Ex-Sublimes, Lilian Valeska revive grupo musical em "Sexo e as Negas"

Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio
Pedro Paulo Figueiredo/TV Globo
Lilian é Lia na série "Sexo e as Negas"

"Sexo e as Negas" funcionou como uma espécie de túnel do tempo na vida da atriz e cantora Lilian Valeska. Ex-integrante do trio As Sublimes, que fez sucesso na década de 90 com o hit "Boneca de Fogo", ela teve a chance de sentir novamente o gostinho de fazer parte de um grupo musical na série de Miguel Falabella, ao encerrar os episódios do programa com uma performance ao lado das outras três protagonistas. "Quando a gente vai fazer alguns clipes me dá uma saudadinha. É uma felicidade estar vivendo uma coisa parecida de novo", contou a atriz ao UOL.

A memória afetiva chegou com força logo no episódio de estreia. Assim como As Sublimes bebiam na fonte de artistas como The Supremes, da Motown, importante gravadora americana nos anos 60, Lia (Lilian), Zulma (Karin Hils), Tilde (Corina Sabbas) e Soraia (Maria Bia) se inspiraram nas Marvelettes para encarnar divas do mesmo período. "Gosto muito de cantar em grupo, comecei num coro da Igreja Presbiteriana da Penha. E As Sublimes aliavam várias coisas que eu gosto, como a dança", lembra ela, que nunca fez aula de canto.

Reprodução
O grupo As Sublimes, formado por Isabel Fillardis, Karla Prietto e Lilian Valeska, nos anos 90

Embora o grupo tenha acabado em 2000, após sete anos de carreira, dois discos lançados e duas formações (com a entrada de Flávia Santana no lugar de Isabel Fillardis), até hoje Lilian é reconhecida pelos fãs do trio. E volta e meia ouve pedidos para que elas voltem à ativa. "Não vou dizer não, nunca é tarde. Temos cumplicidade na vida e na arte", afirma ela, que continua amiga das três. "Karla é a que menos vejo, porque é backing vocal e faz muitos shows. Mas falo sempre com a Flávia e sou madrinha do filho mais novo da Isabel", diz.
 
Carreira solo
No entanto, uma carreira solo está nos planos de Lilian para assim que a primeira temporada do programa acabar. Ano passado, ela entrou em estúdio para regravar canções famosas nas vozes de mulheres que ela admira, como Elza Soares, Dolores Duran e Sandra de Sá no CD "Elas". "Ainda não finalizei. Fiz uma peça atrás da outra e emendei com a TV, dei uma parada. Mas só falta mandar pra fábrica e fazer parceria com uma gravadora", conta ela, que pretende fazer shows pelo Brasil em 2015.
 
Só que o foco agora é sua porção atriz, em evidência graças ao seu papel de maior destaque na televisão. Após um pequeno papel no remake de "Irmãos Coragem", em 1995, ela se encontrou no teatro e se tornou um dos nomes mais requisitados dos musicais brasileiros, em espetáculos como "Ópera do Malandro" e "Tim Maia". Foi nos palcos, inclusive, que nasceu a parceria com Miguel Falabella, com quem trabalhou nas peças "Godspell" e "Império". 
 
João Miguel Júnior/TV Globo
Zulma (Karin Hils), Tilde (Corina Sabbas), Soraia (Maria Bia) e Lia (Lilian Valeska) vestidas como as Marvelettes na série
 
E foi pelas mãos do autor que a atriz e cantora está experimentando um assédio até então inédito em sua trajetória. "O teatro atinge um público de duas mil pessoas nas salas maiores. Na TV, o alcance é de milhões. Até uma semana atrás, não tinha noção disso, não tinha caído a ficha", conta. A experiência de atuar diante das câmeras tem sido um aprendizado ("Preciso segurar os movimentos, usar outro tom de voz, falar bem pertinho"), mas é na rua que ela sente a mudança mais transformadora. "Quando a gente grava em Bonsucesso, as crianças ficam loucas. Não existe outro seriado onde 80% dos atores são negros, isso cria uma identificação", comemora.
 
Mas nem tudo foram flores até essa aceitação, e ela diz ter ficado magoada com as acusações de racismo que a série sofreu antes de estrear. "Houve uma recusa pelo fato do nome, as pessoas nem compreendiam a associação ao 'Sex and the City'. Foi um pré-julgamento. Não tem nada de feio, nem de pejorativo. No início, fiquei triste. Agora, deu uma acalmada, a repercussão tem sido boa em todos os setores, do mais chique ao mais povão", conta ela, que diz ter encontrado em Cordovil várias mulheres como as retratadas na série.
 
Aliás, ela mesma vê semelhanças com sua personagem. "Algumas questões são parecidas. Sou separada e tenho uma filha de 14 anos, e a função mais difícil do planeta é educar. É um desafio ajudar a formar um caráter, nisso eu me identifico. E essa coisa de ser guerreira, batalhadora", conta. Mas a identificação termina aí. Se Lia é avó aos 38, a atriz (que não revela a idade) nem se imagina tendo netos tão cedo. "O mais difícil preocupante é uma adolescente gerar uma criança, elas não têm responsabilidade. No seriado, quem cuida mesmo da criança é a avó, porque a mãe deixa a menina dormindo e vai pro baile", analisa.