Depois de anos com o quadro "Retrato Falado" do "Fantástico", da série "Faça sua História" (2008) e de vários papeis em "TV Pirata" (1988) e "Vida ao Vivo Show" (1998), a atriz Denise Fraga volta à TV com mais uma comédia. Estreia nesta quarta (8), no canal a cabo GNT, "3 Teresas", série que narra o dia a dia de Teresinha (Claudia Mello), Teresa (Denise) e Tetê (Manuela Aliperti), avó, mãe e filha respectivamente.

E embora a série seja para rir, Denise interpreta uma mulher bastante diferente dos tipos espontâneos, sorridentes e sarcásticos que lhe deram o rótulo de comediante na TV. Teresa é nervosa, explosiva, fala palavrão, fuma e não tem a menor paciência com o marido sonhador interpretado por Enrique Diaz. Já no primeiro episódio, ela o  coloca pra correr. Ou pelo menos tenta.

Enquanto isso, sua mãe, Teresinha, que ficou viúva há pouco tempo, tenta se recuperar das dívidas deixadas pelo marido, enquanto a neta Tetê inicia sua vida sexual. O destino vai se encarregar de colocar essas três mulheres para viver na mesma casa e os conflitos que surgirão dessa convivência serão o tema central do programa.

O UOL acompanhou uma tarde de gravações da série, em uma casa transformada em set de filmagem na Lapa, zona oeste de São Paulo. Lá, as três Teresas são

dirigidas pelo marido de Denise, o diretor e um dos criadores da série Luiz Villaça. Ao fim da maratona, a atriz, que também está nas telas de cinema com o drama "Hoje", conversou com a reportagem na sala cenário de "3 Teresas" e disse não se importar com o rótulo de comediante. Leia a entrevista:

UOL -  Embora você tenha feito papeis dramáticos no teatro e no cinema, parece que a TV acabou te rotulando como atriz de comédia. O que você acha disso?

Denise Fraga - Eu também fiz coisas na TV que não eram comédia. Fiz [a série] "Queridos Amigos", por exemplo. E mesmo "3 Teresas" é uma comédia irônica. O que eu gosto nos meus trabalhos, e é esse meu critério para selecioná-los, é quando eles estão nesse terreno do meio, entre a comédia e o drama. Eu gosto de deixar as pessoas flechadas por uma gargalhada. E particularmente eu não acho que tenha que variar de papel só para provar que eu sou versátil. Esse título de comediante nunca me incomodou. Porque a comédia é um veículo transgressor. O humor mostra o quanto somos ridículos como seres humanos. Patéticos para o amor. Faz você ver como você pode viver melhor.

Pelo que você diz você faz comédia com muito prazer...

Sim! Eu adoro aquela risada em que você ouve implícita a frase "pior que é..." A risada é uma voz. Ela fala. Eu adoro a risada que para no meio porque a pessoa sente que aquilo não é tão engraçado assim. Gosto de ver gente rindo com lágrima no olho. Porque quando você ri, é porque compreendeu racionalmente. Quando você chora, é porque sentiu a emoção. E quando acontecem as duas coisas ao mesmo tempo, há uma captura completa da ideia. Agora por exemplo eu estou em cartaz com o filme "Hoje", que é um drama bem sério e pesado. Quando eu li o roteiro eu pensei que tinha que fazer aquilo, mas em geral o que eu gosto de fazer é o trabalho que mistura as duas coisas.

Você fez poucas novelas, por quê?

Eu não fiz porque não tive tempo mesmo. Só no "Retrato Falado" e em seus "filhos" eu fiquei nove anos. Mas não foi por falta de convite. O Silvio de Abreu e o Gilberto Braga viviam me sondando. E eu ficava com pena de não fazer. Mas eu tinha tido meus dois filhos e estava com a vida centrada aqui em São Paulo. Mas eu adoraria fazer uma novela como "Avenida Brasil" por exemplo. Adoraria estar naquela família do Tufão. Porque eu via os atores em estado pleno.

Falando em "Avenida Brasil", um dos roteiristas disse que o "boom" tecnológico atrapalha um pouco a dramaturgia. Coisas que antes do celular poderiam ser secretas, hoje em dia não podem mais. Como atriz, você sente dificuldade em relação a isso?

Acho que as coisas têm que se transformar. A escola, por exemplo, tem que acompanhar isso. Eu acabei de entrar no Facebook porque pensei: "Denise, você está falando mal sem conhecimento de causa." Mas o poder de captura daquilo é muito grande. Eu tenho um monte de livro pra ler. um monte de filme pra assistir e ali na internet tem muita oferta. Me dá muita aflição de ver um vídeo no Youtube e, logo ao lado, ver que tem mais 20! (risos). Essas pequenas sensações do que eu deixei de ver, transformam-se em uma ansiedade de pequenas frustrações. Essa sensação de que estou aqui, mas poderia não estar é um dos males do nosso século. Então, posto isso, acho que as cenas mudam e a narrativa se transforma.

Você falou em educação, em excesso de informação e em falta de tempo. Esse fatores combinados têm levado os autores e os comediantes a produzirem materiais curtos e, muitas vezes, superficiais. Você concorda que a nossa época exige o humor fácil, por exemplo?

Discordo totalmente. Aqui em São Paulo a gente tem um cotidiano riquíssimo, apesar de todos os problemas, mas eu saio para a rua e tem tanta coisa acontecendo. Claro que o arsenal virtual convida as pessoas à estática, à visão rápida de tudo. Mas quem disse que você precisa ser raso e fácil para fazer comédia. Você precisa é saber comunicar.