Cinquentenário, "Doctor Who" inspira fãs na América Latina

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    Cena da série inglesa "Doctor Who"

    Cena da série inglesa "Doctor Who"

O cultuado seriado "Doctor Who" nasceu na Grã-Bretanha há exatos 50 anos --23 de novembro de 1963--, mas só chegou à América Latina quatro anos depois. Talvez sua máquina do tempo Tardis tenha tido problemas técnicos. 

O certo é que, no final da década de 1960, "Doctor Who" chegou à Venezuela, o primeiro país latino-americano a exibir a série de ficção científica mais longeva da TV. Meses depois, foi a vez de México e Chile. Nesses três países, o primeiro Doutor --interpretado por William Hartnell-- chegou aos lares latino-americanos.

A dublagem em espanhol era feita no México, que também serviu de cenário para uma das histórias da série: "Os Aztecas", gravada em 1964 mas só transmitida no continente na década seguinte. No México, assim como no Brasil, "Doctor Who" conquistou fãs assíduos.

O mexicano Martín Bonfil ainda estudava no ensino básico quando assistiu aos primeiros episódios --na época em preto e branco-- em horário nobre, traduzidos como "Doctor Misterio" e totalmente fora da ordem original. Mas ainda não havia uma comunidade de fãs, como as que se organizam online atualmente.

Fascínio
"Passei muitos anos achando que era o único fã (no México)", diz Bonfil à BBC Mundo. "O que mais me fascinava eram (a raça extraterrestre) Dalek, a Tardis, o Doutor como um personagem antigo, misterioso, e a música. As histórias eram fascinantes."

Após a exibição de alguns episódios, a série saiu do ar nos países hispano-americanos. Voltou com o quarto Ductor, interpretado por Tom Baker, mas os fãs latinos sequer sabiam que a série havia continuado e já havia tido dois atores interpretando seu personagem principal.

No Brasil, "Doctor Who" --desde 2012 transmitido pela emissora BBC HD, pela TV Cultura e também disponível no Netflix-- foi ao ar pela primeira vez nos anos 1980, com Tom Baker. Mas o paulistano Henrique Miraldo, 24, só descobriu a série no início deste ano. "Todo mundo comentava na internet, eu era meio cético... Mas comecei a assistir e peguei gosto."

O resultado é que, em apenas 11 meses, Henrique assistiu, pelo Netflix, a todas as temporadas da nova etapa da série, de 2005 até agora. "E ainda quero assistir às temporadas mais antigas", diz à BBC Brasil. "Eu gosto de ficção científica, então qualquer coisa com viagem no tempo desperta a minha atenção. E o 'Doctor Who' não viaja apenas ao futuro, mas também ao passado. Vemos Leonardo Da Vinci, lendas antigas, rainhas antigas da Inglaterra."

Inspiração
No caso de Bonfil, a série o inspirou ao longo de sua vida. "Eu era uma criança fantasiosa e brincava de ser o Doutor Who. Qualquer armário se transformava na Tardis, e eu também me disfarçava. Até pedi à minha mãe que me fizesse o cachecol usado por Tom Baker, guardo ele até hoje."

Hoje, Bonfil trabalha no departamento de divulgação científica da Universidade Nacional Autônoma do México. "Adorava ler sobre ciência, e isso tem a ver com o 'Doctor Who', que foi uma influência constante, como pano de fundo na minha vida."

No final dos anos 1980, quando a série saiu do ar, Bonfil ficou sem seu programa favorito. Até o dia em que leu em uma revista que a série continuava a ser transmitida na Grã-Bretanha e que havia várias encarnações do viajante do tempo. 

"Foi uma frustração saber que passava em outro país e eu não podia assistir", diz. "Mas pedi a um amigo da família que viajou a Londres que me trouxesse uns exemplares da revista oficial da série, até que eu comecei a assiná-la." Assim, começou a se corresponder com a revista e com outros fãs --uma delas, uma menina também mexicana, é sua amiga até hoje. 

A série foi interrompida na Grã-Bretanha no final dos anos 1980 e voltou ao ar em 2005, modernizada. Bonfil passou a acompanhá-la pela internet e por DVDs. Agora, com a transmissão do episódio comemorativo de 50 anos, é Bonfil quem sente que vai viajar no tempo.

"Vou assistir no cinema vestido o mais parecido possível com o 'Doutor Who' e levar meu cachecol", diz. "Quando tinha 18 anos e saía com ele na rua, as pessoas me achavam estranho. Agora, as pessoas vão entender do que se trata."

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