Fiel a seus princípios, House termina série nos Estados Unidos sem se redimir
Eduardo Graça
Do UOL, em Nova York
-
Divulgação
Cena do seriado House
"Não seja um tolo". Esta é a última frase pronunciada, ou melhor, cantada, no último episódio de “House”, a série de maior audiência no planeta cujo canto do cisne aconteceu na noite desta segunda (21) nos Estados Unidos.
Na primeira hora dos 120 minutos finais de “House” o público foi convidado a entrar, de fato, pela primeira vez, na casa do protagonista da série. A primeira metade do “evento” (assim batizado pelo canal Fox), começou com a entrega de um bolo, recebido com toda pompa por Hugh Laurie, o Gregory House em carne, osso e bengala.
“Esta será uma celebração. E toda celebração tem de ter um bolo”, disse o ator britânico. O problema é que faltaria pedaço para tanta gente envolvida na festa. A primeira metade da noite foi dedicada aos bastidores da série, uma viagem pela mente de House, mas também por cada departamento da área de criação. Com narração de Laurie, somos apresentados aos roteiristas, às maquiadores, ao pessoal responsável pelos efeitos especiais, a recriação das partes do corpo humano centrais para a série. Acompanhamos até mesmo parte do teste de elenco de Laurie.
A segunda metade da jornada é dedicada ao capítulo final de House. Um paciente viciado em drogas é a deixa para o sherlockiano protagonista – e seu Watson, ou melhor Wilson (seu médico, parceiro, consciência crítica e antagonista, vivido pelo ótimo Robert Sean Leonard) – iniciar uma luta consigo mesmo que termina, entre fogo e visões do que sua vida poderia ter sido ou ainda poderá ser, se ainda há tempo, com impressionante fidelidade ao personagem criado em 2004. Sinto muito, este texto não terá spoilers.
Mas, em se tratando do seriado médico mais detetivesco da história da televisão americana, pistas são permitidas. Quiçá quem melhor matou a charada de “House” foi Margaret Lyons, da revista “New York”. Ao contrário dos anti-heróis do momento, de Dexter, do Walter White de “Breaking Bad” e até mesmo do Don Draper de “Mad Men”, House, ela celebra, não se transforma, não pede desculpas jamais por suas incoerências, não vai passar, nesta altura do campeonato, a acreditar na sinceridade humana. Não, até o último capítulo, para ele, todo mundo mente. O tempo todo. “Este é o episódio de número 177 e encontramos House onde ele sempre esteve: como o sujeito triste, rabugento, abusivo verbalmente e, em sua maior parte, solitário. Quem é que diz que as pessoas não mudam nunca? Ah, pois é, o House!”, ela escreve.
Não há casamentos, mas um velório em “House”. Um memorial às avessas, uma ode ao humor que permeou toda a série, até mesmo em seus momentos mais repetitivos e esquemáticos. E como diz uma certa personagem no fim, a morte, aqui, não é jamais uma punição, mas renascimento. Fica a dica: ri por último quem vê “House” até o fim, com direito a mensagens rabugentas do que parece ser o além.