"Coisas de Laurinha" virou jargão para falcatrua, diz Gloria Menezes sobre "Rainha da Sucata"

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/Globo

    Atriz Glória Menezes posa para foto durante gravação da novela "Rainha da Sucata", da Rede Globo

    Atriz Glória Menezes posa para foto durante gravação da novela "Rainha da Sucata", da Rede Globo

Esnobe, classista, elitista, trapaceira, assassina e falida. Laurinha de Albuquerque Figueiroa, a vilã quatrocentona interpretada por Glória Menezes em "Rainha da Sucata" caiu nas graças do público em 1990 e novamente hoje, com a reprise da novela no canal a cabo "Viva".

Com 53 anos de carreira, outros 50 de casamento com o ator Tarcísio Meira, a intérprete contou ao UOL que quer muito rever a novela. Embora não se lembre de muitos detalhes da personagem, diz se recordar que a frase "coisas de Laurinha", dita pelo personagem Betinho (Paulo Gracindo), virou sinônimo para falcatrua em uma época em que o então presidente Fernando Collor de Melo confiscara a poupança.

"Foi a última novela do Paulo Gracindo. E ele tinha esse bordão que ele falava quando ela delirava. ‘Coisas de Laurinha’. E isso foi pegando. De repente virou um bordão para falcatrua. Alguém fazia algo errado, matava, enganava, trapaceava, as pessoas diziam: ‘Ah, isso são coisas de Laurinha’."

 

Embora a novela tenha sido veiculada originalmente há 23 anos, Glória Menezes diz que a cena que nunca saiu de sua memória foi o suicídio da vilã.

"Eu não me lembro de muita coisa, porque decoro as coisas e logo depois de gravar esqueço para sobrar espaço para decorar outras. Mas teve uma cena que não me esqueço, que foi o suicídio da Laurinha. Na época, minha nora não deixava meu neto assistir à novela, mas ele passou pela sala bem nessa hora e viu. Aí ele perguntou: ‘A Góia se matou, mamãe?’ Góia era o jeito que ele falava meu nome. (risos)"

Outra coisa que lhe chamou a atenção foi o destaque que a "morte" recebeu na mídia. "Saiu na primeira página de ‘O Globo’ uma foto gigante minha, estatelada no chão que dizia: ‘Laurinha Figueiroa está morta’. Eu pensei: ‘Como pode?’ Porque sempre separei meus personagens de mim. Claro que aprendi muitas coisas com eles, mas o meu processo é dar o braço para o personagem na entrada do estúdio e dizer: ‘Me leva’. Quando termina a gravação, me despeço com um ‘até amanhã’. Lembro-me também de quando vi o boneco que eles jogaram, que tinha o mesmo peso que eu e vestia as minhas roupas. Foi um pouco chocante olhar para o boneco lá embaixo, embora eu não tenha medo de altura."

Decadência

O mote principal de "Rainha da Sucata" era o conflito entre a então elite decadente paulistana com a classe emergente da zona norte de São Paulo representada pela personagem Maria do Carmo, de Regina Duarte.

TV Globo/João Miguel Júnior/Vírgula
Saiu na primeira página de "O Globo" uma foto gigante minha, estatelada no chão que dizia: "Laurinha Figueiroa está morta". Eu pensei: ‘Como pode?’ Porque sempre separei meus personagens de mim.

Além disso, a novela mostrava os dramas e os conflitos sociais gerados pelo confisco da poupança pelo ex-presidente Fernando Collor de Melo. Laurinha ficava pobre por causa disso, mas não perdia a pose. Organizava festas em sua casa, pagas por amigos que ainda tinham dinheiro, e quando vendia algum artigo de valor, como um carro ou um cavalo, recebia em moeda circulante, mas pagava os empregados em moeda confiscada.

Glória, no entanto, diz não ter se inspirado em um personagem específico. "Eu soube de pessoas que vendiam a prata da casa para manter o nível. Sei que isso existiu muito na época da decadência das fortunas do café. Gente que perdia dinheiro da noite para o dia. Então fui nessa linha. Inventei uma historinha com base no passado dela. E como ela vivia em delírio, era mais fácil. Engraçado que naquela época não havia essa emergência da tal classe C com esse destaque que a gente vê hoje, mas decerto foi ali mesmo que começou."

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