Gravação de polêmica cena de "Mulheres Apaixonadas" atrai mil pessoas

Por Marta Hurtado
Ayrton Vignola/Folha Imagem

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RIO DE JANEIRO (Reuters)- Fernanda e Teo estão num engarrafamento. De repente, ouvem tiros: é um grupo de policiais que persegue dois bandidos. Eles decidem sair do carro e fugir, mas Teo é atingido de raspão por uma bala. Dois segundos depois, Fernanda leva um tiro no peito.

O que poderia ser parte da crônica de um jornalista relatando a morte de um inocente nas ruas do Rio de Janeiro, é um dos capítulos mais ansiosamente aguardados da telenovela "Mulheres Apaixonadas", da Rede Globo.

A gravação da cena aconteceu nesta terça-feira no bairro do Leblon, onde cerca de mil curiosos, de acordo com a Polícia Militar, se reuniram para assistir durante mais de sete horas às performances de Vanessa Gerbelli e Tony Ramos.

O episódio, que terá no máximo oito minutos, deverá ir ao ar no próximo sábado. Mas a personagem Fernanda morrerá no hospital somente uma semana mais tarde.

A cena, porém, terá que ser regravada, porque um dentre os mais de 60 fotógrafos e jornalistas que registravam a gravação acabou disparando um flash justamente no momento do impacto da bala no peito de Fernanda. A regravação está marcada para quinta-feira.

POLÊMICA

Desde que se soube meses atrás que Fernanda morreria atingida por uma bala perdida, a controvérsia sobre se a novela -- assistida diariamente por cerca de 35 milhões de pessoas -- deveria ou não retratar o problema vem sendo travada entre moradores e autoridades cariocas.

"Não entendo a polêmica", disse a própria Vanessa Gerbelli.

"A cena é um alerta, um protesto contra o que vem acontecendo na cidade, algo que vai levar o público a questionar-se sobre o assunto. Quem sabe esse movimento possa despertar algumas consciências para que se busquem soluções", concluiu a atriz.

A Associação de Hotéis do Rio de Janeiro se posicionou oficialmente contra o episódio, argumentando que a exibição da cena não será boa para a cidade, afastando turistas.

Tanto Rubem Medina, secretário municipal do Turismo, quanto Sérgio Ricardo Martins, presidente da estadual TurisRio, acham exagerados os temores de que a cena possa afetar o turismo, na medida em que "a violência já está nos jornais todos os dias", segundo Medina.

Mas, para Martins, a cena "não seria necessária, pois coisas como essa não acontecem na zona sul."

E esta é uma afirmação que o autor da novela, Manoel Carlos, contesta de frente. "Não são apenas os pobres que se tornam vítimas de balas perdidas... Todo o mundo está sujeito a isso. Houve inclusive uma estudante que foi baleada dentro de uma faculdade", afirmou ele, referindo-se ao recente caso da estudante Luciana Gonçalves de Novaes, de 19 anos, atingida na Universidade Estácio de Sá.

De acordo com as estatísticas da polícia civil do Rio de Janeiro, até agora ninguém morreu vítima de bala perdida na zona sul da cidade, onde fica o Leblon. Mas os moradores da região contam que já houve casos reais de perseguições com trocas de tiros.

Dados oficiais também deixam claro que as balas estão nas ruas. Aproximadamente 42 por cento dos pacientes da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) ficaram paraplégicos ou tetraplégicos depois de serem vítimas de disparos de armas de fogo.

A ABBR, centro especializado no tratamento de lesões da medula óssea, funciona há 38 anos no Rio de Janeiro e, segundo Ana Luiza Baptista, chefe da unidade raquimedular, "nunca foi visto um aumento tão grande quanto agora de pacientes com ferimentos de bala".

E a polêmica deverá continuar muito além da novela, cujo final está previsto para outubro.

Uma pesquisa do instituto Sensus conduzida a pedido da Confederação Nacional dos Transportes indicou que a maioria 63 por cento dos brasileiros é a favor da proibição do porte de armas para pessoas comuns.

No último 23 de julho o Senado aprovou por unanimidade o Estatuto do Desarmamento, que, entre outras coisas, prevê que a posse de uma arma de fogo não regularizada seja punível com pena de três anos de prisão, e, no caso de armas de uso restrito, de seis anos de detenção.

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