Rodrigo Andrade como Berto de "Gabriela" (2012)

Depois de interpretar o homossexual Eduardo em “Insensato Coração” (2011), o primeiro gay a se casar em uma novela, Rodrigo Andrade dá vida a Berto, um homem mulherengo e machista no remake global “Gabriela”. “É muito bom interpretar um vilão, adoro. Faria só vilão se me deixassem. O vilão se dá bem a novela inteira e só se 'ferra' no fim”, disse o ator em entrevista ao UOL.

Apesar de ser um homem contemporâneo, Rodrigo ainda conserva atitudes machistas, resquícios de uma sociedade patriarcal e arcaica brasileira retratada no folhetim. “Eu me sinto incomodado quando saio com a minha mulher e ela quer pagar a conta. Não deixa de ser um machismo, apesar de um gesto de educação. Isso demonstra que estou um passo atrás da evolução, sou um pouco machista e acho que todo mundo tem isso”.

Embora ganhe a antipatia dos telespectadores por conta das suas perversidades e fetiches, Andrade ouve todo tipo de comentário nas ruas. “As pessoas odeiam o Berto com todas as forças, mas rola todo tipo de abordagem. Tem umas tiazinhas que olham de cara feia, outras me chamam de escroto. As meninas dizem que o Berto pode usá-las  à vontade [referência ao Jesuíno, personagem vivido por José Wilker]”.

Trama

  • TV Globo/Divulgação

    "O Berto foi criado para ser um machista. Ele é neto da Doroteia (Laura Cardoso), que é o maior coronel de Ilhéus", diz o ator

Questionado sobre como foi gravar a cena em que Berto abusa sexualmente de Lindinalva (Giovanna Lancellotti) e a obriga vestir-se de noiva, Rodrigo conta que ficou em completa abstração durante as gravações. “Estava muito envolvido com o personagem e não lembro exatamente como foi. Gravo as cenas em estado de transe e só vejo o que aconteceu quando assisto”, revelou Andrade.

“Na cabeça do Berto, a Lindinalva cedeu e foi para cama com ele, porque foi fraca e sendo assim, mereceu virar quenga. Se ela tivesse sido forte ele teria casado com ela. Ele pensa como um cara dos anos 20, como um coronelzinho. Ele é um dos mais cruéis da trama”, afirmou o ator sobre seu personagem.

Tento defender o Berto para mim, para conseguir dar força para seus atos tiranos. Ele não tem remorso. Manda matar, espancar, mente, manipula, é frio e calculista

Ainda sobre o perfil tirano do vilão, Rodrigo mostra que o personagem é um psicopata, incapaz de sentir remorso. “O Berto é o oposto do Jesuíno (José Wilker), que é sincero em seus atos, e fruto de uma sociedade. O Jesuíno quando mata a Sinhazinha (Maitê Proença) mostra arrependimento. Quando o Berto arma uma emboscada para Lindinalva ele faz tudo de caso pensado, disposto a matar e humilhar. Ele coloca a culpa no irmão [Juvenal] no momento em que está a espancando e depois a enrola em seu vestido de noiva. Ele é perverso, destrói sonhos. No caso da Lindinalva, ele destrói o sonho dela de casar e de ser feliz”.

“Naquela época a mulher servia apenas para reprodução, os maridos não podiam sentir prazer com suas esposas. Prazer era somente com as quengas. O machismo hoje vem camuflado. Muitos homens ainda abusam de suas companheiras e não são punidos, apesar de existir a Lei Maria da Penha. Os covardes descontam suas frustações nas mulheres”, explica Andrade.

Sobre o final de Berto no folhetim, Andrade afirmou que está nas mãos do autor Walcyr Carrasco. “Talvez ele mereça morrer sofrendo. O Berto terá o castigo merece”, despista.

Preparo

  • Divulgação

    Ator Mário Gomes como Berto Leal em cena de "Gabriela" (1975)

Para entrar no mundo coronelista da trama, Rodrigo passou 15 dias em Ilhéus, na Bahia, para se familiarizar com o ambiente e aprender o sotaque, além disso assistiu a filmes e estudou a obra de Jorge Amado. “O Berto tem a macheza do Al Pacino em ‘O Poderoso Chefão', o jeito impulsivo de Marlon Brando e a frieza no olhar e sem sentimento de John Malkovich em 'Ligações Perigosas’”, conta o ator, sobre a construção do personagem.

Durante o preparo, Rodrigo preferiu não assistir a primeira versão de “Gabriela” (1975) para não ser influenciado pela atuação do ator Mário Gomes.

Carreira musical
Músico desde 14 anos, o cantor sertanejo começará a produzir um novo disco, que dever ser lançado até o fim do ano, assim que o remake acabar. “A música veio primeiro na minha vida. Preciso dela para trabalhar bem na televisão e vice-versa”.

Fã de Leandro & Leonardo, Chitãozinho& Xororó, João Paulo & Daniel, Tião Carreiro e Pardinho e de música clássica, o interiorano de Altinópolis declara: “Era maluco por Leandro e Leonardo”.

“Da nova geração sou muito fã de João Bosco e Vinicius, Jorge e Matheus. Eles trazem a modernidade sem perder a essência”, afirma o ator sobre suas preferencias musicais. 

Futuro
Ainda virgem no quesito cinema, Rodrigo deve interpretar um vilão no filme “Barulho da Noite”, com roteiro de Eva Pereira e que deve ser rodado em Tocantins.

Fã das peripécias de Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Debora Falabella), Andrade compara seu personagem a vilã das nove e espera um dia ser convidado para fazer uma novela de João Emanuel Carneiro. “Sou apaixonado por 'Avenida Brasil'. Muita gente diz que o Berto é filho da Carminha [risos]".

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