Já houve qualidade no jornalismo da TV, diz roteirista da serie "The Newsroom", da HBO

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

  • Divulgação

    Sloan Sabbith (Olivia Munn) e Will McAvoy (Jeff Daniels) em cena de "The Newsroom"

    Sloan Sabbith (Olivia Munn) e Will McAvoy (Jeff Daniels) em cena de "The Newsroom"

"Nunca pensei neste projeto como um protesto ou coisa parecida", diz Aaron Sorkin, tomando um capuccino em Beverly Hills, Los Angeles. "Minha ambição foi escrever uma hora de televisão boa e divertida sobre um grupo de pessoas idealistas, otimistas, valentes." O premiado roteirista e dramaturgo de filmes ("A Rede Social", "Moneyball", "Questão de Honra") e séries ("The West Wing", "Sports Night", "Studio 60 on the Sunset Strip") está de volta à TV nesta temporada com "The Newsroom", no ar pela HBO, nos EUA desde junho, e estreando no Brasil dia 5 de agosto.

A "redação" do título é a de um fictício canal de notícias que passa por uma reformulação radical inspirada pela aparente crise pessoal de seu principal âncora,  Will McAvoy (Jeff Daniels). Quando Will tem um violento acesso de sinceridade durante um debate numa universidade -- provocado pela pergunta "Por que os Estados Unidos são o maior país do mundo?" --, o diretor de jornalismo do canal, Charlie Skinner (Sam Waterston), decide que aquele deve ser o tom do mais prestigioso telejornal da rede. Para garantir a McAvoy abundante munição, Skinner contrata uma nova e premiada produtora (Emily Mortimer) que, para complicar as coisas, é ex-namorada do âncora. E cerca a jornalista com uma equipe jovem que compensa em empolgação o que não tem em experiência (Alison Pill, Dev Patel, Olivia Munn, Terry Crews). Para guia-los Skinner oferece dois parâmetros: "Dom Quixote", a obra de Cervantes; e a frase que dá título ao primeiro episódio: "Porque decidimos fazer assim".

Dom Quixote" é um bom exemplo para o meu grupo de jornalistas, diz o criador de "The Newsroom


"Dom Quixote é um dos meus livros favoritos… talvez, neste momento, meu livro favorito", diz Sorkin. "Se eu tivesse mesmo a capacidade de ensinar alguma coisa para as pessoas eu ensinaria todo mundo a ler 'Dom Quixote'. A missão de Quixote e Sancho  -- civilizar o mundo, elevar as maneiras -- em plena época da Inquisição na Espanha era completamente irreal , e no entanto fala ao que há de melhor no ser humano. É um bom exemplo para o meu grupo de jornalistas. A referência vai permanecer durante toda esta primeira temporada."

Os críticos norte-americanos acharam "The Newsroom" quixotesca demais, em sua determinação de, a cada episódio, mostrar o que está errado na mídia do país, hoje, dando exemplos do que seria o correto comportamento de uma redação sem comprometimentos de ideologia, filiação partidária, interesses de anunciantes e executivos, etc.

 

As pessoas se esquecem de que já houve um padrão de qualidade no telejornalismo. Infelizmente nos acostumamos ao índice mais baixo de qualidade, revela Sorkin

"As pessoas se esquecem de que já houve um padrão de qualidade no telejornalismo", Sorkin comenta. "Infelizmente nos acostumamos ao índice mais baixo de qualidade. Você sabia que, na primeira regulamentação do uso da televisão por empresas privadas  nos EUA havia uma cláusula que proibia a mentira na disseminação de notícias? Tenho certeza de que pessoas que sabem muito mais do que eu sobre  a profissão poderiam explicar por que essa lei foi abolida. Eu não acho que precisamos de uma lei assim, eu só queria que existissem pessoas que pudessem pelo menos apresentar os fatos em todos os seus aspectos e realmente deixassem as pessoas formarem suas opiniões. Você sabia que, quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, 67% do público achava que o Iraque tinha sido responsável pelo ataque às torres gêmeas no 11 de setembro? De onde tiraram essa ideia? Onde estavam os jornalistas para ponderar que não era bem assim? Que Saddam Hussein, por pior que fosse, não tinha nada a ver com o 11 de setembro? 'The Newsroom' é sobre essa opção – a opção de um jornalismo que se atenha aos fatos."

Mas, Sorkin acrescenta, ele não criou 'The Newsroom" para ser um tratado seríssimo sobre ética jornalística. "Quero que seja divertido. Essa foi minha principal preocupação. Não quero fazer pregação, quero apenas voltar a um tempo em que fatos eram fatos e a mídia não tinha medo de dizer que uma mentira era uma mentira."

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