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23/08/2011 - 00h07

Nova classe C é a protagonista de "Fina Estampa"

Mauricio Stycer
Crítico do UOL


Depois de uma novela muito distante da realidade, com um protagonista que não trabalhava, duas herdeiras e três vilões psicopatas, a Globo apresenta agora uma trama destinada a colocar no centro do palco o que ela imagina ser a nova classe C do país.

A julgar pelo primeiro capítulo de “Fina Estampa”, de Aguinaldo Silva, trata-se de um universo formado por gente batalhadora, com novos hábitos de consumo e sonhos de ascensão social.

A trama vai girar em torno de Griselda da Silva Pereira, vulgo Pereirão, que circula pela Barra da Tijuca de macacão, boné e a caixa de ferramentas na mão. É uma faz-tudo, como informa o seu cartão. Tem três filhos e um neto – todos moram com ela, numa área mais pobre do bairro.

Na mesa do café da manhã, somos informados, apenas dois deles têm o privilégio de comer iogurte. Um dos potes é para Antenor, que estuda medicina. Está no terceiro ano e diz ser o melhor aluno da turma. Dedica-se aos estudos para não correr o risco de perder a bolsa.

Antenor namora uma estudante de psicologia riquíssima, Patrícia Velmont, e diz para ela que a mãe é uma fazendeira. Antenor tem vergonha de Griselda – um conflito clássico da literatura popular desde que o mundo é mundo.  

A principal amiga de Griselda é Celeste, uma dona-de-casa, cujo marido, Baltazar, é motorista de uma madame, Tereza Cristina Velmont. Baltazar espanca Celeste frequentemente, mas ela não tem coragem de denunciá-lo à polícia.

Conhecida de Griselda, Vilma é taxista. Viúva, mora com a filha Leticia, professora, e a neta Carol. Vilma é outra batalhadora. Em sua casa há um computador de mesa, usado pela filha, para desespero da neta, que sonha com um notebook.

O primeiro capítulo de “Fina Estampa” também mostrou, em detalhes, o núcleo rico, que faz o contraste necessário com a nova classe C – a família da madame, Teresa Cristina, o seu mordomo gay, Crodoaldo, o marido René, chef de cozinha, a filha Patrícia, que namora Antenor, além dos donos de uma grife de moda, Fio Carioca, um casal apaixonado formado por Paulo e Ester.

Curiosamente, os ricos foram tratados em tom de comédia, enquanto os pobres mereceram um olhar respeitoso. Pode ser só um cuidado de primeiro capítulo. Veremos. Essa perspectiva não constitui novidade, mas o contraste com “Insensato Coração” é gritante demais.

Lilia Cabral, como Pereirão, e Christiane Torloni, como Tereza Cristina, são as protagonistas da trama. Ambas enfrentam bons desafios. Lilia tem a chance de criar um personagem bem original. La Torloni precisa inventar uma perua afetada que não lembre a infinidade de tipos semelhantes que povoam a teledramaturgia nacional. A novela está nas mãos das duas.

Mauricio Stycer

Mauricio Stycer é repórter especial e crítico do UOL

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