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08/11/2011 - 13h45

'Não me prendo a padrões jornalísticos', diz Elcio Coronato, o 'repórter justiceiro' do 'Legendários'

Mauricio Stycer
Crítico do UOL
  • Elcio Coronato leva um soco depois de abordar morotista supostamente embrigado no programa Legendários exibido no sábado (05/11/2011)

    Elcio Coronato leva um soco depois de abordar morotista supostamente embrigado no programa "Legendários" exibido no sábado (05/11/2011)

Concebido por Marcos Mion com a proposta de “mudar o mundo”, o programa “Legendários” se transformou, em pouco mais de um ano, numa versão dos “Piores Clipes do Mundo”, que o apresentador comandou na MTV. Em busca do público, a atração de sábado à noite da Record, no ar desde abril de 2010, hoje se contenta em expor Mion, de 30 a 40 minutos, fazendo “comentários” sobre imagens de outros programas da emissora.

Neste cenário, o trabalho do repórter Elcio Coronato é a única coisa que restou da proposta original de Mion. De microfone em punho ou com a câmera escondida, Coronato sai às ruas para tratar de assuntos importantes, normalmente envolvendo algum tipo de desrespeito à lei.

A abordagem de Coronato chama mais atenção que os próprios temas que aborda. Com frequência, para enfatizar os problemas que está mostrando, o repórter tenta interferir na realidade, tomando para si a tarefa de resolver as questões. Ele já colocou seu carro na frente de outros, de forma a impedi-los de deixar um shopping, recolheu cones irregulares nas ruas e, na última semana, tentou evitar que motoristas supostamente embriagados dirigissem.
 

Como mostrou o “Legendários” neste sábado (5), Coronato foi agredido por um motorista enquanto tentava convencê-lo a fazer o teste do bafômetro e sair do carro. Em um texto publicado no meu blog, escrito depois de ver o programa mais recente, critiquei Coronato por fazer “jornalismo justiceiro” ao tentar resolver os problemas com as próprias mãos.

Em resposta, ele me enviou um e-mail dizendo estar à disposição para “esclarecer possíveis dúvidas e claro expor o meu ponto de vista sobre tudo isto”. Conversamos por telefone e, em seguida, trocamos alguns e-mails, que geraram a entrevista abaixo:

Como você define o trabalho que faz no “Legendários”? É o “jornalismo do bem”, como defende o Marcos Mion?
Elcio Coronato
- Defino o meu trabalho no “Legendários” como “testes comportamentais”, estilo que já sigo desde que comecei a produzir vídeos na internet na TVCaos, criada por mim em 2002. Interfiro na realidade afim de registrar as reações das pessoas nas ruas e a partir daí exponho o ponto em questão.

Assim como na MTV, você faz trabalho de repórter na Record. Mas você é radialista e não jornalista. Isso muda alguma coisa?
Coronato
- Acredito que sim. Antes de mais nada, sou um comunicador. E por isso mesmo a minha forma de abordar um tema é mais livre, não me prendo a padrões jornalísticos. Como comunicador meu objetivo é que o receptor da mensagem, no meu caso, o telespectador, entenda a mensagem. Penso: qual é a melhor maneira de comunicar o que penso? Como mostrar um preconceito, uma injustiça, um risco ou um tabu de uma maneira que o telespectador se identifique? Esse é sempre o meu ponto de partida.

Eu classifiquei o seu trabalho como “jornalismo justiceiro”, termo que foi repetido pelo Mion, que te chama de “legendário justiceiro”. Você concorda com este termo?
Coronato
- Não concordo, nem discordo, e principalmente não me importo com este rótulo. Eu mostro da minha maneira, o público julga se aquilo é justo ou não, ele se identifica ou não. Quem julga quem tem o senso de justiça é o público.

Você acha que o público tem condições de julgar adequadamente o seu trabalho no "Legendários"? Ele não é muito editado?
Coronato
- Editado ele é, assim como tudo na televisão que não é ao vivo. Mas ser editado ou não, não interfere na proposta. A edição serve para enxugar o material bruto e deixar o VT mais dinâmico e interessante. E justamente por isso o público tem condições de julgar. Não devemos subestimar o público. O público hoje é muito mais crítico que no passado.

Você acha que cabe ao repórter resolver com as próprias mãos, como você faz, os problemas que aponta em suas reportagens?
Coronato
- Na verdade eu não resolvo com as próprias mãos nada. Pode até ser que em casos isolados, sim. Mas não o problema em si. A matéria indo ao ar sim ajuda a resolver o problema. O telespectador que se identifica comigo, passa a pensar duas vezes antes de parar na vaga de idoso porque não quer ser igual ao cara da matéria, passa a pensar duas vezes antes de beber e dirigir, passa a pensar antes de parar na faixa de pedestre. Já ouvi de muitas pessoas nas ruas: “Vou confessar que eu parava na vaga de idoso, depois que vi sua matéria, nunca mais tive coragem.” É isso que eu faço, esse é o meu trabalho.

Você vê o seu trabalho como uma missão?
Coronato
- Não sei o que quer dizer com "missão", mas "missão" para mim parece coisa de soldado na guerra. Eu não sou um soldado e muito menos estou numa guerra. Eu sou um comunicador na televisão.

Na reportagem em que você foi agredido, o público viu tudo o que aconteceu?
Coronato
- Óbvio que a matéria vai ao ar editada, o material bruto é maior, assim como qualquer outra matéria de televisão. Mas o contexto é aquele.

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