"Ele foi o grande amor da minha vida", diz mulher do ator Jorge Dória

Carla Neves

Do UOL, no Rio

O corpo do ator Jorge Dória está sendo velado na sala 1 do Memorial do Carmo, na zona portuária do Rio de Janeiro. A viúva Isabel Cristina Gasparin falou ao UOL que ele foi o grande amor de sua vida.

"É uma perda muito grande. Ele foi o grande amor da minha vida. Foram 30 anos de convivência", disse ela ao chegar para o velório.

Isabel relembrou momentos tristes e felizes ao lado do companheiro, e que ele estava sempre de bem com a vida.

"Hoje faz 9 anos que ele teve AVC. Um grande companheiro, amigo, me ensinou tudo na vida. Era muito alegre, um cara sempre de bem com a vida. Eu perguntava: 'você nunca fica deprimido?'. E ele dizia: 'depressão eu não tenho, isso é coisa de cabeça. Posso ter momentos de tristeza, mas depressão não. A vida é boa demais'", falou.

O ator Romeu Evaristo, do "Zorra Total", lembrou da atuação de Dória no humorístico e disse que aprendeu a ser "mais humorista" com o colega: "O Jorge me ensinou a fazer inflexão. No quadro do Zorra Total, em que ele era o síndico, ele falava bota na ata, tira da ata com várias inflexões diferentes. Nos dez anos da minha carreira que trabalhei com ele, aprendi a ser mais humorista".

Nuno Leal Maia elogiou o trabalho de Dória e relembrou os bons momentos que passou como amigo. "O Dória era incrível, um grande amigo, muito carinhoso. Tentou de todos os jeitos voltar à TV, mas não deu. É uma perda não só para a TV, mas para o teatro e o cinema. Era um ator que ia da comédia ao drama com a maior facilidade. Um amigo muito bacana. A gente ficava nos corredores da Globo e da Band contando piadas, conversando, a gente ria muito", contou.

Irmão mais velho de Jorge Dória, o general da reserva Fileto Pires Ferreira, de 95 anos, lamentou a perda do ator. E contou que Jorge foi um dos únicos da família que não seguiu a carreira militar.

"O Jorge não quis seguir a carreira militar como quase toda família. Gostava de uma vida boêmia, que não coadunava com a hierarquia e as posturas da vida militar. Mas foi muito bem-sucedido, brilhante na carreira que escolheu. Tinha uma rapidez de raciocínio impressionante para colocar um caco. Empolgava as platéias. Eu ia a todas as peças dele para me divertir muito. Sempre foi engraçado em família também. Irradiava bom humor, alegrava a todos. Quando o Jorge chegava nos ambientes havia a esperança de risos e gargalhadas fartas".

João Carlos Barroso, atualmente no "Zorra Total", destacou o bom humor de Dória. "Dificilmente venho a um sepultamento, só os de pessoas especiais. Fui a uns dez. Era um gênio, talentoso, só contribuiu para a minha formação artística. Não era o rei do caco só na profissão, mas na vida. Se for lá no [restaurante] La Fiorentina, estão debaixo de uma mesinha as assinaturas de Jorge Dória e João Carlos Barroso. Lá nós ríamos muito", relembrou.

Também do "Zorra", José Santa Cruz disse que o ator aproveitou bem a vida. "Era irreverente, sempre alegre, ia no uísquinho toda noite. Trabalhei com ele no teatro e na Tupi. Aproveitou a vida, casou-se diversas vezes. Contracenar com ele era uma aula", declarou.

O corpo do ator e comediante Jorge Dória será sepultado às 16h desta quinta-feira (7) no Cemitério São Francisco Xavier, também conhecido como Cemitério do Caju, na norte do Rio de Janeiro.

Despedida
Dória morreu às 15h05 desta quarta-feira (6) por complicações cardiorrespiratórias e renais, aos 92 anos. Ele estava internado desde 27 de setembro no Hospital Barra D'Or, na zona oeste do Rio de Janeiro, quando deu entrada com quadro de pneumonia. Ele estava tratando de uma infecção respiratória e morreu de complicações cardiorrespiratórias e renais. Ele fazia uso de respirador e estava sendo medicado com remédios para controlar a pressão.

A última aparição do ator na TV foi no humorístico "Zorra Total", da TV Globo, dirigido por Maurício Sherman. Ao UOL, Sherman  lamentou a perda do amigo, lembrou que estreou no teatro junto com Dória e que competiu com o amigo o título de ator revelação. "Eu era da companhia da Eva Todor, e ele da companhia do Graça Melo. Ganhei o título de ator revelação, mas ele merecia tanto quanto eu. Dali para a frente nos tornamos amigos. Ele vai fazer muita falta. Tinha uma naturalidade incrível, era um ator que contribuía para o sucesso de todos os personagens que fazia. Foi uma escola", afirmou.

Jorge deixa um filho, Rodrigo, do casamento com a atriz Leda Valle. Ele também foi casado com a vedete Irís Bruzzi.

Trajetória

Carioca da Vila Isabel, Jorge Pires Ferreira, o Jorge Dória, iniciou na carreira artística na década de 1940, quando abandonou o emprego estável. Fez sua estreia no teatro, trabalhando na companhia de Eva Todor e Luis Iglesias, da qual foi integrante por 10 anos.

Iniciou no cinema em um papel coadjuvante no melodrama "Mãe" (1947), do radialista Teófilo de Barros. Depois, o estúdio Atlântida o contratou para o melodrama antirracista "Também Somos Irmãos" (1950) e o policial "Maior que o Ódio" (1951), ambos de José Carlos Burle.

Em 1962, foi um delegado no premiado "Assalto ao Trem Pagador", de Roberto Faria, que lhe rendeu o Prêmio Saci de melhor ator coadjuvante.

  • Divulgação

    Dória e Natália do Valle em "Que Rei Sou Eu?"

Fã de filmes policiais, criou o argumento e colaborou no roteiro de mais dois filmes do gênero: "Amei um Bicheiro" (1952), de Jorge Ileli e Paulo Wanderlei; e "Mulheres e Milhões" (1961), de Ileli. Assinou também o argumento de "Absolutamente Certo" (1957), de Anselmo Duarte, e de outros 11 filmes. Nunca escreveu para o teatro.

Estreou na televisão em 1970, na extinta TV Tupi, no elenco da novela "E Nós, Aonde Vamos?", da cubana Glória Magadan. Foi para a Globo em 1973, onde participou da primeira versão do seriado "A Grande Família", em que fez o papel do patriarca Lineu, interpretado por Marco Nanini atualmente.

Sua primeira novela na emissora foi "O Noviço", em 1975, adaptação de Mário Lago para a peça homônima de Martins Pena. Depois de um breve período na TV Tupi, em que atuou na novela Aritana, de Ivani Ribeiro, voltou à Globo em 1978, para protagonizar "O Pulo do Gato".

Em 1974, viveu no teatro o homossexual George na primeira montagem da comédia "A Gaiola das Loucas", de Jean Poiret, com adaptação e direção de João Bethencourt. Voltou ao espetáculo em 1995. Atuou em vários filmes do gênero pornochanchada, entre elas, "Como é Boa a Nossa Empregada" (1973), "Oh, que Delícia de Patrão!" (1974) e "Com as Calças na Mão" (1975).

Na TV, Jorge Dória ainda participou de tramas como "Tieta", "Deus nos Acuda", "Meu Bem, Meu Mal", "Era Uma Vez" e "Suave Veneno". O sucesso de público veio com "Que Rei Sou eu?", de 1989, onde viveu conselheiro Vanoli Berval. Sua última participação na televisão foi em "Zorra Total".

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