"Os homens estão me olhando com outros olhos", diz Paloma Bernardi
Carla Neves
Do UOL, no Rio
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Ricardo Leal/UOL
Paloma Bernardi é a Rosângela em "Salve Jorge"
Aos 27 anos, Paloma Bernardi, a Rosângela da novela "Salve Jorge", diz que o público --especialmente o masculino-- mudou a maneira de olhar para ela. Acostumada a interpretar mocinhas doces e ingênuas, como a Mia de "Viver a Vida" (2009) e a Alice de "Insensato Coração" (2011), a atriz agora encarna uma das vítimas do tráfico de mulheres que já foi forçada a se prostituir ao lado de Morena (Nanda Costa) e Jéssica (Carolina Dieckmann).
"Os homens estão me olhando com outros olhos. Na verdade, não só os homens, mas o público em geral. As pessoas estavam acostumadas com a Mia: ‘ah, aquela menininha, tão bonitinha, tão fofinha, que vontade de levar para casa!’. Agora as pessoas falam: ‘nossa, Paloma! Que mudança!’", contou a atriz em entrevista exclusiva ao UOL, acrescentando que tem usado figurinos extremamente sensuais em cena.
Paloma afirmou que, por conta disso, já recebeu vários convites para posar nua. Mas estampar a capa de uma revista masculina não faz parte de seus planos. "Adoro fazer ensaios sensuais, me ver de diversas formas, mas posar nua, tipo ‘Playboy’, não faria", disse ela, garantindo que seu namorado, o também ator Thiago Martins, de 24 anos, não sente ciúme das cenas em que ela aparece mais "despida".
"O Thiago vibra muito. Da mesma forma que vibro pelas conquistas dele, ele vibra com as minhas conquistas também. Ele sabe da importância dessa personagem na minha carreira, que é um novo degrau", afirmou. Leia, a seguir, a entrevista completa com Paloma Bernardi:
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Paloma como a Mia de "Viver a Vida" (à esq) e como a Rosângela de "Salve Jorge" (à dir)
UOL – Como reagiu ao saber que interpretaria uma traficada que em um determinado momento da história ficaria ao lado dos traficantes?
Paloma Bernardi – Quando o Marcos Schechtman [diretor] me chamou para fazer "Salve Jorge" e disse que a Glória Perez [autora] me confiou a história da Rosângela, fiquei muito feliz. Porque realmente me viram de uma forma diferenciada do que a televisão já tinha me apresentado antes. O legal da vida do ator é poder transitar por todos esses tipos de personagens. Da mocinha à vilã, da espevitada à tímida. A engraçada, a que tem algum problema físico. O desafio do ator é esse: poder emprestar seu corpo, sua alma, tudo o que tem como material de trabalho para viver diferentes personagens.
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Paloma Bernardi em cena de "Salve Jorge"
E a Rosângela não tem nada de singela, né?
Ela foi realmente um presente nesse ano de 2012, porque é um personagem com uma pitadinha de sensualidade e de vilania. Acho que essa fase que ela está vivendo agora é muito solitária. Não acho que ela faz o que faz por maldade. Ela é meio amoral. Começou a novela ambiciosa, querendo ser modelo a qualquer custo. E por essa ambição ficou cega diante dos fatos e acabou caindo no tráfico. Ela tentou se juntar às meninas para fugir. Porque na realidade do tráfico, mesmo ela mudando de lado, ela sofre. É uma realidade surreal, desumana. É uma agressão à mulher, que se sente um objeto, uma coisa ali dentro. Só que ela já cansou de tentar fugir porque percebeu que não adianta.
Por isso ela decidiu se juntar à Irina (Vera Fischer) e ao Russo (Adriano Garib)?
Agora ela está pensando nela, está num momento egoísta, sim. Acho que ela não faz as coisas por maldade, faz para se dar bem, para que tenha um pouco de dignidade ali dentro, se é que isso é possível. Ela acha também que, trabalhando ali no caixa com a Irina, não está traficando ninguém, está só mexendo com dinheiro. Aquilo vai ser feito de qualquer forma. Então ela não vê isso como uma maldade. E acho que o que a estimula a ser má é a reação das meninas, que a veem como uma traíra. E ela fica revoltada com isso porque se vê sozinha e pensa: ‘se vocês estão sempre esperando o pior de mim, então vou ser’.
Você acredita que ela não é do mal, então?
Acho que a Rosângela é como se fosse uma esponja. Ela é misteriosa, vai absorvendo todas as informações que acontecem ali dentro – tanto dos traficantes quanto das meninas – e vai vendo o que é que pode fazer com essas informações para se dar bem, para melhorar a vida ali dentro. Acho que ela é uma vítima que as pessoas veem como vilã. Ela está ali para sobreviver. E os meios de sobrevivência dela são esses: ora sendo 'X9', ora sendo maldosa, ora sendo sedutora em relação ao Russo para conseguir alguma coisa, ora concordando com as meninas se elas derem abertura. É um prato cheio. Porque cada semana é uma realidade diferente para ela.
Você acha que a Rosângela se aliaria mais facilmente com o Russo, com a Wanda ou com Irina?
Acho que com a Irina. O Russo ela ainda tem um certo medo porque ele bate, é violento. Então acho que com o Russo ela tem mais medo. Com a Irina, ela está ali para ajudar nas contas. Então a Irina até fica feliz com a presença dela. Acabo sendo uma escravazinha dela. Enquanto estou me safando da realidade da prostituição, em vez de ficar na boate, tendo que dar para 20 caras na noite, fico na boate, trabalhando como caixa. Então estou me safando e a Irina está descansando enquanto faço as contas. Acho que com a Irina é mais fácil de enrolar. Ela é meio aérea.
E qual é a ambição da Rosângela agora?
Acho que existe a possibilidade de ela entrar no tráfico. Hoje ela está ali para sobreviver, quer ficar no caixa para ficar tudo bem. Se tiver que ajudar as meninas em alguma coisa ela pode ajudar. Se tiver alguma formação dos maldosos pode levar para as meninas. Acho que ela está procurando se dar bem nessa situação. Mas acho que com o tempo a missão dela será ser dona daquele bordel. Acho que é ser uma Wanda.
Como você se preparou para o papel? Já conhecia a respeito do tráfico humano?
Da mesma maneira que o público está recebendo esse assunto, eu também recebi. A gente sabe que existe, mas não dá bola, acha que não vai acontecer com a gente, que é uma coisa muito distante ou que é coisa de filme. Então quando me chamaram para fazer esse papel e soube que estaria dentro desse universo, comecei a prestar atenção com outros olhos. Soube desse trabalho em fevereiro e desde então estou totalmente mergulhada nesse universo. A gente teve palestras, conversamos com delegadas que investigam esse tipo de caso, com ONGs, com pais que perderam suas filhas. Porque a gente conversou com traficadas e descobrimos que, geralmente, quando elas conseguem voltar, uma morreu para que elas conseguissem voltar. Porque quando uma morre, acontece um estardalhaço, todo mundo fica sabendo, a polícia consegue chegar e elas acabam voltando. Mas mesmo assim sob ameaça, não podendo denunciar, não podendo dizer quem é quem. Também visitei prostíbulos para sentir o peso da noite, a abordagem dos homens, como elas lidam com o dia a dia. Fui a duas boates no Rio e uma em São Paulo. Foi uma sensação bem pesada.
O que chamou mais a sua atenção?
A abordagem dos homens, as fantasias que eles querem realizar com as mulheres. O ambiente é pesado, tem muita carência e muita solidão. Às vezes o cara vai lá só para conversar com a mulher. E eles tratam a mulher como se fosse um objeto. Em um dos bordéis que visitei elas dançavam pole dance nuas. E enquanto elas dançavam os homens ficavam olhando como se fosse um pedaço de carne. E ficavam querendo tocar e pegar. E o DJ ficava falando: ‘se quiser pegar tem que pagar’. Acho que a mulher merece muito mais do que esse tipo de abordagem. Acho que ela tem que ser tratada com amor, carinho, zelo.
Como tem sido a abordagem masculina?
Os homens estão me olhando com outros olhos. Na verdade, não só os homens, mas o público em geral. As pessoas estavam acostumadas com a Mia: ‘ah, aquela menininha, tão bonitinha, tão fofinha, que vontade de levar para casa!’. Agora as pessoas falam: ‘nossa, Paloma! Que mudança!’.
Você aceitaria posar nua?
Não. Já recebi vários convites. Adoro fazer ensaios sensuais, me ver de diversas formas, mas posar nua, tipo "Playboy", não faria.
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Paloma divulga foto ao lado de Thiago Martins
E para a personagem, você ficaria nua?
Aí sim. Sou atriz. Mas vou ter uma direção, sei que não vai ser gratuito. Ainda mais nesse universo do tráfico humano. O próprio Marcos Schechtman [diretor] me falou: ‘Paloma, a gente vai tratar tudo com muita segurança, muito respeito, mas não pode ter pudor’. Acho que, muitas vezes, vale mais a intenção do que mostrar a personagem nua.
O que o Thiago Martins está achando? Ele sente ciúme das cenas em que você aparece mais "despida"?
Ele vibra muito. Da mesma forma que vibro pelas conquistas dele, ele vibra com as minhas conquistas também. Ele sabe da importância dessa personagem na minha carreira, que é um novo degrau.