Suor, ovos de codorna e baratas dão o tom do lançamento da novela "Avenida Brasil", na Rocinha
Carla Neves
James Cimino
Do UOL, no Rio
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AgNews
À esquerda, o ator José Loreto dança charme, Adriana Esteves e seu marido, o ator Vladimir Brichta, e à direita a atriz Carolina Ferraz, que ficou menos de uma hora no evento, na Rocinha (16/3/12)
- Heroína de "Avenida Brasil" é inspirada em Flora, vilã de "A Favorita", diz autor
Focada na classe C, a Rede Globo fez a festa de lançamento da próxima novela das nove, "Avenida Brasil", que estreia no próximo dia 26, na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha, no Rio de Janeiro, na noite desta quinta (15). Mas o clima “classe C” do evento se destacava pelo calor intenso (só havia ventiladores no local), o que fez com que o elenco reclamasse muito. A atriz Carolina Ferraz, que trajava um vestido curtíssimo listrado, acabou fugindo do local pouco menos de uma hora depois de chegar. "É difícil ser chique num calor desse", disse a atriz.
Não foi só Carolina Ferraz que se incomodou com o calor. Após algumas horas, as baratas também começaram a brotar do chão. O próprio diretor Ricardo Waddington, ao subir no palco para apresentar o clipe da novela, falou: "Nossa, tem uma barata aqui!"
Pouco antes, em entrevista ao UOL, o diretor comentou sobre o foco da Rede Globo na nova classe média brasileira. Segundo ele, quem diz que a Globo está olhando "apenas agora" para a classe C não entende nada de novela. "A Globo sempre conversou com todas as classes sociais. Se a gente falasse só com a classe C, teríamos a audiência da nossa concorrente. Mas o que pode explicar esse fenômeno é uma viagem que eu fiz à Bolívia. Lá me disseram que depois que o Evo Morales chegou ao poder, os bolivianos pararam de olhar para baixo e passaram a olhar para cima. É o mesmo que aconteceu com o Brasil depois que o Lula chegou ao poder. Antes as novelas tinham como núcleo central os ricos, hoje a chamada classe C está querendo se ver na TV.”
Questionado se a máxima de Joãosinho Trinta, que dizia que quem gosta de luxo é pobre, estaria defasada, Waddington respondeu, aos risos: “Hoje em dia, com esse pensamento, ele perderia o Carnaval”.
O que tinha de classe C no evento eram as comidas: aperitivos como ovos de cordona, azeitonas e caldinho de feijão. A atriz Paula Burlamaqui, por exemplo, olhou com certo desdém para um garçom que lhe oferecia a iguaria brasileira. "Aí não, caldinho de feijão não dá..." As bebidas eram caipirinhas de várias frutas típicas do Brasil, além de uísque e cerveja. No final da apresentação da novela, um show de funk dos MCs Sapão e Márcio G levava os convidados até o chão, enquanto outros poucos representantes da classe C se aglomeravam na entrada do evento pedindo autógrafos aos atores -- e foi o máximo que se viu de Rocinha na festa de lançamento de "Avenida Brasil".
Uma história de vingança
O autor da novela, João Emanuel Carneiro, explicou o porquê do nome "Avenida Brasil". Para quem não conhece o Rio de Janeiro, a avenida é uma via expressa de pouco mais de 50km de extensão que, de acordo com a visão do autor, atravessa a periferia da cidade. "É um lugar por onde todo mundo passa, o que resume bem a essência da novela.”
Outro apelo à classe emergente do país estará no protagonista Tufão, um jogador de futebol interpretado por Murilo Benício. Tufão irá se casar com Carminha, que junto a seu comparsa Max (Marcelo Novaes) prepara um golpe fatal contra o boleiro. O autor deixou claro, no entanto, que o futebol aparecerá na novela apenas como bastidor. "Não vejo como encenar ações em meio ao futebol. Para a novela ficaria chato."
A trama também terá um núcleo centrado em um lixão. É desse lugar que saem as principais personagens. Carminha, a vilã de Adriana Esteves, que nasceu lá e, por isso, faz de tudo para vencer na vida. E a heroína da história, Nina, vivida por Débora Falabella, que após ser abandonada ainda criança no local, irá empreender sua vingança contra Carminha. “Eu já tinha colocado cenas de lixão em ‘Da Cor do Pecado’ e em ‘A Favorita’, mas esse representa o inferno da novela", explica Carneiro, que admitiu ter uma missão e tanto ao substituir a popular "Fina Estampa" de Aguinaldo Silva.
Segundo os atores que gravaram no lixão fictício montado no Projac, o lugar, embora higienizado, é bastante degradante, além de ser muito claro e quente. Mesmo para quem não gravou as cenas, foi possível ter uma ideia do que os atores sofreram durante essas gravações na festa de lançamento da novela -- as baratas que o digam.