Tramas de personagens gays não vão mudar, garante autor de "Babilônia"
Giselle de AlmeidaDo UOL, no Rio
A relação entre Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) provocou polêmica logo nos primeiros capítulos de "Babilônia" e gerou até um pedido de boicote pela parcela mais conservadora do público. Mas Ricardo Linhares, que escreve a novela com Gilberto Braga e João Ximenes Braga, garante que as tramas do casal não serão alteradas. E o público pode esperar novos beijos gays, porque, segundo o escritor, a ideia é mostrar um casamento como outro qualquer.
"Haverá beijos, selinhos, abraços, demonstrações de afeto do casal, sem necessidade de alarde. O beijo não é um evento. Não é feito para chocar. É natural num casal. E eu gostaria que tanto os beijos quanto a família homoafetiva de Teresa, Estela e Rafael (Chay Suede) fossem encarados com naturalidade. Há cada vez mais famílias assim, ou de formação heterodoxa, na moderna sociedade brasileira, basta olhar em volta. Infelizmente, algumas pessoas se deixam levar pelo fundamentalismo religioso, com argumentação anacrônica, ignorando a pluralidade da formação das famílias contemporâneas", diz.
Como o autor havia dito ao UOL, a oficialização da união de 35 anos das personagens vai mesmo acontecer, no capítulo 35, que vai ao ar no dia 24 de abril: o capítulo, inclusive, já está escrito. Embora outras novelas da Globo já tenham sido afetadas pela rejeição do público - em "Insensato Coração", a orientação era de "esfriar" a relação de Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) -, o autor garante que a emissora não fez nenhum pedido de alteração nas tramas de "Babilônia". Com isso, o envolvimento previsto para os personagens Carlos Alberto (Marcos Pasquim) e Ivan (Marcello Melo Jr.) também está garantido.
"Essa relação será mantida, sem modificação. Mas trata-se de uma história completamente diferente. Os personagens ainda nem se conheceram. Essa história só começará a partir do capítulo 45", adianta Linhares.
O escritor minimiza a polêmica suscitada por parlamentares que pediram boicote à novela, afirmando se tratar de uma minoria. E que não se pode generalizar, falando de uma rejeição de evangélicos, por exemplo, porque esses políticos "não são porta-vozes da religião".
"Alguns poucos parlamentares falaram mal para atrair os holofotes para si e fazer média com seus eleitores. Esse apelo não tem respaldo oficial. Basta analisar a ficha desses congressistas: eles nunca apresentaram um projeto relevante ou deram qualquer contribuição significativa para o progresso do Legislativo e do país. Eles apenas ocupam espaço, estão se aproveitando do cargo para chamar a atenção", diz o autor, que considera o boicote uma iniciativa legítima.
"Certos pastores não têm representatividade para falar em nome dos evangélicos como um todo. Não são porta-vozes da religião. Os evangélicos merecem todo respeito e consideração. A maioria dos evangélicos é formada por cidadãos conscientes e respeitosos. Todos têm o direito de propor boicote aos programas de TV, desde que sem agressões. Vivemos numa democracia, num país laico, sem censura. Viva a liberdade de cada um expressar a sua opinião", analisa.
Linhares ressalta a repercussão positiva da novela, que considera maior do que as críticas, mas diz que não ignora o público amplo de uma novela do horário nobre, que abarca, inclusive, pessoas conservadoras.
"Se o beijo gay causou incômodo a elas, por outro lado foi libertador para milhares, talvez milhões, de espectadores que sofrem diariamente discriminação por sua orientação sexual", afirma o escritor, que garante não ter a intenção de impor qualquer assunto ao espectador.
"Procuro promover a discussão de temas que são importantes para a sociedade, como o combate ao preconceito e à intolerância. A sociedade brasileira é madura e está pronta para assitir a demonstrações homoafetivas. Não se deve minimizar o apoio da maioria do público por causa da reclamação de uma minoria", justifica.