Com série de TV e filme "menor", Shyamalan dá novo rumo à carreira

Giselle de Almeida

Do UOL, no Rio

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    O diretor M. Night Shyamalan

    O diretor M. Night Shyamalan

Houve um tempo em que um menino via gente morta o tempo todo e o nome de M. Night Shyamalan era sensação. Mas o furor causado por "O Sexto Sentido" (1999) foi encoberto pela poeira após o indiano pesar a mão, embarcar em várias superproduções e emplacar fiascos consecutivos, o que o deixou com pouco crédito entre os cinéfilos. O ano de 2015 pode representar uma significativa mudança de rumo em sua carreira. Além de apostar num filme de baixo orçamento, o diretor faz sua entrada na TV com a série "Wayward Pines", que estreia mundialmente nesta quinta-feira (14) e chega ao Brasil pela Fox, às 22h30.

"É uma fase mais arriscada. Estou animado, gosto disso", afirmou o diretor, convidado pelo RioContentMarket para uma rápida visita ao Brasil, em fevereiro, em entrevista ao UOL.

A direção do episódio piloto leva a assinatura do cineasta, que é produtor executivo da atração e teve grande participação na escalação do elenco e da contratação da equipe. O clima de suspense do programa remete a seus filmes mais antigos, mas também já provocou comparações com "Twin Peaks", criada por Mark Frost e David Lynch.

A sinopse até justifica a lembrança: o agente do FBI Ethan Burke (Matt Dillon) chega a uma pequena e estranha cidade do interior dos Estados Unidos para uma investigação. Em busca de dois colegas desaparecidos, ele sofre um acidente e acaba preso em Wayward Pines. Ao tentar voltar para casa, sem sucesso, percebe que corre perigo. 

Segundo o diretor, o que as duas produções têm em comum é um certo humor sombrio, mas as semelhanças param por aí. "Na nossa série, existe uma razão para os personagens agirem de forma tão estranha. Pode soar parecido, mas a última coisa na sua mente será 'Twin Peaks'", garantiu.

Para os telespectadores mais atentos, a primeira cena de "Wayward Pines" tem um quê de déjà vu por outro motivo: a câmera mostra um olho em close e revela em seguida um homem de terno, caído no meio de uma mata, descobrindo, aos poucos, um mundo desconhecido. Se você lembrou de "Lost" não está delirando, mas Shyamalan jurou que não foi uma tentativa de estabelecer um paralelo entre as tramas, recheadas de mistérios.

"Isso não me ocorreu até depois de filmarmos. Está no livro ("Pines", de Blake Crouch), Burke acorda numa floresta. Na verdade, fiz um plano específico que deixaria ainda mais parecido, mas decidi não colocar", disse, aos risos.

Também não há riscos de a série ter um final tão polêmico quanto o de "Lost", já que o mistério principal, desta vez, será revelado na metade da primeira temporada, no quinto ou sexto episódio. Uma decisão ousada, mas que não o deixa temeroso quanto ao interesse do público nos episódios restantes.

"Quando você descobre, todas as histórias se abrem, você começa a ver questões que não havia imaginado serem possíveis. Tivemos problema, na verdade, para reduzi-las. É excitante. Não é o fim, é só o início. O que a torna única é que ela muda de gêneros. E é muito interessante assistir ao que você já conhece por outra perspectiva", explicou.

Diretor diferente

A experiência na TV foi tão animadora que Shyamalan já tem planos de voltar. Mas o contato com a nova forma de produção já o transformou em um diretor diferente. "Perdi um pouco o preciosismo, no pior sentido da palavra, que não te deixa crescer. Escuto de maneira diferente agora, a mim mesmo e aos outros. Eu levava tudo muito a sério", afirmou ele, fã de "Sopranos", "Game of Thrones", "Breaking Bad" e "Mad Men".

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Pôster de "A Visita"

Este ano, ele também assume um novo rumo no cinema ao lançar o thriller "A Visita", que tem estreia prevista para outubro no Brasil. Depois de resultados ruins com grandes produções como "Depois da Terra" e "O Último Mestre do Ar", ele bancou o filme do próprio bolso e só depois procurou um grande estúdio (Universal) para distribuí-lo. O orçamento, de cerca de cinco milhões de dólares, nem se aproxima dos números dos trabalhos anteriores, mas a liberdade compensa.

"Meus dois últimos filmes custaram 260 milhões e fizeram 600 milhões de dólares. Isso é sufocante. Aprendi muito nesses filmes, que tinham muita computação gráfica, mas é tão bom se concentrar na história a ser contada. Qual é a menor quantidade de dinheiro que eu posso usar para poder fazer um filme diferente? Era a pergunta que eu me fazia", explicou.

Ele prefere não dizer se a decisão tem a ver com as duras críticas que recebeu nem se concorda com elas ("Crio minhas histórias, me apaixono por elas e faço os filmes do melhor jeito possível"). Mas a mudança de rota aos 44 anos de idade e mais de 20 de carreira era uma forma de se provar também.

"Minhas filhas cresceram, por um tempo estive envolvido em materiais mais jovens por causa delas, mas estou animado. Adoro o humor e o tom sombrio dessas histórias", justificou o pai de Saleka, 19, e Ishana, 16. "Quis fazer algo único. Quis ver como seria, como artista, e ver se a indústria aceitaria. Os cineastas independentes sempre foram meus heróis, Woody Allen, Spike Lee, os irmãos Coen. Pensei: talvez é o que eu deveria estar fazendo", afirmou.

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