"Muita mulher queria uma Creusa na vida delas", conta atriz de "Salve Jorge"

Renato Damião

Do UOL, no Rio

  • Divulgação/TV Globo

    A paraibana Luci Pereira interpreta a divertida Creusa em "Salve Jorge"

    A paraibana Luci Pereira interpreta a divertida Creusa em "Salve Jorge"

Depois de mais de 30 anos de carreira, Luci Pereira tem sentido pela primeira vez nas ruas a repercussão do seu trabalho. No ar em "Salve Jorge" como a divertida empregada Creusa, a atriz viu a frase "Ô Dona Helô" se tornar bordão. "Para mim tudo isso está sendo uma surpresa. Quando li a sinopse da novela achei que fosse ser mais uma empregada daquelas que só abrem porta ou servem o café", brincou Luci durante entrevista ao UOL.

Creusa é o terceiro trabalho da atriz com Glória Perez. Sua estreia foi na minissérie "Amazônia", em seguida ela fez a também empregada doméstica Ondina, em "Caminho das Índias" e Maria Imaculada no especial "Por Toda a Minha Vida". Sobre o sucesso, Luci acredita que Creusa é mais do que uma empregada, ela é um cupido. "Creusa é o cupido daquele casal formado pela Helô e pelo Stênio, sem contar que ela tem um lado maternal de cuidar dos dois", explicou.

Nas ruas o sucesso é tão grande que Luci tem encontrado dificuldades em circular por locais comuns como mercado e shopping. "Tento fazer minhas coisas normalmente, mas agora ficou complicado. Basta o primeiro vir pedir uma foto para outras pessoas também pedirem e aí não consigo comprar mais nada", contou ela, que tem ouvido de homens e mulheres elogios à personagem.

"Muitas mulheres dizem que queriam uma Creusa na vida delas, outras que ela é um pouco chata e intrometida, mas adoro ver que tanto os homens quanto as mulheres têm assistido 'Salve Jorge'. Até as crianças vêm falar comigo", garantiu Luci que não se importa de colecionar mais uma doméstica ao seu currículo.

Divulgação/TV Globo
Não me importo quando dizem que eu só faço a empregada

sobre já ter interpretado a empregada Ondina em "Caminho das Índias"

"Não me importo quando dizem que eu só faço a empregada. Quem dera eu fazer empregada e estar sempre trabalhando", comentou ela que já sofreu preconceito por ter o sotaque "carregado". "Sou nordestina e sei que existe muito preconceito em torno disso. Nem todo trabalho te aceita por causa do sotaque, eu já passei por isso", relembrou.

Para Luci, o aumento da importância dado às doméstica como nas recentes novelas "Avenida Brasil" e "Cheias de Charme" é a prova de que a classe média tem melhorado sua maneira de olhar o outro. "As empregadas possuem vidas assim como os patrões, elas possuem casa, filhos, famílias e histórias de vida que também são interessantes", ressaltou.

Atriz sofreu violência doméstica e tem em Regina Duarte sua musa inspiradora

Aos 54 anos, Luci Pereira acredita que o sucesso de Creusa é a recompensa por tantos anos dedicados ao teatro. Nascida em Campina Grande, na Paraíba, ela começou a se interessar pela atuação ainda pequena. "A primeira novela que vi na vida foi 'Selva de Pedra' e desde então fiquei interessada em ser atriz. A Regina Duarte é minha musa inspiradora". Ainda na infância participou de montagens teatrais na igreja que a família frequentava e com 13 anos teve a oportunidade de fazer seu primeiro curso de teatro.

Regina Duarte é minha musa inspiradora

sobre início da carreira

"Tive muito apoio da família, naquela época na Paraíba ser atriz não era uma coisa para menina de boa família", comentou ela. Aos 17 anos a carreira precisou ficar de lado, Luci se casou e o ciúme do marido fez com que ela abdicasse do teatro. "Ele era ciumento, nessa época o teatro ficou de lado", contou. O relacionamento conflituoso durou oito anos e foi marcado pela violência doméstica.

"Quando ele bebia ficava agressivo e me batia. Um dia dei um basta e nunca mais voltei atrás", afirmou ela que nunca chegou a prestar queixa contra o agressor. "Não existia ainda a Lei Maria da Penha, era comum mulheres denunciarem e nada acontecer, ou pior, chegarem em casa e apanharem mais dos maridos", opinou Luci que passado alguns anos voltou a falar com o ex-marido. "Não sou traumatizada, aquele ditado de quem apanha lembra e quem bate esquece não funcionou comigo. Deixei tudo para trás, hoje falo com ele, sei que ele mudou, se tornou uma outra pessoa e me admira".

Não existia ainda a Lei Maria da Penha, era comum mulheres denunciarem e nada acontecer, ou pior, chegarem em casa e apanharem mais dos maridos

sobre violência doméstica

Anos mais tarde. Luci se casou novamente e teve dois filhos. Mais uma vez o casamento não deu certo e suas experiências mal sucedidas se tornaram inspiração para a peça "Machos", seu primeiro êxito na profissão. "Foi a primeira vez que ganhei dinheiro com teatro, fiquei em cartaz 10 anos e o sucesso me levou a ir morar em São Paulo onde estou há 15 anos", afirmou.

Separada há 24 anos, Luci brincou que não pretende ter namoros sérios, mas isso não quer dizer que ela está sozinha. "Às vezes pinta um rala e rola, não sou de ferro", contou aos risos. Com o fim de "Salve Jorge" próximo, a atriz se prepara para voltar ao teatro e ao artesanato, ela faz bolsas de patchwork. "Tenho pé no chão, seria ótimo terminar uma novela e entrar em outra, mas enquanto isso não acontece dou aulas de artesanato, vendo minhas bolsas e sigo com outros projetos", finalizou ela que negocia participação em um filme.

 

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