Cheias de Charme

De "Roque Santeiro" a "Cheias de Charme", papeis de empregadas levam atrizes ao estrelato

Renato Damião

Do UOL, no Rio

  • Divulgação/TV Globo

    Walderez de Barros, Cláudia Missura, Kátia Moraes, Ilva Ninõ e Vera Mancini: empregadas de destaque na TV

    Walderez de Barros, Cláudia Missura, Kátia Moraes, Ilva Ninõ e Vera Mancini: empregadas de destaque na TV

Embora se fale que a novela "Cheias de Charme" inovou ao colocar três empregadas domésticas como protagonistas, não é de hoje que atrizes do teatro ganham projeção na TV interpretando as tais "secretárias do lar". No ar no canal "Viva" com a reprise de "Roque Santeiro" está a subserviente e sábia Mina, interpretada por Ilva Niño, uma das primeiras do ramo a se destacar. Viver o braço direito da Viúva Porcina (Regina Duarte) fez com que a atriz seja até hoje chamada pelo nome da personagem, especialmente porque Porcina enchia os pulmões para gritar seu nome. “A Mina nunca foi esquecida, até hoje as pessoas acham que meu nome é Mina”, contou Ilva em entrevista ao UOL. Para ela, Mina era mais do que uma empregada.

“Eu não encaixo a Mina numa classe social, para mim era a relação de duas mulheres sozinhas. A Mina não tinha família, a Porcina também não. Elas tinham uma relação quase maternal. Mesmo com os atritos, elas tinham um equilíbrio”, opinou Ilva que já interpretou empregadas em outras novelas, a primeira foi em “Sem Lenço, Sem Documento”, em 1977.

O importante não é o papel social, é a função da personagem na trama

Walderez de Barros, sobre sua personagem Judite de "O Rei do Gado"

Para Walderez de Barros, a Judite de “O Rei do Gado”, não importa se a personagem é a doméstica ou a patroa. “Boa personagem é boa personagem sempre, pode ser patroa, empregada ou jardineiro. O importante não é o papel social, é o drama que ela tem, é a função da personagem na trama”, comentou. Ilva faz coro: “Nas comédias Dell’Arte, do Molière, as protagonistas eram as empregadas. Já estava na hora das novelas reconhecerem a importância delas”.

"As empregadas estão sendo olhadas com carinho", diz Vera Mancini

Recentemente, outras atrizes ganharam destaque e roubaram a cena interpretando empregadas domésticas. Em “Morde e Assopra”, Vera Mancini deu vida à divertida Cleonice e ganhou o apoio do público. “Foi a primeira vez que fiz uma empregada doméstica na TV, a personagem tinha uma inocência, uma humanidade que cativou o público”, contou Vera  que acredita que “Cheias de Charme” está sendo um “marco na televisão”.

De alguma forma as empregadas são a voz do povo dentro da trama

Vera Mancini, a Cleonice de "Morde e Assopra"

“As empregadas estão sendo olhadas com carinho, antes eles só abriam e fechavam a porta, hoje são personagens que possuem drama, têm uma boa historia. É muito bom os autores estarem dando essa abertura. Foi muito importante na minha carreira ter feito a Cleonice. De alguma forma as empregadas são a voz do povo dentro da trama, são personagens com grande identificação com o público”, elogiou.

Kátia Moraes, a Marilda de “Fina Estampa”, até hoje colhe o sucesso da parceria com Baltazar (Alexandre Nero) e Crô (Marcelo Serrado). “Um grupo de estudantes passou por mim um dia desses e gritou: 'Dá-lhe Marilda'”, contou dando risada. As caixas do supermercado também são as que mais interpelam Kátia, que revelou ainda se surpreender com o sucesso da personagem.

“Com um texto bom tudo pode acontecer, mas ainda acho surpreendente pelo fato de ser uma empregada. Geralmente essas personagens não têm esse destaque. Eu percebo que existe um preconceito no sentido de ser ‘a empregada’, acho que a realidade passa para a ficção”, opinou Kátia que no início de “Fina Estampa” fazia parte do elenco de apoio e só na terceira semana da novela no ar que teve o nome nos créditos iniciais.

"A Janaína vai tratar a empregada dela como a Carminha trata ela", revela Cláudia Missura

Ela vai reproduzir o padrão que aprendeu de ser patroa

Cláudia Missura sobre a Janaína de "Avenida Brasil"

Atualmente é Cláudia Missura  quem tem feito sucesso na pele de Janaína, a empregada desastrada e medrosa da vilã Carminha (Adriana Esteves), em “Avenida Brasil”. A atriz "tem uma relação afetiva com o tema”. Missura fez a peça “Domésticas” e em seguida a versão cinematográfica do espetáculo, dirigida por Fernando Meirelles.

“Essas pessoas [empregadas] estão nas nossas vidas e às vezes a gente não nota. As empregadas ainda são um ranço da escravidão, é nosso último elo com a escravidão. Mas hoje está mudando, é mais difícil encontrar uma empregada doméstica, elas estão estudando e realizando os sonhos delas. O nível intelectual está maior. Tenho muito carinho por essas personagens, foi através do ‘Domésticas’ que tive visibilidade no teatro e depois o filme me fez chegar até a Globo”, revelou Missura que acredita que o fascínio da personagem é a “ingenuidade” e “simplicidade”.

Nas próximas semanas de “Avenida Brasil”, a intimidade de Janaína será mostrada.  Longe da mansão de Tufão (Murilo Benício), Janaína tem um um filho que estuda em uma escola técnica e uma empregada. “A Janaína vai tratar a empregada como a Carminha trata ela. Na verdade ela não vai ser mázinha, ela vai reproduzir o padrão que aprendeu de ser patroa. Então ela vai ensinar a empregada a servir o café, como colocar o café na xícara, estou achando tudo muito interessante”, finalizou.

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