Com pegada de policial, "O Canto da Sereia" mistura amor, poder e crime
Alessandro Giannini
Do UOL, em São Paulo
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Estevan Avellar/ Divulgação
João Miguel, José Luiz Villamarim e Marcos Palmeira ensaiam uma cena no set de "O Canto da Sereia"
O nascimento, o sucesso e a morte violenta de uma cantora de axé estão no centro de "O Canto da Sereia", microssérie da Globo que estreia nesta terça-feira (8), depois do "Big Brother Brasil 13".
Inspirada em romance de mesmo nome do jornalista, escritor e produtor musical Nelson Motta, acompanha o mistério em torno de Sereia, interpretada por Isis Valverde, uma estrela pop baiana cujo destino trágico vira objeto de uma investigação que vai mobilizar a cidade de Salvador. Camilla Morgado, Gabriel Braga Nunes, João Miguel e Marcos Palmeira completam o núcleo central de atores.
Se o elenco impressiona, a equipe criativa também tem boas credenciais. José Luiz Villamarim co-dirigiu recentemente com Amora Mautner a novela "Avenida Brasil"; o diretor de fotografia Walter Carvalho trabalhou no cinema com vários diretores famosos, entre eles Hector Babenco ("Carandiru") e Walter Salles ("Abril Despedaçado"), e o roteirista George Moura escreveu séries de sucesso como "Carga Pesada" e "Cidade dos Homens".
É um time que chama atenção pelo "pedigree". E também pelo fato de terem, os três, trabalhado juntos em "O Rei do Gado", sob a direção geral de Luiz Fernando Carvalho. A novela, como se sabe, marcou uma revolução no gênero ao adotar uma linguagem mais arrojada e próxima do cinema.
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Augustão (Marcos Palmeira), é detetive e também o segurança particular de Sereia. Seu escritório fica na Baixa do Sapateiro, em um antigo sobrado que divide com seu amigo Vavá de Zefa (Fabio Lago)
Villamarim e Moura viram no romance de Motta uma oportunidade de aproveitar a abertura dada pela direção artística da Globo para novos projetos. "Vimos ali a possibilidade de realizar um policial brasileiro, que se passa numa Bahia contemporânea, pouco retratada no cinema e na TV", diz Villamarim, em entrevista por e-mail. "Percebemos aí a possibilidade e o desafio de fazer algo com um frescor."
O diretor de núcleo Ricardo Waddington também se entusiasmou com a ideia. "O Canto da Sereia" é uma história contemporânea, que mistura amor, poder, crime e os bastidores da gênese de uma musa pop. "Ou seja, ingredientes que apimentam qualquer história", diz Villamarim.
Coube a Moura trabalhar na adaptação do romance. Segundo o roteirista, a trama do livro foi preservada. "Nelson Motta nos deu liberdade total e fez com que pudéssemos mergulhar no livro e depois 'esquecê-lo' para [depois] construir uma narrativa que a TV pede para uma história como essa: ágil, repleta de ganchos, com amor e suspense", conta ele, também em respostas enviadas por e-mail.
Ainda de acordo com Moura, o que mudou foi o tom de alguns personagens, sobretudo o de Augustão (Marcos Palmeira), chefe da segurança de Sereia e detetive particular. "Ele se tornou ativo e toda aquela contemplação literária que havia foi suprimida", completa.
Villamarim elogiou a disposição do ator. "Ele tem um caráter, uma alma brasileira e veio com uma disponibilidade incrível para fazer o personagem", diz. "Engordou oito quilos sem perder a sedução de todo detetive que está no imaginário do cinema e da literatura."
Isis Valverde
A escolha de Isis Valverde para interpretar Sereia tem uma história completamente diferente. Moura escreveu a personagem, que no livro tem o perfil mais parecido com o de cantoras como Ivete Sangalo e Claudia Leitte, sem saber que a atriz seria a escolhida para o papel.
"No começo temi o fato de ela ter acabado de fazer uma personagem marcante, que foi a Suelen, da 'Avenida Brasil'", diz o roteirista. "O diretor de núcleo Ricardo Waddington achava que isso não era um problema. E ele estava certo: ao ver o teste dela como Sereia, fiquei chocado com a capacidade de se reinventar da Isis. Nada da personagem anterior ficou. Essa menina, embora muito jovem, é uma atriz de um magnetismo extraordinário. A câmera é apaixonada por ela."
Isis como Sereia foi "culpa" de Villamarim. "Ela é uma estrela", define o diretor. "Tem carisma, beleza e intensidade dramática para interpretar a personagem. Já fiz alguns trabalhos com ela e sempre acreditei que poderia ser uma protagonista. Chegou a hora."
Carvalho junta-se ao coro a favor da atriz e do magnetismo de sua beleza. "A Isis é um fenomeno da dramaturgia televisiva", diz ele. "Emoção, intuição, talento e um tesão pra se dispor diante da câmera."
O diretor de fotografia da microssérie conta que, no momento da morte da personagem, Isis deu uma especie de gemido, o canto da morte, muito baixinho. "Só o diretor e eu, com a câmera, escutamos", diz ele. "Naquele momento tive a certeza - se é verdade que as sereias cantam - de que, na hora da morte, cantam igual a ela."