Produção sobre máfia italiana quer aproveitar 'boom' internacional das séries
Dramas sobre o mundo do crime muitas vezes se esforçam para apresentar uma versão realista, mas poucos relatam de modo tão oportuno o mundo real como a série de TV italiana "Gomorra", inspirada no best-seller de Roberto Saviano de 2006 sobre o submundo de Nápoles.
O programa, que encerrou sua primeira temporada na terça-feira (10) à noite, lembra séries norte-americanas como "The Wire" ou "Os Sopranos" em seu retrato implacável da violência, corrupção e drogas na área de Nápoles.
Produzida pela unidade da TV paga italiana da News Corp, a Sky Italia, a série tem registrado alguns dos maiores índices da história da estação e foi vendida em mais de 50 países, incluindo a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, aproveitando o 'boom' recente das séries de TV com grandes orçamentos como "Game of Thrones" ou "House of Cards".
Baseada em uma guerra entre facções rivais da Camorra, a máfia napolitana, ocorrida no subúrbio de Scampia há dez anos, a série mostra a área como uma zona sem lei, com assassinos, traficantes e políticos locais corruptos.
Logo no início da exibição, Antonio Iovine, um ex-chefe da Camorra que se tornou testemunha da polícia, deu um depoimento sobre o poder do crime organizado em Nápoles, em um julgamento real.
"Não havia dinheiro para todos em um sistema que era completamente corrupto", declarou então Iovine, que afirmou ter cometido tantos assassinatos que já não conseguia se lembrar de todos eles. Ele descreveu aos investigadores uma economia paralela elaborada com subornos e dinheiro para a proteção, controlada por homens armados da Camorra.
Andrea Scrosati, executivo da Sky Italia responsável pela programação, disse que a série, feita pela equipe responsável da bem-sucedida série italiana "Romanzo Criminale", baseada no submundo de Roma na década de 1970, precisava ser o mais realista possível.
"Não teria sido possível fazê-la de outra maneira", disse ele.
A série foi filmada principalmente na periferia de Nápoles, e a produção envolveu longas negociações com ativistas comunitários locais, mas os produtores insistem que não se comunicam com a máfia.
O elenco, principalmente composto por atores locais desconhecidos, mantém diálogos quase que inteiramente em um dialeto napolitano que muitos outros italianos têm dificuldade para entender, o que levou a emissora a oferecer legendas em italiano.
(Reportagem de James Mackenzie)