Reality show com namorada assassinada de Pistorius incomoda sul-africanos

Por Ed Cropley

  • AP Photo/Courtesy of Stimulii-HO

    Reeva Steenkamp durante o reality show "Tropika Island of Treasure"

    Reeva Steenkamp durante o reality show "Tropika Island of Treasure"

Foi classificado como um tributo a "uma mulher inteligente, bonita e surpreendente", mas a exibição de um reality show caribenho com a namorada do atleta paralímpico Oscar Pistorius, dois dias depois de ela ser morta a tiros, incomodou alguns sul-africanos.

Em particular, os ativistas dos direitos das mulheres criticaram um clipe editado no início da noite de sábado do "Tropika Island of Treasure", no qual a modelo graduada em direito Reeva Steenkamp fala sobre sua "saída".

"Eu acho que a maneira que você sai, não apenas sua jornada na vida, mas a maneira que você sai e faz a sua saída é muito importante", diz ela, inclinando-se contra uma palmeira em uma entrevista pré-gravada no programa passado na Jamaica.

No final da homenagem, provavelmente gravada quando ela foi eliminada do programa, ela joga beijos para a câmera e diz: "Vou sentir muita falta de todos vocês. Eu os amo muito, muito mesmo.".

Pistorius foi acusado na sexta-feira de assassinar Steenkamp nas primeiras horas do dia anterior, embora sua família tenha negado a acusação. Os relatos iniciais afirmam que Pistorius pode ter confundido Steenkamp com um intruso.

Rachel Jewkes, pesquisadora de gênero e saúde no Conselho de Pesquisa Médica Sul Africano (MRC), disse que os clipes foram particularmente insensíveis em um país onde a estimativa é de que uma mulher é morta por seu parceiro a cada oito horas.

A produtora do programa Samantha Moon afirmou que a decisão de transmitir o programa no sábado, como previsto, foi difícil, mas ela queria compartilhar as "lembranças especiais" de Steenkamp.

"Reeva era uma mulher inteligente, bonita e incrível, e nós sentimos que seria uma injustiça manter isso desconhecido daqueles que não a conheciam pessoalmente", disse Moon.

Steenkamp, que foi baleada na cabeça, mão, tórax e quadril, de acordo com reportagens da mídia sul-africana, será enterrada na terça-feira.

Muitos sul-africanos acharam que a decisão de não adiar o programa até depois do funeral foi errada.

"Foi muito insensível colocá-lo no ar antes que ela sequer fosse enterrada", disse o consultor de seguros Montle Ndlovu, de 30 anos. "É uma história tão triste. Ela era jovem e bonita e tinha toda a vida pela frente."

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A queda de Pistorius, o primeiro biamputado a correr nas Olimpíadas, chocou a África do Sul, onde muitos o viam como um raro exemplo de herói que transcendeu as divisões raciais que persistem na "Nação Arco-Íris" de Nelson Mandela.

Mas o assassinato de Steenkamp mais uma vez colocou um holofote sobre os níveis assustadoramente altos da África do Sul de violência contra as mulheres.

O país ainda se recupera do assassinato este mês de Anene Booysen, de 17 anos, que foi estuprada, mutilada e deixada para morrer em um canteiro de obras.

A Liga das Mulheres do Congresso Nacional Africano pediu aos tribunais para negar fiança para Pistorius para mostrar que o governo está falando sério sobre o fim da violência baseada no gênero.

Pistorius está detido em uma delegacia de polícia de Pretória até sua audiência de fiança recomeçar na terça-feira. Sua família disse no sábado que Pistorius estava entorpecido com a dor e choque, e um pastor que o visitou no domingo disse que ele ainda estava perturbado.

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