"Sou gordinha, mulher e fujo das regras", diz repórter aposta da Record
Natália GuarattoDo UOL, em São Paulo
Há 10 anos no jornalismo policial, a repórter Fabíola Gadelha chamou a atenção de Marcelo Rezende, apresentador do "Cidade Alerta", ao entrevistar estupradores, ladrões e assassinos na TV A Crítica, afiliada da Record no Amazonas. Logo, Fabíola passou a fazer entradas ao vivo diárias no programa de Rezende e, atualmente, é ela quem comanda as edições de sábado da atração.
Para Fabíola, uma das poucas mulheres a trabalharem no segmento policial na TV aberta, foi seu "estilo diferente" que conquistou o público e despertou o interesse da Record. "Sou gordinha, mulher e fujo das regras", afirmou a jornalista em entrevista ao UOL. "Os telespectadores viram em mim uma pessoa que é gente como a gente. Não emagreço, sambo se quiser, faço o que me dá na telha e ainda boto para cima do bandido", resume.
Fabíola diz ainda que toparia apresentar um programa próprio, mas não confirma uma proposta da Record ou de outra emissora. "Estou pronta para qualquer missão", diz.
Rabo de Arraia e "Aquém do Peso"
Por conta de seu estilo inquisitivo de falar com os criminosos, Fabíola ganhou de Rezende o apelido de "rabo de arraia". É assim que o apresentador se refere a ela nas participações que a jornalista faz diariamente no "Cidade Alerta". Nas últimas semanas, a repórter tem feito aparições conjuntas com o apresentador nas edições diárias da atração e ganhou um quadro, chamado "Aquém do Peso".
O título brinca com o reality show "Além do Peso", exibido no "Programa da Tarde", em que os participantes competem para ver quem emagrece mais. Na paródia do "Cidade Alerta", Rezende busca um namorado para acompanhar o ritmo de Fabíola na ingestão de pizzas.
Casada, mãe de dois filhos e com 33 anos, Fabíola diz que "ama" as brincadeiras de Rezende e não encara as piadas pejorativamente. "O preconceito está nos olhos de quem não está gostando", afirma. "Adoro ser gordinha, me acho bonita e gostosa. Acho que sou muito mais bonita do que umas magricelas por aí", completa, gargalhando.
"Virei parceira da polícia"
Apesar do bom humor e da veia cômica, Fabíola conta que gosta de ser repórter policial justamente por ser séria e ter "justiça nas veias". A manauense começou a carreira como jornalista esportiva, mas não foi bem-sucedida. "Não durei seis meses e até me aconselharam a mudar de profissão", conta.
Fabíola então passou a fazer matérias relacionadas à defesa do consumidor. "Eu achava que o jornalista tinha que ter um papel na sociedade, não é só informar, tem que ajudar. Foi aí que eu comecei a colocar opinião", diz.
As técnicas de entrevista de Fabíola fizeram sucesso desde o começo com o público, mas, de acordo com ela, "jornalistas convencionais" passaram a criticá-la. "Dizem que jornalista não pode se envolver. Não penso assim, eu me coloco no lugar da vítima. Falo para o bandido o que o povo quer falar", afirma. Convicta, Fabíola diz que "poderia ter sido expulsa do jornalismo" por insistir em interrogar criminosos. "Posso estar errando como jornalista, mas estou acertando como pessoa", conclui.
As reportagens em que entrevista presos – e, muitas vezes recebe respostas agressivas– se tornaram a especialidade de Fabíola. A repórter conta que algumas das matérias foram usadas como provas em inquéritos policiais. "Eles não confessavam para a polícia, mas falavam no meu microfone", conta, orgulhosa. "Virei parceira da polícia", completa.
A fama de Fabíola chegou aos bandidos do Amazonas e a repórter passou a receber ameaças. "Eu não entrevisto só ladrão de galinha, entrevisto chefe de facção e político corrupto", diz ela, que anda de carro blindado em Manaus e tem segurança 24 horas em sua casa.
"Futuro brilhante na televisão"
Cada vez mais em São Paulo e menos em Manaus, Fabíola tem feito poucas reportagens e tudo indica que sua carreira mudará de direção em breve. A repórter diz que ainda não recebeu convites formais para ter um programa próprio, mas que "está pronta para qualquer missão".
"Estou vivendo um momento muito bom na Record e agarrei a oportunidade", diz. A jornalista também diz que foi sondada por pessoas da Band, onde Luiz Bacci, outra cria do programa "Cidade Alerta", estreará uma atração nas próximas semanas.
Apadrinhada por Marcelo Rezende, ela diz que não pensa no futuro profissional, mas que confia no "feeling" do apresentador. "Ele me disse que tenho um futuro brilhante na televisão".
Ao UOL, Rezende afirmou que Fabíola tem potencial para superar todos os grandes nomes dos programas policiais da atualidade. "Eu sempre quis montar uma equipe de mulheres - pela sensibilidade e porque na hora do 'vamos ver' a mulher é mais incisiva e decisiva. Essas qualidades podem levá-la a um patamar desconhecido e superior ao nosso", disse.