"Os pais não são responsáveis por todos os problemas dos filhos", diz Jon Voight
Mariane Morisawa
Do UOL, em Los Angeles (EUA)
O personagem-título de "Ray Donovan", série em cartaz na HBO (segundas, 21h), é especialista em "salvar" celebridades de Hollywood de seus próprios podres –por exemplo, um astro de um filme prestes a estrear que é pego fazendo sexo com outro homem. Mas, em casa, Ray (interpretado por Liev Schreiber) não é capaz de resolver nada, especialmente depois que seu pai, Mickey (Jon Voight), sai inesperadamente da prisão. O filho odeia o pai mafioso, por razões ainda misteriosas para quem assistiu aos dois primeiros episódios já exibidos no Brasil.
Os irmãos Donovan têm uma bela cota de problemas: Bunchy (Dash Mihok) não consegue ficar sóbrio, e Terry (Eddie Marsan) é um boxeador com Mal de Parkinson. "Se um pai comete um erro grande, afeta os filhos", disse Voight numa entrevista para a imprensa internacional, em Los Angeles. "Mas cada pessoa é única. Eu mesmo sou muito diferente dos meus dois irmãos. Ou seja, os pais também não são responsáveis por todos os problemas dos filhos!" Voight é pai de Angelina Jolie, com quem andou brigado por vários anos. Os dois teriam se reconciliado depois da morte da mãe da atriz, em 2007.
Na verdade, tudo vem da imaginação dos roteiristas, claro. Mas não está muito distante da verdade.
A relação conturbada foi uma das razões pelas quais o ator de 74 anos foi alvo de comentários em Hollywood. "Essa ideia de programas de fofoca não é do meu gosto", disse. Mas ele acha que as situações retratadas na série envolvendo os famosos não são distantes da realidade. "É completamente autêntico! Cada detalhe! Aconteceu em algum lugar nesta cidade, não muito longe daqui! Na verdade, tudo vem da imaginação dos roteiristas, claro. Mas não está muito distante da verdade, não."
Ray Donovan pode ser o protagonista da história, porém Mickey é o catalisador do drama. Logo no primeiro capítulo, ele mata um padre. "Eu não o considero nem bom nem mau", afirmou. "Ele é como um animal. Não pensa duas vezes. Um crocodilo é um crocodilo, o certo e o errado não se aplicam. Só não chegue muito perto dele." As pessoas agora riem quando ele entra em algum lugar. "Acham que sou meio maluco por estar interpretando esse personagem", conta o ator.
Segundo o Voight, não foi preciso pensar muito para aceitar o compromisso de fazer um seriado de televisão, algo que nunca tinha experimentado por mais de uma temporada. "O roteiro era brilhante. O personagem era muito maluco. Ele tinha pouco tempo na tela, mas, quando está na tela, é muito dinâmico. E quando não está, estão falando dele. É um bom papel, original e divertido."
Voight viu coincidências com trabalhos anteriores: em "Expresso para o Inferno" (1985), tinha vivido um prisioneiro de uma penitenciária de segurança máxima, e em "O Campeão" (1979), um boxeador. A aposta valeu para o veterano, que não se destacava desde uma participação na série "24". Em sua estreia, "Ray Donovan" foi recordista de audiência entre as produções originais do canal a cabo americano Showtime (que transmite "Homeland", entre outros). A segunda temporada já está assegurada.