Prisioneiras da série "Orange is The New Black" ganham devotos
A série do Netflix "Orange is The New Black", que conta a história real de uma prisão de mulheres do ponto de vista de uma loura de classe média, ganhou lentamente e sem fazer barulho a devoção da crítica graças a seu elenco diverso.
A "dramédia" - mistura de drama e comédia - foi considerada "totalmente brilhante" pela revista "Rolling Stone"; um "fluxo imprevisível de risos e seriedade" pelo "The Hollywood Reporter" e "o melhor show da televisão no momento", que talvez revele as possibilidades de uma nova forma, "talvez um novo gênero", pela "Esquire".
"Orange Is The New Black", transformada em série de TV pela mesma criadora de "Weeds" e baseada em uma autobiografia de mesmo título que está em terceiro lugar na lista de mais vendidos do "New York Times", mostra as interações e conflitos raciais de negras, latinas, brancas e asiáticas que são forçadas a conviver na prisão.
Na série, Piper Chapman (Taylor Schilling) é uma privilegiada nova-iorquina que trabalha com uma produção caseira de sabonetes orgânicos, e é condenada a 15 meses de prisão por um erro da juventude: 10 anos antes, ela transportou uma maleta de dinheiro a pedido da sexy narcotraficante Alex (Laura Prepon), sua namorada na época.
"Piper foi meu 'cavalo de Troia'", disse a criadora da série, Jenji Kohan, em uma entrevista na semana passada à rádio NPR.
"Você não vai a um canal vender uma história fascinante de mulheres negras, latinas, idosas e criminosas. Mas se pega esta jovem branca e a segue, pode expandir seu mundo e contar todas as demais histórias", disse a também diretora e roteirista.
"É um ponto de acesso fácil", acrescentou.
Kohan tem sido elogiada em particular pelos "flashbacks", que tiram a câmera da prisão para mostrar as histórias pessoais das internas, e a autenticidade das personagens: acima do peso, com rugas e longe do padrão de beleza, em um elenco majoritariamente feminino e necessariamente diverso.
A atriz dominicana Dascha Polanco, que interpreta a latina Daya, recorda como é pouco frequente assistir um programa de televisão sobre mulheres e feito por mulheres, onde a mulher não é definida por sua relação com o namorado, marido, família ou filhos.
"Neste sentido, 'Orange' rompe barreiras. Não é uma dona de casa com os filhos e o marido. Fala de uma realidade", disse Polanco à AFP.
Ela também se disse agradecida à série por ajudá-la a superar o obstáculo do peso em uma indústria que define a beleza pela extrema magreza.
Para Piper Kerman, a autora do livro publicado em 2010 no qual a série é, muito livremente, inspirada, um dos principais desafios ao entrar na prisão é "entender qual o seu lugar na ecologia da prisão".
"Quando você coloca o primeiro pé na unidade, nesta estranha nova comunidade na qual está vivendo, a raça é um princípio de organização muito poderoso", disse Kerman, que tinha 24 anos quando transportou a maleta de dinheiro em 1993, à rádio NPR.
"O que descobri foi que, com o tempo, (a raça) era cada vez menos importante. Quando me colocaram para trabalhar com reparos elétricos, não havia separação racial. Trabalhava com negras, latinas e asiáticas", contou a autodefinida ex-lésbica, que entrou em 2004 na prisão de baixa segurança de Danbury, Connecticut.
Desde então, Kerman se tornou uma famosa defensora dos direitos das prisioneiras e é integrante da direção a Associação de Mulheres Presas (WPA).
"Orange" estreou em 11 de julho sem a pompa de outras séries do serviço de vídeos on-line Netflix, como "House of Cards", com Kevin Spacey, e "Arrested Development", que já contava com uma base de fãs sólida graças às temporadas anteriores na TV aberta.
Ambas fizeram história em julho quando se tornaram as primeiras séries on-line indicadas ao Emmy: "House of Cards" disputa nove estatuetas e "Arrested Development" três.
Ao citar "House of Cards", a "Rolling Stone" previu na semana passada que "Orange", que estreou depois do período de votação do Emmy deste ano, "terá tantas indicações como o irmão mais velho em 2014".