Venda de antiguidades com a cara do Baixo Augusta é aposta de série do History Channel
Mirella Nascimento
Do UOL, em São Paulo
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Reinaldo Meneguim/Divulgação
Carrô e Tibira são sócios do Caos, mistura de bar e loja de objetos antigos na Rua Augusta, em São Paulo
Inspirado nos dois programas de mais audiência do History Channel no Brasil – “Trato Feito”, sobre uma loja de penhores, e “Caçadores de Relíquias”, também com objetos raros –, o canal aposta agora em uma versão nacional com a cara do Baixo Augusta, região alternativa do centro de São Paulo.
O cenário escolhido é o Caos – que dá nome à série –, um estabelecimento que mistura loja de antiguidades, brechó, bar e balada. Os protagonistas são os sócios da casa, os estilosos Carrô e Tibira, figuras conhecidas da noite paulistana. Reunindo esses elementos, a primeira temporada de "Caos", com 20 episódios, estreia nesta terça-feira (25), às 23h.
“Sempre assisti a esses programas. Desde um inglês, há mais de 10 anos, em que um cara ia a feiras de antiguidades para avaliar os objetos", conta Tibira em entrevista ao UOL. Os grandes diferenciais da série nacional, segundo ele, são as características mais descoladas do ambiente e dos personagens – ambos tatuados, "diferentes do cara de boina" dos antiquários –, e a identificação dos telespectadores com o univerno retratado. "Vai ter muito objeto brasileiro, como brinquedos brasileiros. Tem um episódio com uma boneca negra, sobre os bonecos feitos para negros. É interessante também discutir esses assuntos”, afirma.
Tem coisa que eu decido vender, coloco preço, depois tiro. Todas têm uma história. Da feira do Bixiga a uma viagem para fora do país
Tibira, sócio do CaosTibira, 47 anos, é fundador do Club Vegas e dono do bar Z Carniceria, também na Augusta. Apreciador de objetos antigos, tem um acervo de 6 mil peças. Os primeiros itens, comprados aos 15 anos, foram carrinhos Hot Wheels e caixas de fósforos. Depois, vieram os robôs, placares de máquinas de pinballs e tudo mais que ele achar que vale ser guardado. Caroline Schamall, ou apenas Carrô, 33 anos, fez carreia como diretora de arte e produtora de objetos para TV, cinema e publicidade. A ligação dos dois com a história é notável do visual inspirado na cultura alternativa dos anos 1950 ao apego com os objetos que garimpam e negociam.
“Não me considero colecionador. Eu tenho várias coisas. Carrinhos miniaturas, brinquedos antigos, discos, [peças de] taxidermia. Depende de onde eu vou, eu compro alguma coisa diferente. Não tem uma lógica”, conta. Parte da coleção está no Caos, onde nem tudo está à venda. “Tem coisa que eu decido vender, coloco preço, depois tiro. Todas têm uma história. Da feira do Bixiga a uma viagem para fora do país”.
Entre tirar e colocar objetos à venda, ele já se arrependeu de se desfazer de algumas peças. “Tem uma que eu nem comento muito, para não ficar sofrendo. Foi um Impala 1958 que eu vendi por US$ 10 mil, na época em que o real estava equiparado ao dólar. Hoje, ele vale uns R$ 250 mil. Mesmo do meu Fusquinha 1961 eu tenho saudade. Tem várias coisas que eu penso ‘Por que eu vendi?’”.
Em um dos primeiros episódios, Carrô acaba negociando com um cliente um vinil de Chico Buarque autografado que Tibira havia separado para dar para a mãe. “Já venderam coisas minhas. Depois que foi, já era. Por isso que eu abri a loja, fiquei mais desapegado”, diz.
Uma das histórias preferidas de Tibira na série aparece já no primeiro episódio, em que um colecionador de projetores compra um modelo japonês de Super 8 e alguns filmes infantis. “O cara já entrou na loja nervoso, suando. É do tipo compulsivo”, analisa.
Tibira cita ainda outro tipo de colecionador. “Tem aquele mais discreto, que se segura ao olhar a peça. Dá uma volta pela loja, olha outras coisas, tenta não valorizar”, conta. Outros, com aparência humilde, enganam os vendedores com jeito de quem não tem dinheiro para comprar peças mais raras e caras. “É muito louco, não dá para sacar geral”.
E explica a principal diferença entre alguém que tem um acervo como o seu e um colecionador tradicional. “Colecionador mesmo só compra, não se desfaz. E muitas vezes é um cara meio chato. Aquele que sai de São Paulo e vai até a Bahia só para comprar um objeto. A gente vê uma coisa mais leve”, afirma.