Convivência atribulada com a ex-mulher, luta pela guarda do filho, voltar a morar com a mãe e conviver com o namorado argentino dela. Essa é a rotina de um árbitro de futebol, que além de todos os problemas familiares ainda enfrenta a hostilidade de torcedores em campo. “FDP”, a nova série da HBO que estreia neste domingo (26) é uma rara tentativa de se criar dramaturgia televisiva usando o futebol como tema principal.

O conceito da série surgiu quando Adriano Civita, diretor-geral e um dos produtores, ficou amigo de um árbitro da segunda divisão. “Ele me contou após um fim de semana que a torcida do time para o qual ele tinha dado um lance contra queria cobrir ele de porrada. A polícia teve que o proteger até o jogo acabar", conta.

A partir daí surgiu a ideia de contar uma historia de futebol através do ponto de vista de um juiz. O irmão de Civita sugeriu que a trama deveria ser ficcional, e ficaria melhor como uma série em episódios, ao invés de um longa. O argumento inicial foi levado para os roteiristas, que passaram um ano e meio elaborando os episódios. Após seis meses revisando o material teve início a produção, que durou 17 semanas.

A direção dos 13 capítulos ficou a cargo de quatro pessoas diferentes (que além de Civita incluem Caito Ortiz, Johnny Araújo e Kátia Lund). Cada episódio, no entanto, nunca ficava a cargo de uma pessoa só, mas era composto de cenas rodadas por toda a equipe. “Foi um grande aprendizado, tínhamos que filmar tudo muito rápido. A grana era contadíssima, não podíamos mudar um dia no plano de filmagem. Isso afiou o pensamento, às vezes eu tinha que rodar em um take único”, conta Kátia Lund sobre a produção. 

Lund, conhecida principalmente por “Cidade de Deus”, que realizou ao lado de Fernando Meirelles, conta que foi convidada para entrar na segunda fase do projeto. “Tive duas semanas para me preparar, e quatro para filmar”. Ela diz que a série foi feita basicamente como um trabalho de equipe: “Difícil avaliar o quanto eu contribuí, os roteiros estavam muito bons. Quando entrei já havia todas essas ideias incríveis, esse humor negro”, conta ela.     

O trabalho de coordenação ficou a cargo de Civita, que se assegurou que as diferentes cenas rodadas ficassem coesas e tivessem uma unidade. Um dos cuidados da equipe era fazer com que as cenas de futebol fossem realistas. “Fomos muito fieis aos ângulos de transmissão dos jogos de futebol. As partidas têm grande importância para a dramaturgia da série”, conta Cintra.

Uma das preocupações era evitar mostrar o futebol como ele é visto na publicidade, de uma maneira mais plástica, “fake”. “As cenas não só deviam ficar interessantes visualmente e ter ritmo, mas também validavam a posição do personagem principal. Nosso trunfo era que o juiz só aparece nas câmeras durante as partidas quando acontece uma polêmica grande”. 

O juíz

O ator mineiro Eucir de Souza, 42, interpreta o personagem principal, o juiz Juarez. Souza conta que precisou se preparar para o papel: “A questão era que o juiz também é meio atleta. Por sorte eu estava vindo de um treinamento físico de três meses para outro trabalho, que acabou não acontecendo”, conta ele.  

Essa não foi a primeira vez que o ator foi cogitado para fazer uma ficção baseada em futebol: “Fui convidado para fazer ‘Heleno’, mas não deu certo por uma questão de datas”, diz. Como parte do preparo, Souza passou por um treinamento com um árbitro da Fifa. “Assisti muitos jogos com ele, inclusive semi-finais da Libertadores. A convivência foi muito legal. Muita coisa que aprendi com ele usei no papel”, conta.

Apesar de estar apreensivo no começo, o ator logo percebeu que se adequaria bem ao personagem: “Houve uma primeira exibição-teste na HBO, e o pessoal da emissora achou que eu era juiz de verdade, perguntaram por que a equipe não usou um ator no lugar (risos)”, diz.

O resultado pode ser visto neste domingo, à partir das 20h30. Além das reprises em horários diversos, os episódios também poderão ser conferidos posteriormente no site da HBO Max.