"Não fiquei mais humilde, fiquei mais atento", diz Rafinha Bastos, que volta à TV neste sábado (20)
James Cimino
Do UOL, em São Paulo
-
Reprodução/Twitter
O humorista Rafinha Bastos em anúncio de seu programa no FX
Estreia neste sábado (20) o programa "A Vida de Rafinha Bastos", no canal a cabo FX, às 23h. Criada e estrelada pelo humorista, o programa mostra como seria a vida dele caso ele fosse parar na cadeia.
Em oito episódios, o programa também brinca com situações reais da vida de Rafinha, mas montadas de forma ficcional, como o vizinho que o odeia que, segundo ele, é uma piada com sua relação com a imprensa. Questionado se tinha ficado mais humilde após os problemas que sofreu na carreira, respondeu que só ficou "mais atento". Leia a entrevista completa:
UOL – Por que você acha que as pessoas se ofendem com suas piadas? Dia desses, o programa Lado Bi discutiu com os humoristas Márcio Américo e João Vicente de Castro, do Porta dos Fundos, como fazer piada sobre gays sem ser homofóbico. Eles disseram que hoje o motivo de piada é o homofóbico. Você concorda?
Rafinha Bastos – Olha, eu acho que a luta do público gay é totalmente legítima, mas eu sempre me pergunto por que aumenta o ódio aos gays em um momento em que mais se debate os direitos dos gays, em que os gays têm mais visibilidade... Eu acho que é porque a luta talvez esteja sendo feita da maneira errada. Os gays querem apenas o direito de amar, mas a luta tem sido combativa. Quando você briga com um fanático religioso, na cabeça deles você está brigando com Deus. Eu estava assistindo à Parada Gay, que eu acho muito divertida, e vi uns homofóbicos gritando: "Vão se fuder. Seus viados! Vão tomar no cu!" Contei isso para um amigo meu, que é gay, e ele disse: "Mas é tudo que os gays querem!" Se eu coloco uma piada dessas no meu show, e alguém tira do contexto, vira a seguinte manchete: "Rafinha diz que gays têm mais é que se fuder!" Daí pro Jean Wyllys levantar uma bandeira contra mim é um pulo. Então, não existe preconceito sem interpretação. Às vezes a piada só está pondo uma luz sobre o assunto, mas é interpretada de outra maneira.
Mas você concorda que o alvo das piadas mudou? Os antigos estereótipos do que era motivo de chacota, por exemplo?
Eu acho que os tempos mudaram. Esses dias eu conversava com a Fernanda Young e ela me disse que piadas que eles escreviam para "Os Normais" hoje em dia dariam problema.
Por que você acha que passou a ser tão odiado?
Eu não acho isso. Primeiramente as pessoas precisam entender que 70% dos comentaristas de internet está com raiva, ou da vida, ou do assunto que estão lendo. Porque o cara que gosta do que lê, quase não comenta. Quem se motiva a comentar, se motiva pela raiva. Eu fui eleito a personalidade mais influente do Twitter. O que isso significa? Merda nenhuma. Mas coloca essa matéria na internet com meu nome, vai ter clique. Meu nome gera visualização. Agora, eu ando na rua, nunca ninguém me xingou. As velhinhas me param e dizem: "Gosto tanto de você, mas toma cuidado que o pessoal tá muito bravo contigo."
Você calçou as sandálias da humildade?
Eu acho que existe um jogo a ser jogado. E eu não jogo esse jogo. Mais humilde não fiquei. Fiquei mais atento, porque passei a entender o processo de descontextualização das coisas que eu dizia.
Você acha que talvez as coisas que você expressa pareçam mais pesadas do que são devido ao peso da palavra escrita? Ou seja, as pessoas não te veem falando, suas intonações, suas expressões?
Sim e não. Porque as coisas que se tornaram polêmicas foram coisas que eu disse, mas que posteriormente foram escritas. A piada do estupro, por exemplo. O humor é muito suscetível de descontextualização. Outro exemplo foi aquele episódio do Luciano Huck. Eu acho que eu errei e pedi desculpa. Mas não me arrependi do conteúdo. Me arrependi pela forma como disse.
Nos Estados Unidos, há muitos programas que fazem piadas pesadíssimas com celebridades, como "South Park", "Family Guy", "American Dad". Aqui no Brasil um programa desses jamais seria produzido. Por que o brasileiro se leva tão a sério?
É engraçado isso, porque o brasileiro aparentemente tem uma fama de irreverente, de piadista e tal. Eu não sei o que faz a gente se levar tão a sério. Mas agora eu vou cagar regra. Escreve aí: "Rafinha Bastos vai cagar regra." Devido à monopolização histórica da informação no Brasil, teve muita coisa que demorou a evoluir. O humor por exemplo. Então, o humor no Brasil sempre existiu, mas era de personagem. Então quando havia uma piada pesada, era o personagem que havia dito, não o humorista. Então as pessoas não levavam isso a sério. Quando eu apareço fazendo a piada do estupro, imediatamente a coisa se personaliza. E pode escrever: você vai publicar essa entrevista e alguém mal intencionado vai tirar alguma frase do contexto e criar polêmica. Então, eu te peço, por favor, tenha muito cuidado com o que vai publicar.