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24/11/2005
"Ar caseiro" acentua a irregularidade do programa de César Giobbi na TV Cultura


A estação é um edifício antigo, bonito e bem conservado. Todo de preto, o viajante se aproxima do guichê, onde não há fila, e compra um bilhete. O trem chega, ele entra calmamente em um vagão quase vazio, senta-se à janela e põe-se a admirar a paisagem urbana, de tons suavizados pela meia-luz do dia nublado, chuvoso e frio. Cenas que parecem de filme europeu, até que o realista condutor anuncia a próxima parada: estação Quitaúna, em Osasco, município da Grande São Paulo.

Protagonizada pelo colunista César Giobbi, essa cena de abertura do último "Planeta Cidade", exibido pela TV Cultura todas as sextas-feiras, a partir das 22h, ilustra bem o tom benevolente que o programa adota em relação à capital paulista, seu tema principal.

Por conta de tomadas escolhidas a dedo, que se não fossem imagens reais funcionariam como efeitos especiais, a São Paulo do "Planeta Cidade" não aparece opressiva ou violenta. Ela se revela atraente, cortês e charmosa. Não por acaso, as mesmas faces que só se mostram de bom grado para a sociedade afluente que povoa a coluna social de Giobbi no jornal "O Estado de S.Paulo".

Em outras palavras, se "Planeta Cidade" fosse um telejornal, seria um caso grave de miopia. Como não é, a edição do programa acaba tendo papel positivo: ao isolar e afastar os problemas urbanos, ela libera o telespectador para se focar na beleza arquitetônica, conhecer melhor a cidade e suas histórias. Nesse aspecto, foram interessantes os passeios de Giobbi e da repórter Michelle Dufour pelo centro velho, no início do programa, assim como a visita do "turista urbano" Ricardo Freire à capela de São Miguel.

Com 45 minutos de duração, muito tempo para reportagens sobre geografia e história da cidade, o programa busca material complementar dissociado de São Paulo, com resultado de qualidade variada, e tendendo a baixa. Exemplo foi a seção de finanças pessoais, em que a jornalista Mara Luquet recomendava investir parte do 13º salário no mercado de ações, com ênfase tão grande nas virtudes da Bolsa, que mais parecia merchandising do que dica de economia.

Também falhou uma matéria sobre dificuldades de relacionamento, que tinha até psicólogo convidado, mas foi tão curta que mal abriu o tema, e ainda foi rematada pela repórter com pérolas como "seja você mesmo, é melhor assim" e "um encontro --qualquer um-- sempre vale a pena". E por falar em pérolas, "Planeta Cidade" também tem uma "lunóloga", que discorre sobre a influência da Lua em nosso dia-a-dia. Sem comentários.

Voltando a este mundo, o programa sempre termina com uma entrevista, que na última sexta-feira trouxe o loquaz cineasta Arnaldo Jabor como convidado. Giobbi é do ramo, sabe pesquisar, é culto, faz a conversa andar e a entrevista desperta interesse, mas, o lado "cosmético" do quadro é dispensável: sobre a mesa há um relógio de xadrez, e cada interlocutor devolve a palavra batendo no pino do relógio, como enxadristas fazem após cada lance. Além do "duelo" soar artificial, a entrevista ganha um incômodo tique-taque como fundo sonoro.

Outro aspecto que chama a atenção em "Planeta Cidade" é que, exceto a repórter Dufour, nenhum outro fixo --incluindo o próprio Giobbi-- parece à vontade de microfone na mão, o que dá ao programa um ar "caseiro" que acentua sua irregularidade. Com material variando do interessante ao despropositado, do bem planejado à "encheção de lingüiça", "Planeta Cidade" precisa ficar mais homogêneo e fluido, seja investindo na produção ou até mesmo reduzindo sua duração. De deselegância discreta, já basta a das meninas.

PLANETA CIDADE
Quando: todas as sextas, às 22h (reprises aos domingos, às 19h)
Onde: TV Cultura

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